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Com tentativas de mudanças, Miss Universo chega na 70ª edição, em Israel

A cearense Teresa Santos, Miss Brasil 2021, durante desfile em traje de banho na competição preliminar do Miss Universo 2021, realizada na última sexta (10) - Benjamin Askinas/ Miss Universe Organization
A cearense Teresa Santos, Miss Brasil 2021, durante desfile em traje de banho na competição preliminar do Miss Universo 2021, realizada na última sexta (10) Imagem: Benjamin Askinas/ Miss Universe Organization

Caio Santana

De Splash, em São Paulo

12/12/2021 04h00Atualizada em 12/12/2021 15h29

A grande final do Miss Universo 2021 vai ocorrer na noite deste domingo às 21 horas, horário de Brasília, diretamente de Éilat, em Israel. Em sua segunda edição na pandemia e entregando o reinado mais curto da história de uma vencedora, o da mexicana Andrea Meza, Miss Universo 2020 eleita em maio, o concurso que se reformulou nos últimos anos chega à sua 70ª edição com suas tradicionais favoritas em Israel, país que apostou na divulgação do turismo nacional.

"A pandemia afetou bastante os concursos no sentido de escancarar suas necessidades financeiras. A gente sabe que é um grande negócio, e todo mundo precisa de dinheiro", afirma o administrador de empresas Tarcísio Filho, que acompanha concursos de miss desde 2002 e com mais afinco a partir de 2006, em entrevista para Splash. Contudo, a ida do Miss Universo para Israel gerou certa controvérsia.

A premissa do governo israelense sempre foi expandir e mostrar as belezas naturais do país para um público que poderia estender viagens ao Egito ou Emirados Árabes para lá. O Miss Universo anunciou a sede em julho concomitantemente com o Ministério do Turismo do país. Mesmo com o ineditismo de ser o primeiro concurso no Oriente Médio, houve boicote de países como Indonésia, devido à questão da Palestina.

"Realizar o concurso lá foi arriscado, devido às questões diplomáticas, pois há muitos países que não se relacionam com Israel, a exemplo da Indonésia, que não enviaram candidatas", declara Manoela Staub, funcionária pública e administradora do perfil "The Perfect Miss Brasil" junto com o gaúcho Thyerry Rossales.

"O concurso conseguiu lidar muito bem com isso. E tem aberto portas, você vê a cada ano a presença de países inéditos, estando ou não envolvidas com condições políticas nada favoráveis", avalia o especialista de biotecnologia, João Ricardo Dias, moderador do Miss Brazil On Board, fórum online surgido em 2004, o primeiro em língua portuguesa no mundo.

Quem vence o Miss Universo?

"Uma mulher carismática, uma mulher que possa gerenciar suas redes sociais e que possa ser acessível a todo mundo, que seja empática com causas sociais. Em definitivo, uma mulher empoderada que possa ser exemplo para garotas e garotos que vão ser parte ou fãs do Miss Universo", responde o professor Jesús Hernández, venezuelano que vive na Argentina e administra o Arquitecto de Misses junto com o marido, Cergio Varela, um dos maiores perfis dedicados ao mundo miss no Instagram com 311 mil seguidores.

As fontes ouvidas por Splash são quase unânimes em reconhecer que o concurso preza por uma boa comunicação, principalmente considerando que a eleita também será voz para diversas causas. "Não acredito que tenha um perfil do tipo loira, morena, alta, baixa. Sem dúvida alguma eles querem uma comunicadora que consiga se comunicar bem e com diferentes tipos de pessoas", pontua Júlia Horta, jornalista e Miss Brasil 2019 que foi Top 20 do Miss Universo 2019.

"É uma plataforma que proporciona uma gama de oportunidades, entre elas usar essa visibilidade para dar voz às causas que acreditam, conscientizar sobre temas importantes", complementa Nadini Falcão, brasileira com cidadania portuguesa e fã de concursos, que representou Portugal no Miss Supranational 2021.

Já Tarcísio Filho e João Ricardo concordam sobre não haver um perfil específico ou busca por alguma candidata que cumpra check list para conviver com eles durante um ano, pois eles mudam suas preferências, seja para agradar os públicos que acompanham os concursos, sobretudo os latinos e asiáticos, seja até mesmo pelo reconhecimento de organizações empenhadas em obter a vitória.

"O Miss Universo busca primeiramente um país com uma coordenação forte. A miss tem que ser competitiva, mas precisa dessa organização forte por trás", afirma Filho. Neste ano, com exceção das candidatas do Paraguai e Bélgica, todas as outras representantes bem faladas possuem coordenações nacionais que investem no concurso: como o próprio Brasil, Porto Rico, Colômbia, Índia, Tailândia, Vietnã e França.

foto 1 - Miss Universe Organization - Miss Universe Organization
Harnaaz Sandhu, Miss Índia 2021
Imagem: Miss Universe Organization

Novos tempos, novo concurso

Presente no imaginário popular há pelo menos sete décadas, os concursos de beleza contribuíram por muitos anos para o reforço de padrões estéticos.

