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Michael K. Williams sofreu com sucesso em 'The Wire': 'Tudo era Omar'

Breno Boechat

De Splash, no Rio

06/09/2021 19h44Atualizada em 07/09/2021 08h48

O papel mais marcante da carreira de Michael K. Williams foi também o que mais causou traumas ao ator, encontrado morto nesta segunda-feira (6), aos 54 anos, em seu apartamento no Brooklyn, Nova York. Em entrevistas nos últimos 10 anos, Williams falou abertamente sobre sua relação com drogas e contou ter "incorporado" problemas do personagem que viveu em "The Wire".

Na série de David Simon exibida pela HBO entre 2002 e 2008, Williams interpretava Omar Little, uma espécie de Robin Hood dos traficantes de Baltimore, nos Estados Unidos. Em 2017, à revista Time, Michael descreveu o personagem:

Um traficante gay que não gosta de roupas e carros chiques, não usa drogas, nem pragueja e rouba a maioria dos gangsters da comunidade.

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Omar Little era uma espécie de Robin Hood dos traficantes de Baltimore
Imagem: Reprodução/HBO

Na entrevista, Williams diz que, apesar do sucesso, Omar acabou se tornando seu alter ego.

Omar é um pária e me identifiquei imensamente com isso. Em vez de usá-lo como uma ferramenta para talvez me curar, me escondi atrás disso. Ninguém estava ligando para Michael nas ruas. Tudo era 'Omar, Omar, Omar.' Eu confundi essa admiração.

Michael K. Williams, em entrevista à revista Time, em 2017

Segundo o ator, a situação já era ruim enquanto The Wire ainda estava no ar e piorou quando a série acabou. "Aquela admiração não era para mim, era para um personagem fictício. Quando o programa acabou eu não tinha ideia de como lidar com isso. Eu desmoronei", revelou Williams, na entrevista.

Alguns anos antes, em 2012, Michael contou para o jornal The New Jersey Star-Ledger que estava viciado em cocaína nos anos em que gravou "The Wire".

Eu estava brincando com fogo. Era só uma questão de tempo até que eu fosse pego e meu negócio acabasse na capa de um tabloide ou que eu fosse para a cadeia ou, ainda pior, morto.

Michael K. Williams, em entrevista ao New Jersey Star-Ledger, em 2012

Ao jornal, o ator confessou que chegou a usar o nome do personagem nas ruas para conseguir drogas e fugiu de amigos para não ter o vício descoberto.

"Eventualmente, eu fiquei enjoado e cansado dessa charada. Ninguém do meu círculo, que me conhecia como Mike, me permitia ficar chapado. Tive que fugir para usar drogas e esconder isso", contou o ator, que chegou a ser internado em clínicas de reabilitação.

Eu ficava fora de casa por dias a fio. Estava sozinho nessa parte da minha vida, quebrado, exausto e vazio.

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Em 'The Wire', Omar é um traficante gay avesso a drogas: seu negócio é roubar outros gangsters
Imagem: Reprodução/The Wire

De acordo com o New York Post, a polícia encontrou objetos para o consumo de drogas como heroína e cocaína no apartamento de Michael. Também segundo a publicação, as autoridades acreditam que a morte tenha sido causada por overdose, já que não havia sinais de arrombamento ou de briga no imóvel.

Premiado por outros papéis

Mesmo com um dos personagens mais marcantes de "The Wire", Michael não recebeu grandes prêmios pelo trabalho como Omar. O reconhecimento em premiações veio nos anos seguintes. Ao todo, foram cinco indicações ao Emmy, sendo a última em 2021, pelo trabalho em "Lovecraft Country", também da HBO.

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Michael foi indicado ao Emmy de 2021 pela atuação em "Lovecraft Country", da HBO
Imagem: Reprodução/HBO

A emissora americana publicou uma nota lamentando a morte de Michael K. Williams:

"Estamos arrasados com a notícia do falecimento de Michael Kenneth Williams, membro da família HBO por mais de 20 anos. Enquanto o mundo conhece seus imensos talentos como artista, conhecíamos Michael como um amigo querido por todos que tiveram o privilégio de trabalhar com ele. Enviamos nossas mais profundas condolências a sua família por esta perda".

Ao longo da carreira, Michael atuou em mais de cem produções, entre séries e filmes. Na TV, além de "The Wire" e "Lovecraft Country", se destacou pelos trabalhos em "The Night Of" e "Boardwalk Empire", também da HBO, e "Olhos que Condenam", da Netflix.

No cinema, o americano atuou em filmes de sucesso, como "12 Anos de Escravidão", "Vício Inerente" e "Robocop".