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Com participação do avô, netos de Martinho da Vila lançam primeiro EP

Raoni e Dandara são netos de Martinho - Divulgação
Raoni e Dandara são netos de Martinho Imagem: Divulgação

Anderson Baltar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/09/2021 04h00

Criados em uma verdadeira casa de bamba, no coração de Vila Isabel, zona norte do Rio, Raoni e Dandara construíram, cada um do seu jeito, seus caminhos pelo mundo. E, em um primeiro momento, parecia que a música não seria o destino dos netos de Martinho da Vila. Raoni, de 35 anos, chegou a jogar futebol, atuando nas divisões de base do Flamengo e em um clube semiamador na Bélgica. Dandara, de 30, sempre esteve no mundo artístico, mas firmou-se como bailarina e porta-bandeira. Devagar, devagarinho, a música foi tomando conta de suas vidas. O desejo de homenagear o avô os fizeram subir ao palco juntos pela primeira vez há quatro anos. Tomaram gosto. O resultado é o primeiro EP, "Atravessando Gerações", lançado recentemente pela Sony Music no Spotify, Deezer e Apple Music.

Filhos de Analimar Ventapane, primogênita e backing vocal de Martinho, foram, aos poucos, se enveredando pelo caminho natural da família. Assim que voltou da Bélgica, em 2007, Raoni formou, com outros herdeiros de grandes bambas, o grupo DNA do Samba. "Na verdade, a música sempre esteve por perto. Fiz parte da bateria mirim da Vila, vira e mexe tocava nos shows da família. Na Bélgica, me enturmei com vários músicos brasileiros e tocava meu pandeiro para beber umas cervejas (risos). Quando voltei para o Brasil, a música foi um caminho natural", relembra Raoni.

Formada em dança pela UFRJ, Dandara começou bailando nos shows da tia Mart'nália e logo passou a fazer parte do coro. Pouco depois, Raoni juntou-se à trupe e tornou-se um dos músicos da banda. Aos poucos, o destino iria fazendo a sua parte: "Desde que éramos crianças, mamãe sempre nos levava para os ensaios do meu avô, para a quadra da Vila. Sempre estivemos perto, mas nunca pensamos que poderíamos ter uma carreira na música. As coisas foram acontecendo", afirma Dandara.

Em paralelo, os dois passaram a ter uma parceria no mundo das escolas de samba. Por influência de Raoni, Dandara passou a fazer parte de comissões de frente, na Vila Isabel e em escolas dos grupos de acesso. E, em 2013, ela, que já havia desfilado de passista na pré-adolescência, descobriu-se porta-bandeira. Fez sua estreia conduzindo o terceiro pavilhão da Vila em um Carnaval marcado pelo título com um samba antológico do avô.

Dali, as coisas aconteceriam rapidamente: em poucos anos, Dandara se tornaria uma das principais porta-bandeiras do Rio, com passagens pela Acadêmicos da Rocinha e União da Ilha. Em 2022, ela fará sua estreia no Paraíso do Tuiuti.

E Raoni, formado em educação física, é personal trainer da irmã já há alguns anos. A parceria musical se firmou de vez em 2017. Com o mote de comemorar os 80 anos do avô, os irmãos criaram o projeto "Canta, canta minha gente". A intenção inicial era fazer uma série de shows em um bar na Lapa para relembrar os grandes sucessos de Martinho. Porém, o êxito do projeto acabou levando Raoni e Dandara para planos maiores.

"Nunca tínhamos cantado de frente num palco. Não sabíamos o que iria dar. Surpreendentemente, a coisa andou. Quando terminamos os shows na Lapa, em fevereiro de 2018, recebemos o convite para uma temporada no Teatro Rival", conta Raoni.

O passo seguinte foi, ainda em 2018, gravar uma demo e disponibilizar nas plataformas digitais. Com quatro sucessos de Martinho ("Canta, canta minha gente", "O amor da gente", "Tom maior" e "Meu laiá raiá"), o trabalho, na opinião de Dandara, possibilitou que os irmãos pudessem consolidar o projeto. "Não tínhamos nenhum material para mostrar. Gravamos essas músicas para termos um portfolio, bem no improviso, mas valeu como um primeiro registro. Ali a gente já mostrava um pouco da identidade que temos hoje".

Finalmente, um trabalho autoral

Com o passar do tempo, surgiu o desejo de gravar material inédito. E o projeto "Canta, canta minha gente" acabou virando Raoni e Dandara. Das cinco músicas do EP, quatro são composições de Raoni. Na faixa-título, o avô e a mãe fazem uma participação especial. O trabalho também conta com uma versão de "Namoradeira", de Roque Ferreira, gravada por Martinho em seu álbum de maior sucesso, "Tá delícia, tá gostoso", lançado em 1995. A música de trabalho, "Que preta é essa!", traz uma mensagem de empoderamento feminino.

Em seu primeiro trabalho como compositor registrado em estúdio, Raoni traz parcerias de peso. Com os produtores do EP, a tia Mart'nália e Thiago da Serrinha, assina "Meu enredo", esta, cantada por Dandara. Já "Seja Feliz" foi feita com Ana Costa. "Eu só tinha feito a primeira parte de 'Meu enredo' e a finalizamos no estúdio. É uma música que faz um paralelo entre a maternidade e o desfile de uma escola de samba. Outras canções estavam na gaveta e pudemos dar um registro definitivo", relata Raoni, que também compõe para as escolas de samba - por sinal, está entre os finalistas do concurso para o samba de 2022 do Paraíso do Tuiuti.

A pandemia atingiu em cheio o planejamento da dupla, que aguarda a melhoria das condições sanitárias para o show de lançamento do trabalho e, se a agenda dos ensaios de Dandara para o Carnaval permitir, engrenar uma sequência de shows. Nos planos também estão a gravação dos clipes. Enquanto isso, Raoni já pensa no repertório do segundo trabalho: "Eu sou muito inquieto. Passo o dia pensando na próxima música. A cabeça não para..."