Hoje, porém, regulamentos estão sendo alterados, mesmo que insuficientes para serem ainda mais abrangentes, como o Miss Germany, concurso alemão que aceita mães, casadas e mulheres de até 39 anos. Dos maiores internacionais, o limite de idade do Miss Universo varia de 27 para 28 anos em algumas edições e a mulher não pode ser casada ou ter filhos.

Ainda assim, os lentos avanços existem. "O Miss Universo é uma das poucas organizações que está começando a pensar no rompimento desse padrão imposto pela sociedade. Em 2018 tivemos a primeira mulher trans a competir no Miss Universo [com Angela Poncé, da Espanha]", lembra o social media Lucas Sigarini, criador da página Road To Miss USA.

foto 1 - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Miss Teen EUA 2019, Kaliegh Garris; Miss Universo 2019, Zozibini Tunzi; Miss EUA 2019, Cheslie Kryst
Imagem: Reprodução/Instagram

"Já em 2019 tivemos o primeiro trio de mulheres negras coroadas pela mesma organização [The Miss Universe Organization, desde 2015, após venda de Donald Trump para a IMG] e isso gerou um impacto muito grande na comunidade negra ao redor do mundo", ressalta ele, se referindo à Miss Universo 2019, Zozibini Tunzi, à Miss EUA 2019, Cheslie Kryst, e à Miss Teen EUA 2019, Kaliegh Garris.

"Os concursos de belezas estão mudando para se adaptarem à nova sociedade e poder sobreviver a essa nova era de mudanças gerais no mundo", reconhece Jesús Hernández. A própria questão da sede em Israel possibilita a criação de debate sobre variados temas importantes.

"Temas político-sociais são introduzidos nos concursos de beleza. Inclusive vemos, saindo um pouco do Miss Universo, que no Miss Grand International 2021 a candidata brasileira [Lorena Rodrigues] denunciou o presidente Jair Bolsonaro e disse que ele não estava fazendo seu trabalho. Os concursos estão mudando, os temas políticos estão inclusos nos certames", explica.

As favoritas e o Brasil

"Essas mulheres que sobem no palco do Miss Universo transformam suas vidas, a de suas famílias e comunidades. Impactam a vida de milhares de fãs, e de fato geram transformação", declara Júlia Horta, que era uma das mais citadas para vencer o Miss Universo em 2019.

"Entre as candidatas fortes que estão se destacando nesta edição vemos a Bélgica, que subiu como espuma. Uma mulher com uma história de vida incrível", avalia Hernández. A Miss Bélgica, Kedist Deltour, nasceu na Etiópia, sobreviveu a um ataque a bomba, morou na rua quando criança, perdeu a mãe e foi adotada com os irmãos por um casal belga.

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Kedist Deltour, Miss Bélgica 2021
Imagem: Miss Universe Organization

Tarcísio Filho acredita que o concurso pode ir para esse lado mais familiar, considerando a multiculturalidade. Para ele, a vencedora precisa estar entre esses sete países: Bélgica, Porto Rico, Espanha, Índia, EUA, Colômbia e Paraguai. "Mas acho que apostar na paraguaia, que foi indicada [ou seja, não teve concurso], é um pouco arriscado", confessa.

Quanto ao Brasil, João Ricardo acredita que o Miss Universo esteja procurando um perfil mais clássico, de gestos, atitudes, de cortes mais suaves, e, com isso, a brasileira pode ser favorecida. "Faz tempo que não temos uma Miss Universo loira".

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Teresa Santos, Miss Brasil Universo 2021
Imagem: Reprodução/ Instagram @teresabsantos

Sem vencer o Miss Universo desde 1968, o Brasil viveu o quase "tricampeonato" apenas três vezes: nas edições de 1972, 2007 e 2020. Sigarini diz que faltou às organizações nesse período entender o que o Miss Universo queria. "A gente teve mulheres incrivelmente lindas representando o Brasil nos últimos anos e creio que a falta de preparação foi algo que pesou muito. Acredito sim na vitória do Brasil esse ano", conclui.

O concurso possui como emissoras oficiais a Telemundo e a Fox TV, que não possuem transmissão no Brasil. Para quem quiser assistir, ele será transmitido pela internet no canal do Miss Universo no YouTube, a partir das 21h, e também no serviço de streaming DirecTVGo.

Confira a seguir o Top 16 enviado para Splash de três páginas que tiveram representantes nesta matéria:

Top 16 Miss Universo - Arquitecto de Misses: Paraguai, Índia, Porto Rico, Venezuela, Vietnã, Colômbia, Brasil, Bélgica, Espanha, EUA, Chile, República Dominicana, França, Namíbia, Israel, Peru, República Tcheca.

Top 16 Miss Universo - Road To Miss USA: Índia, Brasil, Colômbia, USA, Paraguay, Puerto Rico, Spain, França, Bélgica, Vietnã, Namíbia, África do Sul, Nigéria, Honduras, Austrália e Costa Rica.

Top 16 Miss Universo - The Perfect Miss Brasil: Índia, Porto Rico, Estados Unidos, Colômbia, França, Brasil, Paraguai, Quênia, Bélgica, Venezuela, África do Sul, Chile, Nepal, Panamá, Curaçao, Nigéria.