Topo

Luxo, amor, ódio e morte: conheça o crime real retratado em 'Casa Gucci'

Patrizia Reggiani Martinelli, ex-mulher de Gucci, neto de Guccio Gucci [fundador da grife que leva o nome da família], sendo levada pela polícia em Milão (01/02/1997). - Reuter
Patrizia Reggiani Martinelli, ex-mulher de Gucci, neto de Guccio Gucci [fundador da grife que leva o nome da família], sendo levada pela polícia em Milão (01/02/1997). Imagem: Reuter

Ane Cristina

De Splash, em São Paulo

26/11/2021 04h00Atualizada em 26/11/2021 06h39

A chegada de "Casa Gucci" aos cinemas trouxe o assassinato de Maurizio Gucci, herdeiro da marca italiana luxuosa que dá nome à produção, de volta aos holofotes.

O filme estrelado por Lady Gaga e Adam Driver reconta o crime que aconteceu há mais de 25 anos e chocou a Itália. Saiba mais:

Patrizia e Maurizio

Os dois tinham 20 anos quando se conheceram em uma festa da elite em Milão. O neto do fundador da Casa Gucci não escondeu o interesse em Patrizia Reggiani e o casal logo iniciou um relacionamento.

O casamento veio quatro anos depois, em 1972. Eles tiveram duas filhas, Allessandra e Alegra, e decidiram pelo divórcio em 1985. A separação, no entanto, não foi nada amigável.

Em entrevista ao programa italiano "Storie Maledette", Patrizia afirmou que foi abandonada repentinamente por Maurizio, que teria ido a uma viagem de trabalho e nunca mais voltado.

Outra situação que a fez guardar rancor do ex foi o fato de ele não visitá-la após Patrizia passar por uma cirurgia delicada para a retirada de um tumor no cérebro em 1992, quando os dois já estavam separados.

Para "piorar", na ocasião, a socialite descobriu que Maurizio estava namorando uma mulher 10 anos mais jovem.

Denúncia via telefone

Maurizio Gucci foi assassinado a tiros no dia 27 de março de 1995, aos 46 anos. Ainda que pairasse uma suspeita sobre Patrizia — já que ela gritava aos quatro ventos que o queria morto — não havia provas de que a socialite estava envolvida na morte do ex.

Quase dois anos depois, graças a uma denúncia, a história sofreu uma reviravolta.

O ex-policial Carmine Gallo estava de plantão como chefe de uma unidade policial voltada para o crime organizado quando atendeu a um telefonema de um homem dizendo que tinha informações sobre o assassinato.

O informante, chamado Gabriele, havia retornado da América do Sul à Itália e estava desempregado e sem teto. Ele morava em um hotel barato nos arredores de Milão, onde conheceu Ivano Savioni, um porteiro que lhe confidenciou seu envolvimento no assassinato de Maurizio Gucci.

"Gabriele disse que poderia dar mais informações em troca de dinheiro", contou o policial em entrevista ao "The Guardian". "Eu disse: 'não, podemos ajudá-lo a encontrar um emprego e uma casa, mas apenas se as informações forem comprovadas como verdadeiras'".

Com a ligação sendo gravada, o informante contou que Savioni foi abordado por Pina Auriemma, a vidente de Patrizia, que o questionou se ele conhecia alguém que pudesse matar Maurizio.

Auriemma disse a Savioni que [Patrizia] Reggiani estava farta de ser assediada pelo ex-marido. Que queria o nome 'Gucci' longe dela. Ela o odiava e o queria morto, e se Auriemma pudesse encontrar alguém para matá-lo, ela pagaria por isso. Carmine Gallo em entrevista ao "The Guardian"

Enfermeiros carregam o corpo do empresário Maurizio Gucci, sob a proteção de um policial. [28.03.95]  - France Presse - France Presse
Enfermeiros carregam o corpo do empresário Maurizio Gucci, sob a proteção de um policial. [28.03.95]
Imagem: France Presse

Savioni recorreu a Benedetto Ceraulo, dono de uma pizzaria endividado, e a Orazio Cicala. No dia do assassinato, Ceraulo atingiu também o porteiro Giuseppe Onorato, que varria folhas da entrada do prédio de escritórios da Gucci. Cicala dirigiu o carro da fuga.

Nenhum dos quatro envolvidos no assassinato — pelo qual receberam 600 milhões de liras, a antiga moeda italiana (o equivalente a R$ 300 mil na época) — havia cometido um crime anteriormente.

O inspetor que chefiava a equipe oficial de investigação, que por muito tempo perseguiu a tese de que a Gucci poderia ter sido alvo de um complô internacional após vender sua participação na empresa para um banco árabe, riu quando Gallo lhe apresentou suas informações iniciais. Mas logo a denúncia se provou verdadeira.

Ao perceberem que a polícia estava se aproximando de pessoas próximas de Maurizio, o grupo responsável pela morte do empresário planejou também assassinar Patrizia.

Eles foram gravados por um policial disfarçado, enviado por Gallo, que seria a pessoa responsável pelo "trabalho". Ao serem pegos, todos, com exceção de Ceraulo, confessaram seu envolvimento e que Patrizia Reggiani havia ordenado o assassinato.

A prisão de Patrizia

A polícia teve que arrombar a porta da casa da socialite quando a prenderam porque ela não ouviu a campainha. "Ela estava andando por um lugar enorme, segurando uma lâmpada", disse Gallo.

Mas ela estava muito calma. Ela disse que estava brincando quando disse a Auriemma que queria Gucci morta. Ela disse: 'Quantas esposas dizem que querem matar seus maridos?' Carmine Gallo

Patrizia foi chamada de "viúva negra" pela imprensa italiana. Ela foi condenada junto com os outros e cumpriu 16 anos de uma sentença de 29 anos.

Em uma entrevista no início deste ano, Patrizia, agora com 72 anos, disse que gostou muito do tempo que passou na prisão, onde manteve um furão de estimação, ajudou outras presidiárias a arrumar o cabelo e as unhas e a cuidar do jardim.

Desde sua libertação por bom comportamento em 2014, ela foi frequentemente fotografada andando por Milão com seu papagaio de estimação no ombro.