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Coruja e romance com acusado: a história real do crime de 'A Escada' da HBO

A Escada: história real envolveu trama com coruja e romance proibido Imagem: Divulgação/ HBO Max

Daniel Palomares

De Splash, em São Paulo

28/05/2022 04h00

O escritor Michael Peterson ligou para a Emergência em dezembro de 2001 ao encontrar sua mulher, Kathleen, desacordada e ensanguentada no pé da escada de sua casa nos EUA.

Embora tenha alegado que se tratava de um acidente, os ferimentos na cabeça da mulher apontavam para um assassinato. É esse crime que remonta a nova minissérie da HBO, "A Escada", com Colin Firth, Juliette Binoche e Toni Collette no elenco.

Se as coisas parecem absurdas na ficção, a vida real vem mostrar que pode ser ainda mais inacreditável. Passados mais de 20 anos desde a morte de Kathleen, como o caso se desdobrou ao longo das últimas décadas?

Bissexualidade

Sendo o único presente na casa quando sua mulher morreu, Michael se tornou o principal suspeito. A desconfiança em torno dele aumentou quando foi revelado que ele era bissexual e se correspondia com outros homens durante o casamento.

A acusação defendeu que Kathleen teria descoberto que seu marido vivia uma vida dupla e por isso, ele a teria matado.

A Escada Imagem: HBO Max

Maníaco da escada

Enquanto viveu na Alemanha com sua primeira esposa, Michael Peterson fez amizade com Elizabeth Ratliff, mulher americana que também foi encontrada morta no pé de uma escada com ferimentos na cabeça em 1985. Michael havia sido a última pessoa a ver Elizabeth com vida na Alemanha.

Diante das curiosas evidências, a promotoria pediu, durante o julgamento, que o corpo de Elizabeth fosse exumado para uma segunda autópsia que concluiu que a morte da mulher também tinha sido um homicídio. Alguns jornais da época, então, passaram a se referir a Michael como o "maníaco da escada".

Apesar de não acusarem Michael de mais um crime, os advogados apostaram na ideia de que a primeira morte teria servido de "inspiração" para o ataque contra sua esposa.

Em 2003, quase dois anos após a morte de Kathleen, o autor foi condenado à prisão perpétua sem chance de liberdade condicional, mesmo não tendo se declarado culpado.

Coruja

Ao longo dos anos de prisão, a defesa de Michael entrou com diversos recursos, sem sucesso, para tentar sua libertação. Em 2009, uma tentativa fora da equipe de defesa chamou atenção.

Um advogado e vizinho de Michael, não envolvido no caso, sugeriu para os investigadores que a morte de Kathleen poderia ter sido causada pelo ataque de uma coruja, fazendo com que a mulher caísse na escada.

Entre as evidências recolhidas na cena do crime, estavam listadas três penas microscópicas de coruja. O vizinho defendeu que se o júri tivesse visto tais evidências, poderia ter mudado sua decisão no caso. Teoria refutada.

Liberdade

Quando Duane Deaver, investigador e uma das principais testemunhas contra Michael, foi suspenso e depois demitido da polícia por conduta inadequada em diversas investigações, o autor conseguiu se aproximar de sua liberdade.

Em dezembro de 2011, Michael foi colocado em prisão domiciliar após pagar fiança de U$ 300 mil (cerca de R$ 540 mil na época).

Novos julgamentos foram marcados para 2014 e depois para 2017, quando Michael conseguiu um acordo. O autor entrou com uma petição de Alford, uma admissão de culpa diante de evidências suficientes para condená-lo, mas ainda se declarando inocente. O juiz o sentenciou a 86 meses de prisão, com crédito pelo tempo que ele já havia cumprido. Como Michael já havia passado 93 meses preso, ele foi libertado.

Relação proibida

A história conturbada de Michael e Kathleen chamou a atenção de documentaristas franceses que produziram a série "The Staircase", disponível na Netflix. A francesa Sophie Brunet, uma das editoras das centenas de horas de entrevistas e gravações para o documentário, acabou se apaixonando por Michael mesmo sem conhecê-lo pessoalmente.

Após sua condenação, entre 2004 e 2008, Sophie visitou Michael na prisão nos EUA pelo menos 17 vezes e o romance entre os dois se manteve secreto por anos. "Aceitei aquele momento como um milagre, a prova de que ainda fazia parte da humanidade", relembrou o autor ao Le Monde. Os dois ficaram juntos até 2017.

Traição?

Jean-Xavier de Lestrade, diretor da série documental, deu o aval para que a série ficcional da HBO fosse produzida com base em seu material, mas revelou seu descontentamento com o produto final. "Sinto que fui traído de alguma forma", lamentou em entrevista à Vanity Fair.

O diretor reforça que o romance entre Sophie e Michael não interferiu na edição dos episódios da série, mas é sabido que, quando a última leva de episódios foi gravada (e editada por Sophie), ela e o autor já viviam uma história de amor, o que geraria um conflito de interesses na criação do documentário.

"Nunca cortaria nada que prejudicasse Michael da edição. Respeito muito meu trabalho para pensar em fazer isso", concluiu Sophie para a Vanity Fair.

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