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Contamos a história de artistas que foram famosos e estão afastados do mundo do entretenimento, investindo em uma outra carreira, ou vivendo em outro país.


Ex-BBB Mara Telles relata drama por catarata: 'Perdi quase 100% da visão'

A professora Mara Telles, do "BBB 18", passou por duas cirurgias após ser diagnosticada com catarata. - Reprodução/Instagram
A professora Mara Telles, do 'BBB 18', passou por duas cirurgias após ser diagnosticada com catarata. Imagem: Reprodução/Instagram

De Splash, em São Paulo

06/11/2021 04h00

Professora de Ciência Política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Mara Telles foi diagnosticada com catarata, doença considerada como a maior causa de cegueira do mundo. A ex-participante do "Big Brother Brasil", em 2018, se recupera depois de passar por duas cirurgias, sendo a última há menos de 15 dias.

A Splash, Mara relata momentos difíceis que viveu desde os primeiros sintomas no segundo semestre de 2020, como a dificuldade para ver de longe, e que se agravaram no decorrer deste ano. Foi durante um almoço, em fevereiro, no último dia de abertura dos restaurantes antes que os estabelecimentos fossem fechados pela terceira vez em razão do isolamento social para conter a pandemia da covid-19.

Havia meses que eu não saía e, durante o almoço, ao ar livre, notei que via tudo embaçado. Eu e meu amigo pensamos que fosse pressão baixa. Logo que escureceu, voltei a ver 'normal', ainda que não fosse 100%. Fui a dois oftalmologista — já acompanhada porque tinha dificuldade de andar e atravessar ruas — e pimba: catarata! Evoluiu muito rapidamente.

Mara conta que foram cerca de cinco meses praticamente no escuro. Ela precisou aguardar a data da cirurgia, que havia sido marcada para junho.

Entre fevereiro, a data da consulta e junho, eu perdi quase 100% da visão. Não conseguia ler, escrever no computador, assistir à TV — sobretudo séries, pois não via as legendas e me recusava a ouvir dubladas! O médico queria me dar licença, o que recusei terminantemente! Afinal, o que eu faria de 'licença'?.

Durante o período anterior à cirurgia, a cientista política contou com a ajuda de muitas pessoas: no trabalho eram os colegas da universidade. Nesse processo, houve uma série de adaptações para que ela conseguisse continuar as suas atividades.

Fui muito auxiliada por bolsistas do meu grupo de pesquisa. Eles me ajudavam a gravar aulas, corrigiam meus slides, liam as provas dos alunos para que eu avaliasse, tentavam colocar as imagens da TV em data show, para que elas fossem projetadas maiores na parede, adaptaram meu computador e celular para fundo preto e letra amarela, além de aumentarem em tamanho máximo a fonte do computador. Liam meus e-mails e eventualmente os respondiam, me ajudavam nas compras — pois eu já não tinha mais condições de sair sozinha.

Em casa, Mara era auxiliada por Gilda, a empregada doméstica que presta serviços a ela há 15 anos: "Foram cinco meses de dependência total e, além do auxílio deles, tive também a da Gilda. Quebrei todos os copos da casa, queimei muito o sofá e as colchas, pois mal via o cinzeiro".

Para fazer as compras do dia a dia, os funcionários da padaria eram os seus "olhos". Os moradores de rua foram tão importantes quanto. "Para atravessar a rua contei muito com os moradores de rua que vivem na esquina, me conheciam e sempre me ajudavam a atravessar quando eu saía de casa para comprar algo na padaria", diz.

Terapia foi fundamental

"Contei com medicação do psiquiatra e com sessões de análise da psicóloga, porque foi muito difícil me adaptar a uma situação de extrema dependência. Os bolsistas tinham a senha do meu banco, e-mail e cartão de crédito —- porque eu não conseguia ver os boletos e pagá-los".

Mara lembra, orgulhosa, de um trabalho que desenvolveu mesmo em meio à adversidade. A cientista política desenvolveu um tipo específico de fobia por conta da catarata.

Uma situação inusitada é a de que eu fiz um artigo completo nesse período: meu bolsista PIBIC [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica] lia todo o artigo, escrito a três mãos, e eu ditava as correções. Trabalhei muito de madrugada com ele, pois era mais 'escuro' e fiquei totalmente com fotofobia [sensibilidade à luz]. Essa fobia era a mais difícil.

O mundo em cores

Mara Telles posta foto após a segunda cirurgia:  'Finalmente vendo todas as cores de Almodóvar!' - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Mara Telles posta foto após a segunda cirurgia: 'Finalmente vendo todas as cores de Almodóvar!'
Imagem: Reprodução/Instagram

Mara realizou a primeira cirurgia em junho no olho direito. "Foi uma loucura quando eu o abri e vi as cores. Era inacreditável o mundo com cor!", lembra. A segunda cirurgia, do olho esquerdo, foi marcada para dois dias depois da consulta. Não havia garantia que daria certo pois a catarata já estava muito avançada.

O tratamento é pingar vários tipos de colírio durante 30 dias após a cirurgia, não pegar peso nem fazer esforço físico, cinco dias de repouso, avaliação e depois cerca de 15 dias sem esforço físico. Contudo, enxergava apenas de um olho — o que já era um alívio. Mas o segundo piorou ainda mais, o que embaçava minha visão.

"Ser cega pode ter sido uma saída?"

Ela fez a segunda cirurgia em 20 de outubro. Agora, ela está no final da licença médica de 15 dias. O tratamento é igual o que seguiu após o primeiro procedimento cirúrgico, com o uso de colírio.

Mara Telles foi a primeira eliminada do 'BBB18' - Reprodução/TVGlobo - Reprodução/TVGlobo
Mara Telles foi a primeira eliminada do 'BBB18'
Imagem: Reprodução/TVGlobo

"A primeira cirurgia foi mais problemática: estava com medo, emocionalmente frágil e minha pressão chegou a 18, o que quase impossibilitou a cirurgia! A segunda foi mais tranquila e agora estou aqui contando essa história que me deixou com calos emocionais — não foram fáceis os dias de cegueira", declara.

A ex-BBB, que entrou para a história do programa com o grito de "fora, Temer" ao ser eliminada do reality show, ao vivo pela Globo, mantém o bom humor — e a ironia — mesmo em um momento especialmente complicado como este de superação diária.

Fico brincando, dizendo que talvez tenha sido um 'gatilho' — o mundo está tão ruim que talvez a minha cegueira tenha sido uma invenção minha para não ver um mundo que se transforma rapidamente. Não estou gostando do que eu vejo. Ser cega pode ter sido uma saída?.