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'Lamento a truculência', diz repórter após ataque de equipe de Bolsonaro

Camila Marinho sofreu "mata-leão" de um segurança e teve pochete arrancada por apoiador - Reprodução/Instagram
Camila Marinho sofreu 'mata-leão' de um segurança e teve pochete arrancada por apoiador Imagem: Reprodução/Instagram

De Splash, em São Paulo

13/12/2021 08h40Atualizada em 13/12/2021 08h40

A jornalista da TV Bahia Camila Marinho repudiou o ataque sofrido ontem durante visita do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas áreas alagadas do extremo sul da Bahia.

A repórter da afiliada da Globo teve a espuma do microfone rasgada por um apoiador e a pochete arrancada por outro. Segundo a GloboNews, um segurança teria aplicada um golpe de "mata-leão" na jornalista".

No Instagram, ela reafirmou o direito à liberdade de imprensa, reforçada na Constituição Federal através do Artigo 220. A jornalista agradeceu as demonstrações de apoio.

Camila publicou a foto da espuma do microfone após as agressões.

Nenhuma ameaça nos tira da nossa missão de informar. Só lamento a truculência, o ódio e a covardia dos que se acham melhores e acima de tudo e de todos. Somos trabalhadores exercendo o nosso papel: jornalistas em busca dos fatos e da verdade. Mas antes de tudo somos seres humanos. E o mínimo que queremos é respeito. Camila Marinho

Os repórteres Xico Lopes e Dário Cerqueira da TV Aratu, afiliada do SBT, também teriam sido agredidos.

De acordo com a GloboNews, somente após o tumulto a assessoria de imprensa da Presidência chamou os repórteres dos dois veículos para a sala de comando da operação, dentro de uma escola do local.

Um dos integrantes da segurança teria se desculpado.

Camila Marinho - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Camila Marinho é repórter e apresentadora da TV Bahia, afiliada da Globo na região
Imagem: Reprodução/Instagram

A Globo divulgou nota rechaçando as agressões e pedindo um posicionamento da Procuradoria-Geral da República sobre uma ação da Rede Sustentabilidade em que proíbe o presidente Jair Bolsonaro de atacar ou incentivar ataques verbais ou físicos à imprensa.

"As agressões desse domingo mostram que já passou da hora de a Procuradoria Geral da República dar o seu parecer na ação que corre no Supremo tendo como relator o ministro Dias Toffoli. A Imprensa cumpre um direito inscrito na Constituição e deve ter a sua segurança garantida. As cenas bárbaras de hoje e aquelas ocorridas na Itália, em outubro, ensejam duas constatações. Se os seguranças agem por contra própria, a Presidência deve ser responsabilizada por omissão. Se agem seguindo ordens superiores, a Presidência deve ser responsabilizada por atentar contra a liberdade de imprensa e fomentar a violência contra jornalistas", informou.

A emissora completou o posicionamento: "Além disso, é escandalosa a atitude da Presidência de eixar jornalistas à própria sorte, em meio a apoiadores fanáticos, que são insuflados quase diariamente pelo próprio presidente em sua retórica contra o trabalho da imprensa. Frente aos evidentes e graves riscos enfrentados por repórteres de todos os veículos, é urgente que o Judiciário se pronuncie. A Globo repudia as agressões aos repórteres Camila Marinho e Cleriston Santana, da TV Bahia, e aos repórteres Xico Lopes e Dário Cerqueira, da TV Aratu, e se solidariza com eles."

Camila Marinho - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Equipe da TV Bahia é agredida por seguranças e apoiadores de Bolsonaro
Imagem: Reprodução/TV Globo

O ano passado foi marcado como o mais violento para jornalistas brasileiros desde quando a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) passou a contabilizar os índices de violência contra profissionais da imprensa.

O relatório registrou 428 casos de violência contra jornalistas em 2020. O principal agressor de jornalistas, segundo o levantamento, é o presidente Jair Bolsonaro (PL).

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) realizou estudo este ano em que dos 335 ataques direcionados a profissionais da imprensa entre janeiro e outubro, 23,3% usavam o gênero, a sexualidade ou a orientação sexual para a agressão.

O governador da Bahia Rui Costa (PT) lamentou as agressões através das redes sociais.