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Filipe Ret critica ausência de rappers no Prêmio Multishow: 'Não é honesta'

De Splash, em São Paulo

09/12/2021 12h37Atualizada em 09/12/2021 19h59

O cantor Filipe Ret criticou o Multishow pela falta de nomes importantes do rap e do trap — vertente do ritmo que aborda problemas sociais, mas a ascensão e o lazer social — nas indicações do Prêmio Multishow de ontem. Em contato com Splash, o canal afirmou que tenta dar espaço para todas as vertentes musicais.

O ritmo foi lembrado apenas com Emicida (melhor cantor), L7nnon (experimente), Xamã (hit do ano com Ludmilla e Dennis DJ) e Kevin, O Chris (hit do ano).

Contudo, o número de quatro artistas não foi o suficiente para representar os estilos musicais e os fãs, de acordo com Filipe Ret.

Cadê Orochi, Djonga, Matuê, [MC] Poze do Rodo, Teto, DomLaike, Flora, Hariel, MD Chefe, BK, Cabelinho, TZ e outros moleques geniais que enchem de verdade as casas de shows? Filipe Ret

Filipe Ret - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
FIlipe Ret aponta nomes do trap e do rap nacional que ficaram de fora do 'Prêmio Multishow'
Imagem: Reprodução/Instagram

O músico deixou claro que respeita todas as indicações e ganhadores anunciados ontem, mas que o incômodo com a subrepresentação — e a falta dela — não pode passar desapercebido.

O rap, o trap e o funk, por muitos anos, foi colocado em um espaço marginalizado e de criminalização por parte da sociedade, processo visto no samba anteriormente. Os ritmos vêm de uma origem negra e das periferias aqui no Brasil.

"Não existe premiação musical brasileira honesta sem uma parcela considerável de rappers/trappers. Quem perde esses artistas autênticos são vocês", criticou Ret.

Presença do trap

Trap - Reprodução - Reprodução
Orochi e MC Cabelinho no clipe de Poesia Acústica 10
Imagem: Reprodução

O trap foi responsável por lançar produtores e beatmakers — além de artistas internacionais, como Cardi B —, além de ter tido um aumento de 50% no consumo de música entre 2016 a 2019.

Os artistas citados por Ret têm juntos mais de 30 milhões de seguidores apenas no Instagram. Orochi lançou "Lobo", que conta com a faixa ítulo com Poze do Rodo. A música tem mais de 27 milhões de visualizações.

Cabelinho emplacou, este ano, 10 milhões de views em "Outro Patamar". O rapper Djonga lançou o álbum "Nu" e teve as canções e a carreira exaltada por Mano Brown no "Mano a Mano".

"Rei Lacoste", feita por DomLaike e MD Chefe tem mais de 54 milhões de visualizações no YouTube.

Sucesso com "A Queda", a rapper Glória Groove não foi indicada nas categorias.

O trap também foi versado no álbum "Cores e Valores", lá em 2014, do histórico grupo Racionais MC's, que trabalhou músicas com influência eletrônica.

Sem referência a MC Kevin

Morto em maio deste ano, MC Kevin não foi lembrado nominalmente durante a premiação. A cantora Gabily apresentou a música "Bilhete Premiado", feita com MC Kevin e MC Kevin O Chris.

Contudo, o artista não chegou a ser indicado em alguma categoria da festa.

No YouTube, o artista tem cerca de 376 milhões de visualizações nas músicas. As obras versam sobre a vida de ostentação, mas chama a atenção para desigualdades sociais e a vontade de uma vitória coletiva na vida.

Na última sexta-feira (3), Kevin teve um lançamento póstumo do álbum "Isolado no Quarto 2.0". Em maio, ele gravou "Passado e Presente" e também foi lançado postumamente.

Marília Mendonça, morta em um acidente aéreo em novembro, foi homenageada e ganhou o prêmio de cantora do ano após ação de Iza, Ivete Sangalo e Luísa Sonza.

O que diz o Multishow

Em nota enviada a Splash, o Multishow afirmou que tem como objetivo tentar representar todos os gêneros musicais. Leia abaixo a posição da organização.

Sabemos o desafio que é alcançar a representatividade ideal de todos os gêneros e continuaremos trabalhando no que for necessário para isso, essa é a nossa missão como marca através do entretenimento. Mesmo tendo a limitação de tempo de exibição, na noite de ontem a cerimônia do Prêmio Multishow mostrou ao público performances diversas levando ao ar apresentações dedicadas ao rap, funk, pop, forró, MPB, sertanejo, rock, samba, entre outros. Entre eles, por exemplo, o musical de Emicida, um dos maiores nomes do rap nacional, outro dedicado à nova geração de mulheres empoderadas com Gabily, Mc Carol, Bianca e Jojo Marontinni, entre muitas outras atrações. L7nnon concorreu à categoria Experimente e Emicida ao prêmio de Cantor do Ano. Seguimos aqui atentos e abertos para dar espaço ao nosso plural e amplo cenário da música brasileira.

Ludmilla já criticou falta de reconhecimento

Do funk,negra e bissexual, Ludmilla anunciou seu boicote ao Prêmio Multishow por não concorrer na categoria "Cantora do Ano", mesmo com o sucesso de singles e do álbum "Numanice Ao Vivo".

Uma representante das minorias, uma cantora negra, bissexual, funkeira, periférica, nunca mais fui indicada na categoria 'Cantora do Ano'. Infelizmente essa é a forma que o sistema te boicota! Mesmo eu sendo indicada em outras categorias da premiação, é nítida a falta de reconhecimento e entendimento das (poucas) premiações que temos aqui no Brasil. Ludmilla no Twitter

A organização do evento respondeu a cantora reconhecendo que os esforços para aumentar a diversidade e diminuir o racismo devem continuar e que estava longe do ideal.

O Multishow propôs que Ludmilla contribuísse para mudanças no próximo ano.

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