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'Professor' da vida real diz que 'LCDP' copiou roubo argentino de R$ 41 mi

Weslley Neto

De Splash, em São Paulo

02/12/2021 10h00

Os planos do Professor (Álvaro Morte) conquistaram fãs por todo o mundo com a série "La Casa de Papel", que terá a estreia de sua última parte na próxima sexta-feira (3). O que muitos não sabem é que uma suposta "inspiração" está marcada na história da Argentina.

Um assalto conhecido como "O Roubo do Século" aconteceu em 13 de janeiro de 2006. Lideradas pelo criador do golpe, seis pessoas entraram no Banco Río de Acassuso, província de Buenos Aires.

E a especulação sobre uma cópia partiu do próprio "Professor" da vida real. Fernando Araujo foi o líder do assalto no país sul-americano e, segundo publicação do portal argentino Infobae, em 2018, ele analisou formas de processar os produtores da série espanhola por plágio.

História contada em livro

Araujo é o autor do livro que conta a história do golpe argentino que não deixou vítimas e também zelou pela segurança dos reféns.

Segundo ele, a ideia mostrada nas primeiras temporadas de "La Casa de Papel" foi a mesma defendida por sua gangue: gerar comoção do público e ganhar tempo no banco sem deixar feridos.

O Infobae, por outro lado, indica que uma fonte da produção da série espanhola negou a inspiração. "Não existe cópia e nem nos inspiramos neste assalto. Não temos os direitos deste autor para fazer algo", divulgou o site.

Ao todo, foram sete pessoas envolvidas no roubo argentino e apenas cinco identidades foram reveladas. Além de Fernando Araujo, participaram Luis Mario Vitette Sellanes, Sebastián García Bolster, Beto de la Torre e Julián Zalloechevarría.

Quais são as semelhanças entre 'O Roubo do Século' e 'La Casa de Papel'?

Cena de "La Casa de Papel", da Netflix - Divulgação - Divulgação
Cena de "La Casa de Papel", da Netflix
Imagem: Divulgação

Armas falsas

Assim como em "La Casa de Papel", série criada por Álex Pina e dirigida por Jesús Colmenar, os assaltantes argentinos usaram armas falsas para a realização do golpe. Mas com uma importante diferença: na vida real, o plano seguiu totalmente sem uso de munições.

Na produção espanhola, também são utilizadas armas verdadeiras em confrontos com os policiais e no controle dos reféns no banco. Os itens falsos geralmente ficam com as pessoas sequestradas para confundir os policiais.

'O importante é ganhar tempo'

O tempo é valioso para "la banda" na série espanhola. O professor destaca constantemente que é importante ganhar "todo o tempo possível" para a impressão dos 196,8 milhões de euros (R$ 1,2 bilhão considerando a cotação atual).

Para isso, são várias as artimanhas utilizadas pelos personagens. Os assaltantes fazem pedidos para os reféns, geram chantagens durante as negociações com a polícia e criam planos para gerar distrações aos investigadores.

O método foi o mesmo no Banco Río, mas com objetivo diferente. O grupo argentino esvaziou 147 cofres de segurança onde os clientes guardavam objetos valiosos. O jornal El País estima que os ladrões levaram US$ 19 milhões (R$ 41,8 milhões considerando a cotação da época).

O primeiro plano

No primeiro episódio de "La Casa de Papel", Tóquio (Úrsula Corberó) e Rio (Miguel Herrán) fingem uma fuga desesperada e disparam contra policiais deixando o dinheiro porta de entrada da casa da moeda. O plano induziu os investigadores a pensarem que foi uma tentativa desastrada de deixar o local com o dinheiro.

Os assaltantes usaram um refém para simular uma saída, mas voltaram rapidamente ao interior do banco. Tudo para que os policiais entendessem que o bando era "despreparado" e não ver problemas na permanência dos golpistas.

A semelhança foi apontada por Vitette Sellanes, um dos participantes do roubo argentino, em relato ao Infobae.

La Casa de Papel - Reprodução/Netflix - Reprodução/Netflix
Imagem: Reprodução/Netflix

Características do Professor

Fernando Araujo e o personagem interpretado por Álvaro Morte teriam outras semelhanças, diz o Infobae. Chamado de "maestro", o argentino também não mantinha documentos e registros sobre a própria vida antes do golpe.

