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O que é 'Death Note', o anime que rendeu polêmica no 'Domingo Espetacular'

"Death Note" virou polêmica recentemente - Divulgação
'Death Note' virou polêmica recentemente Imagem: Divulgação

Fernanda Talarico

De Splash, em São Paulo

24/10/2021 04h00

O anime "Death Note" se tornou um dos assuntos mais comentados nos últimos dias quando o programa "Domingo Espetacular", da Record TV, "denunciou" na semana passada supostos perigos do conteúdo da animação japonesa às crianças e aos adolescentes que as assistissem.

Segundo a programação dominical, as cenas de violência seriam capazes de "chocar até mesmo um adulto" e poderiam causar "sérios danos à saúde mental".

Como se trata de uma produção com uma legião de fãs, muitos ficaram indignados com a maneira com a qual a obra foi tratada, além de fazerem muitas piadas sobre o assunto.

No entanto, por mais famoso que "Death Note" seja, ainda há muitas pessoas que não conhecem e não entendem do que se trata o anime. Por isso, Splash separou os principais pontos que você precisa saber para tomar partido nessa briga — ou apenas assistir e entender com propriedade o que está acontecendo.

Qual a história?

A trama acompanha o jovem Light Yagami, um estudante bastante inteligente do ensino médio que descobre um caderno, chamado Death Note, com poderes sobrenaturais que permitem o seu dono matar quem tem o seu nome escrito nele. O guardião do curioso artefato é o um shinigami — uma espécie de deus da morte para a cultura japonesa — chamado Ryuk.

Visando a possibilidade de livrar o mundo de criminosos, Light começa a escrever o nome de todos aqueles que ele acredita serem ruins para a sociedade. Ele se auto intitula de Kira e busca "purificar" o planeta e se tornar o "deus do novo mundo". No entanto, as inexplicáveis mortes começaram a chamar a atenção do FBI que, sem respostas, chama um famoso detetive particular para ajudar nas buscas, chamado apenas de L.

A história começa a se desenrolar em uma perseguição de gato e rato, com momentos de bastante tensão e algumas reviravoltas que chamam a atenção pelos detalhes. Ao decorrer da narrativa, outros personagens aparecem e se tornam relevantes, como Misa Amane, uma garota que também é portadora de um Death Note, e a dupla Near e Mello, dois detetives que ajudam na missão de descobrir quem é Kira.

O anime de "Death Note" conta com 37 episódios, e foi exibido entre 2006 e 2007. Ele está disponível no catálogo da Netflix, tanto dublado quanto legendado.

Quem criou?

Antes de ser um anime, "Death Note" é um mangá — histórias em quadrinhos japonesas. Escrita por Tsugumi Ohba e ilustrada por Takeshi Obata, os capítulos foram publicados entre 2003 e 2006 na revista "Weekly Shōnen Jump". Ao todo são 12 volumes que, no Brasil, estão disponíveis pela JBC.

Há também a história paralela, chamada "Death Note: Another Note Los Angeles BB Renzoku Satsujin Jiken", lançado em 2006 e que aborda uma missão encabeçada por L.

Já em 2020, foi lançada um volume único, de 87 páginas, intitulado de "Death Note: Special One-Shot". Ele mostra a volta de Ryuk ao mundo dos humanos em uma sociedade pós-Kira. A história conta com alguns elementos bastante atuais, como o ex-presidente dos EUA, Donald Trump.

Donald Trump no novo mangá de Death Note - Reprodução - Reprodução
Donald Trump em mangá de 'Death Note'
Imagem: Reprodução

18 +

Diferente do que o "Domingo Espetacular" faz parecer, "Death Note" não é destinado a crianças. Ao contrário, sua classificação indicativa é para maiores de 18 anos. Ao decorrer da história, diversas mortes violentas são apresentadas, além de conter um enredo bastante complexo para os mais jovens.

Derivados

O sucesso foi tanto que, depois do anime, "Death Note" ganhou diferentes produção. Em 2006, uma série de filmes live action japoneses foram produzidos. O primeiro deles, chamado apenas de "Death Note", dirigido por Sh?suke Kaneko, chegou ao primeiro lugar das bilheterias do país. Ainda no mesmo ano, "Death Note: O Último Nome" também foi lançado. Depois, "L: Change the World" (2008) e "Death Note: Iluminando um Novo Mundo" (2016) completaram a saga. Todos estão disponíveis na Netflix.

Então, em 2017, a plataforma de streaming resolveu levar a trama para os Estados Unidos e produziu o seu próprio live action de "Death Note". Dirigido por Adam Wingard e estrelado por Natt Wolff, LaKeith Stanfield, Margaret Qualley e Willem Dafoe, o longa chegou à Netflix e desagradou uma boa parte do público. Com apenas 23% de aprovação do público no Rotten Tomatos — site agregador de críticas e notas de filmes —, o longa foi muito criticado entre fãs da produção japonesa.

Mesmo com uma recepção negativa, a Netflix já prometeu uma continuação e, segundo o produtor da sequência, o filme já está em produção.

No Japão, houve também um musical e um dorama baseados na história.

Três games sobre o título também foram lançados: "Death Note Kira Game", "Death Note L o Tsugumono" e "L the Prologue to Death Note -Rasen no Trap-".

Mas, e aí?

"Death Note" realmente é bastante violento, mas a sua produção não é e nunca foi direcionada para crianças. No Japão, a produção de animações e história em quadrinhos para adultos é bastante comum, algo que ainda é recebido em países como o Brasil com uma certa desconfiança, afinal ainda existe a falsa ideia de que "desenhos são para crianças".

A produção apresenta questões que se aprofundam em discussões relevantes para a sociedade, como a violência pelas próprias mãos, a justiça, o poder, principalmente, a ética.

Por fim, para poder entender realmente se "Death Note" é um perigo para as crianças e adolescentes que assistem, é necessário consumir e compreender que se trata de uma produção voltada ao público adulto.

E se me questionarem, jornalista que assina este texto e já assistiu e leu "Death Note", respondo que não há problema nenhum com o anime ou com o mangá. O problema é causar pânico e demonizar algo sem saber realmente do que se trata e qual é o seu público-alvo.