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Shantal Verdelho revela que médico insistiu em remédio que podia matá-la

Colaboração para Splash, em São Paulo

09/01/2022 23h32Atualizada em 10/01/2022 13h32

Shantal Verdelho, de 32 anos, voltou a falar sobre a violência obstétrica sofrida enquanto estava sob os cuidados do médico Renato Kalil. Em entrevista ao "Fantástico", a influenciadora explicou a demora para realizar a denúncia. "Não queria a imagem da minha filha exposta desse jeito, porque a chegada dela foi horrível", iniciou.

Shantal contou também que o trabalho de parto levou 48 horas, mas que a situação apenas ficou ruim com a chegada do profissional. "Entrei em trabalho de parto, fiquei em casa tendo os primeiros sinais, as primeiras contrações. No hospital, foram aproximadamente 12 horas. Ele chegou nas duas horas finais, muito apressado e foi quando mudou o clima do parto. Eu não entendia aquela pressa", relatou Shantal.

Segundo Verdelho, por falta de dilatação, Kalil ainda tentou obrigá-la a tomar um medicamento. "Eu não estava tendo dilatação e, para isso, ele propôs o uso do remédio mais de uma vez, o misoprostol. Mas eu sabia que existia risco de morte para quem teve uma cesariana anterior, e eu tinha", narrou.

O médico ainda teria sugerido uma episiotomia, procedimento em que se faz um corte no períneo para facilitar a saída do bebê. Em entrevista ao folhetim, um representante da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, citou que a prática é efetiva, porém, deve ser evitada pelos danos que são causados à paciente.

No vídeo exibido pelo "Fantástico" é possível ver Shantal demonstrando dor ao ser submetida ao procedimento em questão. "Ele ficava insistindo para o Matheus, para fazer a episiotomia, num tom de 'vai rasgar aqui', 'é melhor eu dar uma cortadinha aqui'. Ele ficava falando isso para o Matheus como se eu não estivesse ali. Não tinha a menor necessidade de ele tentar me rasgar com as mãos e isso foi feito várias vezes. Ele passa o parto inteiro fazendo o movimento com a minha vagina, tentando abrir, com as mãos, já que não teve o corte", revelou ela.

"Minha barriga foi pressionada desde quando ele chegou. Ele pede para uma médica da equipe dele fazer, depois pede para o anestesista fazer, porque ele era mais forte. Eu reclamei que estava doendo. Ele coloca o corpo inteiro em cima da minha barriga e ainda faz força", continua ela.

Apesar do trauma, Shantal Verdelho alega que quer ressignificar o episódio. "Fiquei muito abalada emocionalmente quando aconteceu. Eu fui lá para o fundo do poço e agora estou ficando forte. Estou ressignificando a história e, talvez, eu consiga salvar várias mulheres", encerrou ela.

Em nota, a equipe do médico Renato Kalil informou que ele "lamenta profundamente que um caso médico venha sendo discutido por meio da mídia e das redes sociais, com base em pequenos trechos editados de um vídeo".

"Em razão de normas éticas e sigilo profissional, dr. Renato Kalil não pode se manifestar publicamente quanto aos detalhes técnicos do parto em questão, o que será feito, devidamente, no foro adequado. Em função dos questionamentos, esclarece que o medicamento citado não foi prescrito nem ministrado e que os procedimentos obstétricos seguiram todo o rigor técnico-ético-científico, como será comprovado no transcorrer dos processos".

O comunicado ainda ressalta que Kalil não praticou violência obstétrica. "A edição dos vídeos e das falas induzem a erro de interpretação do que verdadeiramente ocorreu. Falam por ele os inúmeros partos e milhares de pacientes atendidas ao longo de sua carreira. Por fim, dr. Renato Kalil espera um debate técnico e sereno a ser efetivado nos órgãos próprios, onde demonstrará a correção de suas condutas médicas e profissionais".

Entenda o caso

Em de dezembro de 2021, vazou um áudio de Shantal Verdelho alegando ter sido vítima de violência obstétrica durante o parto de Domenica, sua caçula do relacionamento com Mateus Verdelho. Após a repercussão, a influenciadora revelou em suas redes que registrou um boletim de ocorrência contra o médico Renata Kalil por violência obstétrica.

No áudio vazado, Shantal falava sobre os supostos abusos sofridos durante o parto. "Descobri que ele falou da minha vagina para outras pessoas. Tipo, 'ficou arregaçada, se não tiver episiotomia, você vai ficar igual'. Ele quebrou o sigilo médico. Minha irmã descobriu [o sexo do bebê] pelo Instagram", narrou a influenciadora no arquivo sonoro.

No mesmo áudio, Shantal ainda revela que existem imagens de toda ação. "Simplesmente, quando a gente assistia ao vídeo do parto, ele me xingava o trabalho de parto inteiro. Fala: 'P*rra, faz força. Filha da mãe, ela não faz força direito. Viadinha. Que ódio. Não se mexe'", disse ela, que emendou. "Depois que vi tudo, foi horrível".

Após o relato de Shantal, outras mulheres vieram a público falar sobre suas respectivas experiências com Renato Kalil, de ex-funcionária a ex-paciente. A jornalista Samantha Pearson, por exemplo, definiu o contato com o ginecologista como "traumatizante". "Ele olhou, para mim, e disse: 'seu marido é bonitão e se você não emagrecer ele vai te trair'. Eu me senti super humilhada, essa que é a palavra, ele me fez sentir humilhada várias vezes", disse a jornalista, em entrevista ao SP1.

Ainda em dezembro de 2021, o Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais do MP-SP pediu outra investigação contra Kalil, desta vez, a respeito da acusação de Samantha Pearson. Ao todo, de acordo com o órgão, foram identificadas três suspeitas de crimes contra pacientes envolvendo dano psicológico, imagens com nudez e injúria. À época, em comunicado à imprensa, o ginecologista negou as acusações.