O cérebro da operação no Banco Río também é um especialista em artes marciais. Na ficção, o recurso é utilizado pelo Professor no confronto com o policial Alberto Vicuña (Miquel García Borda), ex-marido de Raquel Murillo (Itziar Ituño) durante a segunda temporada.

Professor e Raquel em cena de "La Casa de Papel" - Reprodução/Netflix - Reprodução/Netflix
Professor e Raquel em cena de "La Casa de Papel"
Imagem: Reprodução/Netflix

Presença da mídia

Constantemente, as cenas de "La Casa de Papel" destacam que o assalto tornou-se o principal assunto na Espanha durante dias, gerando a curiosidade internacional. A imprensa, que chega a entrar na casa da moeda para mostrar detalhes do golpe, cumpre uma função fundamental no plano: influenciar a opinião pública.

O mesmo aconteceu durante o assalto ao Banco Río. A cobertura das emissoras de TV argentina foram constantes nas horas em que a gangue permaneceu no banco para efetuar o golpe.

Segundo o El País, Fernando Araujo reforçava constantemente aos companheiros a importância de não haver vítimas para obter o apoio do público durante a ação.

Negociações com a polícia

Assim como acontece na série, o "roubo do século" também contou com um rosto conhecido pelos policiais. Mario Vitette, chamado de "o homem de terno cinza", foi o responsável por realizar as negociações de "cara limpa", segundo publicação da revista GQ.

O mesmo acontece na série após a identidade de Berlim (Pedro Alonso) ser revelada pela mídia. Além de atender aos jornalistas na casa da moeda, o personagem também recebe a inspetora Raquel Murillo para provar que os reféns estão bem.

Fuga por um túnel

O assalto na Argentina também se confunde com a série espanhola em sua conclusão. Os seis integrantes da gangue fugiram por um túnel construído por Sebastián García Bolster e, por todo o caminho, espalharam granadas falsas. Todos deixaram o banco com vida usando lanchas infláveis.

O personagem Moscou (Paco Tous) foi o responsável por possibilitar a saída dos assaltantes em "La Casa de Papel". Eles deixam a casa da moeda no final da 2ª temporada, momento em que Berlim morre no confronto com os policiais.

Outros dois personagens (Moscou e Oslo, o segundo interpretado por Roberto Garcia) morrem durante o primeiro assalto mostrado na série.

Moscou (Paco Tous) em cena de 'La Casa de Papel' - Reprodução/Netflix - Reprodução/Netflix
Moscou (Paco Tous) em cena de 'La Casa de Papel'
Imagem: Reprodução/Netflix

Assalto na Argentina virou filme

O livro escrito por Fernando Araujo chamou a atenção dos produtores de cinema e "O Roubo do Século" tornou-se um filme em 2020, com roteiro do idealizador do roubo em parceria com Alex Zito.

O ator Diego Peretti, de 58 anos, foi o responsável por dar vida ao "maestro" argentino na trama, que também traz os artistas Guillermo Francella e Pablo Rago no elenco.

Com direção de Ariel Winograd, o filme foi eleito o "melhor longa-metragem ibero-americano" de 2020 pelo Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e participou do festival de Málaga, na Espanha.

E depois do assalto?

Esta é a principal diferença entre o assalto ocorrido na Argentina e a trama de "La Casa de Papel". Três personagens da série morreram durante o golpe, mas os demais membros deixaram a casa da moeda com vida.

Após viverem por dois anos em diferentes países da Ásia e da América do Sul, todos retornaram para a terceira temporada, produzida pela Netflix, quando os assaltantes invadem a Banco da Espanha para resgatar Rio.

Fora da ficção, os seis integrantes da gangue na Argentina, que conseguiram permanecer 5 horas no Banco Río de Acassuso, deixaram o local com tranquilidade. Porém, todos foram presos na sequência pela polícia da Argentina.

O plano foi pensado com base em atenuantes, caso o assalto terminasse na prisão da gangue. Além de utilizarem armas falsas, eles não geraram situações que colocaram os reféns em perigo.

Beto de la Torre foi o membro do grupo que permaneceu preso por mais tempo (8 anos), diz uma reportagem do Infobae, relembrando a trajetória dos golpistas. Após o "roubo do século", eles não voltaram a ser presos por novos delitos.