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Monica Iozzi conta se está arrependida de ter dado voz a Bolsonaro no 'CQC'

a atriz e apresentadora Monica Iozzi - Foto: Gustavo Arraes Styling: Cristian Heverson Make: Pablo Félix
a atriz e apresentadora Monica Iozzi Imagem: Foto: Gustavo Arraes Styling: Cristian Heverson Make: Pablo Félix

Colaboração para Splash, em São Paulo

04/10/2021 12h14

A atriz Monica Iozzi abriu o jogo sobre militância, posicionamento político e assédio. Em entrevista ao 29HORAS, a humorista ainda falou sobre sua carreira.

"Minha família tem origem simples, meu pai era eletricista e minha mãe, dona de casa, então eles não se envolviam tanto nessas questões. Mas me lembro de, ainda muito pequena, começar a gostar de política por conta própria. Aos oito anos de idade, eu era meio obcecada pelo horário eleitoral. Achava aquilo tudo muito esquisito. Eu via todas aquelas figuras histriônicas e quase teatrais — lembra do Dr. Enéas nos anos 1990? — e sentia como se estivesse acompanhando um roteiro de novela. Mas nunca foi apenas um entretenimento, algo ali já me instigava", disse ela sobre política, que ainda relembrou a época em que fazia o "CQC", na Band:

"Sinceramente, nós estamos vivendo um momento tão assustador e distópico que todo dia surge alguma pauta absurda. É só fazer plantão no cercadinho do presidente para ter acesso a um estoque interminável de escândalos. Mas, falando de momentos específicos, acho que teria sido muito interessante cobrir os bastidores da CPI da Covid. No 'CQC', a gente adorava colocar contra a parede pessoas que davam declarações divergentes, e nessa comissão isso aconteceu aos montes. Também queria ter tido a oportunidade de acompanhar a onda de manifestações pró-regime militar que tomou o país nas últimas semanas. Essa verve enlouquecida e inacreditável de retrocesso daria um quadro, no mínimo, bizarro".

Iozzi ainda garantiu que é possível extrair o humor da política:

"Com certeza. O humor é um instrumento político poderosíssimo. Há uma capacidade transformadora e instigante no 'rir do absurdo'. O que o Marcelo Adnet faz, por exemplo, com as sátiras, imitações e toda aquela ironia crítica é genial. E eu acredito muito que esse tipo de humor, consciente e ácido, tem o poder de fazer com que as pessoas comecem a prestar mais atenção nas atrocidades que estão acontecendo".

Monica ainda revelou se ela se arrepende de ter aberto espaço para as falas de Jair Bolsonaro (sem partido) no "CQC":

"Eu sempre me pergunto isso. Naquele momento, as matérias que eu fazia eram muito no intuito de denunciar o visível despreparo daquele, na época, deputado federal. O que não imaginava era que, ao invés disso, eu pudesse estar entregando um megafone na mão dele e dos seus discursos de ódio. Pode parecer uma comparação meio forçada, mas na Alemanha a população é proibida de fazer qualquer apologia ao nazismo. Aqui, talvez tenha chegado a hora de agirmos assim também. Não há mais escolha além de ser intolerante com pessoas intolerantes. Hoje, eu provavelmente teria preferido abafar muitos absurdos que ele disse contra a população LGBTQIA+, as mulheres, e as falas a favor da ditadura".

A atriz participou de "Assédio", com direção de Amora Mautner e deu sua opinião sobre o tema:

"Eu não conheço nenhuma mulher que nunca foi assediada. Até minha sobrinha de 13 anos já tem algumas histórias assim para contar. É preciso expor essa realidade, e a série faz isso com maestria. Também me deixa grata a forma como a produção conseguiu trazer uma mensagem de força feminina. Apesar de todas as personagens terem sofrido violência, elas estão longe de serem representadas com fragilidade. A série traz essa mensagem de que não podemos nos calar e que, unidas, conseguimos fazer com que as engrenagens comecem a mudar. Acho que muito disso vem da direção feminina, a Amora trouxe esse olhar de dentro para o tema".

Por fim, Monica Iozzi disse o que espera da política no futuro:

"É difícil demais fazer qualquer tipo de previsão, mas o que eu espero é que as instituições voltem a se fortalecer no Brasil. Sem isso, é impossível começar a cavar uma saída desse buraco. E o primeiro passo para tudo voltar aos eixos é ter a nossa democracia de volta".