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Reddy Allor desmanchou dupla com o irmão para virar drag queen do sertanejo

Reddy Allor, a drag queen do sertanejo - Guilherme Martinez/Divulgação
Reddy Allor, a drag queen do sertanejo Imagem: Guilherme Martinez/Divulgação

Renata Nogueira

De Splash, em São Paulo

12/03/2022 04h00

As drag queens ganhando as paradas musicais brasileiras não são novidade. De Pabllo Vittar a Glória Groove, as artistas dominaram a cena pop nos últimos anos. Foi assim que Guilherme Bernardes Duarte viu que era possível chegar mais longe com sua Reddy Allor — e inovar investindo no sertanejo.

Desde criança, Guilherme cantava o gênero com o irmão, Gabriel. A dupla cresceu no interior de São Paulo e já tinha uma carreira quando ele foi tocado pelo trabalho de Pabllo Vittar, em 2015. O cantor, que já era profissional, passou a se montar como drag queen em festas com amigos e shows paralelos aos que fazia com a dupla. Nascia aí Reddy Allor.

"Quando eu encontrei a arte drag e comecei a me montar, eu ainda fazia shows com a dupla porque trabalhávamos com aquilo havia muito tempo e já tinha uma agenda para atender", lembra Reddy, que deu entrevista montada a Splash.

A cantora lançou ontem o clipe de "Álcool Estima", sua primeira música de trabalho de 2022. A letra é de Gah Bernardes, seu irmão, que também seguiu carreira solo depois que a dupla sertaneja deles acabou.

O fim da dupla não foi um momento fácil. Com as agendas de Reddy batendo com as de Guilherme e Gabriel, os irmãos entenderam que era melhor cada um seguir o seu caminho. O próximo passo — e mais difícil — seria avisar a família sobre a decisão.

"Para mim era um peso. Achava que ia acabar com a carreira do meu irmão, acabar com o sonho dos meus pais. Eles tinham o sonho de ver uma dupla, os filhos famosos igual Zezé Di Camargo e Luciano", lembra Reddy.

O começo não foi tranquilo. Ou melhor, o recomeço. "Quando eu comecei a fazer drag todo mundo sumiu. Me senti completamente sozinha. Passar por todos aqueles processos, da mesma forma que fiz com a dupla, só que dez anos depois. Tive de voltar do zero."

Além da falta de apoio da família, que não aceitou bem a mudança no início, Reddy precisava se encontrar novamente como artista. "Quando eu me assumi foi um processo muito difícil para eu me entender, por estar dentro do sertanejo e não ter outras referências. Onde era o meu lugar, o que era o meu discurso."

reddy allor - Guilherme Martinez/Divulgação - Guilherme Martinez/Divulgação
Reddy Allor tem 7 singles e um EP lançados na carreira como drag queen do sertanejo
Imagem: Guilherme Martinez/Divulgação

Seguindo os passos de outras drags que eram referência para ela, a cantora tentou investir no pop, mas logo percebeu que aquele não era o melhor caminho. "Foi quando eu comecei a entender que as minhas referências eram completamente do sertanejo e que eu amava fazer isso, por mais que o sertanejo não estivesse completamente aberto a me receber como artista", conta.

Cantando novamente o gênero que ela cresceu ouvindo e sempre amou, Reddy reconquistou parte do público e também a família. "No começo foi bem difícil. Teve um processo de distanciamento. Depois a gente foi se conectando e ainda é um processo todos os dias. A gente sempre tem a evoluir e hoje eles apoiam", comemora.

Prova disso é que seu irmão, hoje uma referência, nunca soltou sua mão. No final do ano passado Gah Bernardes e Reddy Allor gravaram uma música em parceria, "Voz da Experiência", que já soma quase 1,5 milhão de visualizações só no YouTube. Com a recém-lançada "Álcool Estima", a drag soma sete singles desde 2019 e um EP —"Ascensão"— lançado em 2021.

Quando ainda eram a dupla Guilherme e Gabriel, os irmãos chegaram a subir para cantar no palco com Henrique e Juliano e abrir um show para o cantor Gusttavo Lima. Hoje Reddy sonha em reconquistar esses palcos, além de criar seu próprio público.

"Eu me vejo muito no futuro fazendo feat com o Luan Santana, cantando com Henrique e Juliano de novo. Ter uma drag nesse lugar é completamente único e necessário para que realmente essa evolução aconteça. Para que não tenha esse peso de uma drag queen no sertanejo. É só mais uma pessoa que é uma sertaneja fazendo o que ama."