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Lobão: Olavo criou arrogantes que conduzem guerra cultural de Bolsonaro

Colaboração para o UOL

09/08/2021 12h25

Para o cantor e compositor Lobão, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) tem desprezo pelos artistas e conduz uma guerra contra a cultura brasileira por motivos revanchistas, com base na "inveja do criativo". Segundo ele, que participou hoje do UOL Entrevista, conduzido pela jornalista Fabíola Cidral e pelo colunista Josias de Souza, o responsável pela existência dessa batalha —e da criação dos "medíocres arrogantes" por trás dela— é o guru bolsonarista Olavo de Carvalho.

O Olavo criou um nicho de medíocres arrogantes. Eles acham que fazem alta cultura quando ficam regurgitando naftalinas e clichês dos mais infantis e medíocres possíveis, mas toda a condução da política bolsonarista é no sentido revanchista e de inveja mesmo, porque o medíocre tem inveja do criativo.
Lobão, cantor e compositor

Para Lobão, os bolsonaristas fazem uso de um pretexto de anti-marxismo cultural para então "sufocar ao máximo" toda a cultura brasileira. O músico lembrou casos como o da Cinemateca Brasileira, que sofreu um incêndio mesmo após alertas feitos por funcionários sobre esse risco, e também citou a escolha de colocar a Secretaria da Cultura dentro do Ministério do Turismo —que, na avaliação dele, possuem "interesses conflitantes".

"Por exemplo, nos direitos autorais, os hotéis querem deixar de pagar direitos autorais para os autores. O Turismo defende os hotéis. E a Secretaria da Cultura, está albergada onde? No Turismo. A partir desse primeiro quadro, que é o gerencial da cultura, você já vê o fim de linha que está acontecendo", disse ele.

"Você vê os incêndios, o descaso, a Cinemateca já anunciava esse incêndio aí, os museus, as bibliotecas. A coisa que você percebe é o caldo do desprezo que o bolsonarismo tem ao artista", afirmou.

'Brasil precisa ejacular a direita e a esquerda'

Lobão, que já votou no PT, defendeu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. Nas eleições de 2018, foi eleitor de Bolsonaro, mas hoje faz críticas ao presidente e também defende que ele seja retirado do cargo.

Questionado sobre suas idas e vindas na política, o músico afirmou acreditar que não errou, pois considera que há um "ponto de vista histórico". "Estamos ainda em um loop histórico, que começou a partir de 1964. Temos essa dicotomia da esquerda vagabunda e a direita fanática. Os dois lados são ressentidos, sectários e fanáticos", disse ele.

Para o músico, Bolsonaro representou uma "falta de opção", "porque nas duas semanas antes do primeiro turno já havia a impressão de uma eleição plebiscitária: era [Fernando] Haddad ou Bolsonaro. Os outros candidatos, melhores, já estavam fora porque suas participações em debates foram pífias, as campanhas publicitárias foram medíocres".

Lobão disse ainda que o Brasil já teve a "escolha histórica" de dar espaço tanto para a direita como para a esquerda e que o que se vê, hoje, é que "essas duas facções que estão se digladiando e destroçando o Brasil desde 1964 têm que necessariamente sair de cena". Para ele, "o Brasil precisa expelir, precisa ejacular a esquerda e a direita".

Impeachment de Bolsonaro

O cantor também disse ser "inadmissível" que Bolsonaro, "uma pessoa desse extrato espiritual e caráter completamente grotesco, tosco", esteja ocupando o cargo de presidente da República. Para ele, é preciso "fincar o pé" e insistir pelo impeachment, independentemente das dificuldades desse processo.

Questionado se pretende participar de protestos pelo impeachment do presidente, Lobão disse que ainda não sabe, mas afirmou ser preciso "fazer o possível e o que estiver ao nosso alcance para extrair o furúnculo que é o Bolsonaro".

Para ele, o presidente deve ser julgado e punido, inclusive em foro internacional, por ter cometido "crimes hediondos e contra a nação".

É uma violação das maiores esse estrupício na presidência da República. O povo tem que continuar inflexível na exigência que esse cidadão seja expelido e devidamente punido pelo que está cometendo.
Lobão, cantor e compositor

Eleições de 2022

Na entrevista, Lobão afirmou ainda que, nas eleições presidenciais de 2022, fará um voto "destrutivo" e "excludente". "Não vou votar nas qualidades do candidato. Com toda certeza será alguém que poderá se contrapor a Lula e Bolsonaro", disse.

Em um eventual segundo turno entre o petista e o atual presidente, o músico afirmou que nem sequer sairá de casa para votar. "Vou fazer uma injaculação. Tiro o time porque tanto um quanto o outro será um desastre prático e moral, qualquer um mostra que o crime compensa. Mostra que não temos mais nenhum valor moral, temos o fanatismo e a cegueira", disse. "Nem saio de casa [para votar], acho que seria um desaforo sair e gastar energia para votar nulo".

Cardápio de políticos tem a 'nossa cara'

Para Lobão, o fato de o Brasil não ter um estadista de "primeiríssima grandeza" acontece por termos um "quadro de ampla decadência cultural e educacional".

"Conviver com essa dose diária de canalhices bíblicas faz muito mal ao caráter e à moral do povo brasileiro, que vai se acostumando com coisas absurdas", afirmou. Com isso, segundo ele, o brasileiro acaba tendo a "certeza" de que, "como nação, somos essa coisa abjeta".

Na avaliação do músico, o brasileiro acaba "votando mal" porque "temos um cardápio com a cara da gente, e a nossa cara é horrorosa".

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