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William Hurt foi sequestrado em SP quando fazia 'O Beijo da Mulher-Aranha'

William Hurt em cena do filme "O Beijo da Mulher-Aranha" - Divulgação
William Hurt em cena do filme 'O Beijo da Mulher-Aranha' Imagem: Divulgação

Renata Nogueira

De Splash, em São Paulo

13/03/2022 19h32

O ator William Hurt, que morreu hoje de causas naturais aos 71 anos, lembrou em uma entrevista à rádio pública dos Estados Unidos, em 2010, que foi sequestrado no Brasil enquanto gravava o filme "O Beijo da Mulher-Aranha", nos anos 1980.

O ator que protagonizou o filme de Hector Babenco ao lado de Sonia Braga falava sobre perrengues que já tinha enfrentado em filmagens e contou a história para o apresentador do programa de rádio.

"Fui feito refém em uma noite escura em um lugar ao sul de São Paulo. Tinha um cara com uma arma dentro do meu bolso. Ele ia explodir meus genitais. E então, depois de uma hora, ele nos disse para ficar de frente para a parede, e tínhamos certeza de que ele ia atirar em nós."

O "nós", no caso, era o ator americano e uma brasileira com que ele estava saindo. O sequestro aconteceu quando ele teve alguns dias de folga das filmagens e resolveu ir conhecer os pais da moça que moravam em um local mais distante, provavelmente em uma das cidades que ficam na Grande São Paulo.

O filme, lançado em 1985, foi gravado no centro de São Paulo. Entre as locações estão o Elevado Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão, a Praça da Sé, onde fica o marco zero da cidade, a estação de metrô da Sé, o Pátio do Colégio, onde São Paulo foi fundada, e também a estação Bresser-Mooca.

Como aconteceu o sequestro?

Mesmo após 25 anos do susto, William Hurt lembrou com detalhes a violência que sofreu no Brasil. Segundo o ator, os bandidos os abordaram assim que ele estacionou o carro na garagem dos pais da moça. Passava da meia-noite e um carro parou atrás do deles com dois homens e duas moças.

"Um dos caras tinha o rosto coberto por uma touca preta, o outro só tentava esconder o rosto. Eles provavelmente já estavam nos seguindo."

Como o assaltante falava em português, a moça que estava com William ainda tentou enganá-lo dizendo que eles estavam apenas pedindo informações, mas logo eles mostraram que estavam armados. O grupo invadiu a casa e carregou o carro com os bens dos pais da moça. Segundo Hurt, eles ficaram reféns por aproximadamente uma hora.

"Cheguei a pensar que o cara ia puxar o gatilho. Dava para ver as balas, não era um revólver falso. Eu e ele ficamos nos encarando por cerca de uma hora, dava para ver os olhos dele através da máscara."

Ao final do assalto, os bandidos fizeram as vítimas virarem de costas e olhares para a parede. "Ele ia atirar em nós, então eu disse que não. Se eu fosse morrer naquele momento, queria estar olhando nos olhos de outro ser humano, mesmo que fosse o dele."

Ao falar em inglês com o assaltante, William Hurt o deixou ainda mais irritado. "Ele bateu com a arma na minha testa com toda a força e gritou comigo em português. Nós dois caímos no chão e o rosto dele ficou a poucos centímetros do meu."

Depois do desentendimento, os bandidos saíram e pediram para que eles não chamassem a polícia, senão voltariam e dariam um jeito de matar eles.

A família da moça acabou chamando a polícia e Hurt soube que o grupo foi capturado no outro dia e uma das mulheres que estava com os assaltantes foi baleada e morta no confronto.

William Hurt ainda disse que foi proibido de falar sobre o caso, já que poderia prejudicar as filmagens de "O Beijo da Mulher-Aranha". A equipe não queria atrair a atenção da mídia para o caso de violência sofrido pelo ator norte-americano e ser acusada de irresponsabilidade. O ator concordou, pois também não queria expor a moça com quem estava saindo.