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Por que o Oscar de Fernanda Montenegro voltou a ser assunto após 22 anos

Fernanda Montenegro faz 92 anos e se firma como símbolo de arte e liberdade nos palcos e na vida - Reprodução/Instagram
Fernanda Montenegro faz 92 anos e se firma como símbolo de arte e liberdade nos palcos e na vida Imagem: Reprodução/Instagram

De Splash, em São Paulo

23/10/2021 17h23

Vinte e dois anos depois da vitória de Gwyneth Paltrow sobre Fernanda Montenegro na categoria de melhor atriz no Oscar de 1999, o assunto ainda rende debates acalorados sempre que vem à tona. Dessa vez, Paltrow se esquivou da polêmica e preferiu não fazer nenhum comentário.

Em entrevista concedida ao apresentador Andy Cohen no programa "Watch What Happens Live", a atriz de "Shakespeare Apaixonado" foi questionada sobre uma declaração dada por Glenn Close em novembro do ano passado. Na ocasião, a atriz de "Era Uma Vez um Sonho", "A Esposa" e "101 Dálmatas", indicada ao Oscar oito vezes, declarou:

Eu nunca entendi como é possível comparar atuações, sabe? Eu me lembro do ano em que Gwyneth Paltrow venceu aquela atriz incrível que estava em 'Central do Brasil' e eu pensei: 'O que? Isso não faz o menor sentido'.

Fernanda Montenegro e Vinícius de Oliveira em cena de "Central do Brasil" - Divulgação - Divulgação
Fernanda Montenegro e Vinícius de Oliveira em cena de "Central do Brasil"
Imagem: Divulgação

Na entrevista que Paltrow concedeu a Cohen ontem, a intérprete de Pepper Potts no Universo Cinematográfico Marvel afirmou que desconhecia a alfinetada de Close.

O apresentador pergunta: "Qual foi a sua reação à Glenn Close no ano passado quando ela disse a um jornalista que ela achava que Fernanda Montenegro deveria ter ganhado o Oscar de melhor atriz em 1999?"

Gwyneth Paltrow - Reprodução/Instagram@gwynethpaltrow - Reprodução/Instagram@gwynethpaltrow
Gwyneth Paltrow
Imagem: Reprodução/Instagram@gwynethpaltrow

Paltrow, então, se esquiva: "Acabei de ficar sabendo disso através de você, Andy! Nunca tinha ouvido sobre isso." Então, ele pergunta novamente: "Qual é a sua reação?" Paltrow parece refletir sobre a questão por um tempo, e conclui afirmando:

Preciso dizer que não sei o bastante sobre isso.

Assista ao vídeo:

A derrota de Fernanda Montenegro em sua única indicação ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é uma questão particularmente delicada para os brasileiros, que na época reagiram positivamente à declaração de Close durante entrevista dada a Peter Treves, para o especial "Popcorn", da rede ABC News.

Na ocasião, a atriz falava sobre como campanhas publicitárias muitas vezes são mais importantes do que mérito de atuação em prêmios da indústria.

Eu acho que quem ganha tem muita relação com o andamento das coisas, se tem tração, publicidade e quanto dinheiro eles tinham para colocar a campanha na frente de todo mundo. Eu preciso ser filosófica sobre a questão.

No dia em que a notícia circulou, Montenegro republicou o trecho da entrevista em seu Instagram, e agradeceu: "Obrigada, Glenn Close."

Controvérsia antiga

A vitória de "Shakespeare Apaixonado" no prêmio da Academia de 1999 é um ponto controverso há algum tempo. Na época, muitos acreditavam que "O Resgate do Soldado Ryan" era o favorito ao troféu, mas este acabou perdendo para o romance shakespeariano produzido por Harvey Weinstein, hoje condenado por assédio e abuso sexual.

Uma reportagem publicada pela revista "Vanity Fair" em 2017 aponta que aquele foi o ano que mudou o Oscar para sempre.

Gwyneth Paltrow soluça em seu discurso ao ser premiada com o Oscar de Melhor Atriz por "Shakespeare Apaixonado", 1999 - AFP - AFP
Gwyneth Paltrow soluça em seu discurso ao ser premiada com o Oscar de Melhor Atriz por "Shakespeare Apaixonado", 1999
Imagem: AFP

No auge do sucesso com sua produtora "The Weinstein Company", Harvey iniciou na época uma campanha pesada de marketing e de imprensa para fazer seu filme agradar aos votantes da Academia e atrair mais atenção do que o drama bélico de Steven Spielberg —que tinha todas as características normalmente buscadas pelo Oscar.

Indo contra as regras, Weinstein chegou a bancar festas e convidar votantes para participarem, violando normas que estavam em vigor desde 1997.

Além disso, houve também uma campanha negativa contra "O Resgate do Soldado Ryan".

Eles tentaram fazer todos acreditarem que [o filme] estava todo nos primeiros 15 minutos de cena. Eu disse [a Spielberg]: 'Olha, é isso que está acontecendo'. E ele me respondeu que não queria que eu me enfiasse na lama com Harvey. Terry Press, publicitário, em entrevista ao New York Times