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MP apura suposto crime de ódio por fala na Jovem Pan sobre morte de judeus

José Carlos Bernardi em discussão com Amanda Klein no "Jornal da Manhã", da Jovem Pan - Reprodução/Jovem Pan News
José Carlos Bernardi em discussão com Amanda Klein no "Jornal da Manhã", da Jovem Pan Imagem: Reprodução/Jovem Pan News

De Splash, em São Paulo

17/11/2021 15h02

O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) instaurou hoje procedimento após o comentarista político José Carlos Bernardi afirmar que a Alemanha enriqueceu por "matar um monte de judeus", na edição de ontem do "Jornal da Manhã", da Jovem Pan News.

A promotora de Justiça Maria Fernanda Balsalobre Pinto, que comanda o Gecradi (Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância), instaurou um procedimento para apurar eventual cometimento de "crime de ódio por intermédio de meios de comunicação", caracterizando antissemitismo, por conta de comentário feito pelo jornalista.

"De acordo com informações que chegaram ao conhecimento do Gecradi, Bernardi teria declarado que o Brasil enriqueceria 'se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico deles'. Na portaria que instaura o procedimento, a promotora determinou que se oficie ao grupo Jovem Pan, solicitando a mídia original do programa jornalístico no prazo de três dias", diz o MP-SP, em nota.

A fala

O jornalista José Carlos Bernardi causou polêmica ao comentar sobre o desenvolvimento da Alemanha em discussão com a jornalista Amanda Klein na Jovem Pan News.

"Quem dera o Brasil chegar aos pés do desenvolvimento alemão", disse ela durante o debate. Bernardi respondeu dizendo que a Alemanha ficou rica por matar e assaltar judeus após a Segunda Guerra Mundial.

Este é o país que você defende. É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico deles, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha após a guerra.
José Carlos Bernardi

As falas de José Carlos Bernardi foram criticadas nas redes sociais. Amanda Klein também se posicionou sobre as declarações do colega em publicação no Twitter.

"Na hora eu não ouvi direito. Ele me interrompia bastante. Quero manifestar meu mais profundo repúdio ao negacionismo histórico e à abjeta associação entre o holocausto e motivações econômicas", afirmou a jornalista.

Recuperação da Alemanha após guerra

O comentário considerado antissemita (quando reproduz preconceitos contra pessoas de origem semita, como é o caso dos árabes, judeus e assírios) também foi rebatido por Samy Dana, analista econômico da Jovem Pan.

Ele destaca que o desenvolvimento econômico alemão após a Segunda Guerra Mundial não tem relação com a morte dos judeus. "O país foi alvo de pesados investimentos americanos", apontou o economista.

Segundo publicação da emissora alemã Deutsche Welle em 2019, a recuperação econômica após a guerra priorizava ideias contrárias ao nazismo. O objetivo foi "constituir um estado democrático que lutava contra outras ideologias fascistas e reacionárias" mesmo separada em dois territórios (a divisão em Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental permaneceu até novembro de 1989, com a queda do muro de Berlim).