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História da TV e do cinema queima junto com o quinto incêndio da Cinemateca

De Splash, em São Paulo

29/07/2021 20h10Atualizada em 30/07/2021 00h10

Uma faísca e toda essa história vai virar fumaça.

O colunista de Splash Ricardo Feltrin já havia alertado sobre o risco de incêndio nas instalações da Cinemateca Brasileira em reportagem sobre o abandono da instituição.

Hoje, a história vira cinzas com o incêndio no galpão que abriga parte do acervo da entidade, na Vila Leopoldina. A sede, na Vila Clementino, já havia pegado fogo em 2016. Outros três incêndios na Cinemateca aconteceram nas décadas de 1950 e 1960.

Entidade mais importante para a manutenção da memória do audiovisual brasileiro, a Cinemateca é responsável pela preservação de cerca de 245 mil rolos de filmes e 30 mil títulos, entre obras de ficção, documentários, cinejornais, filmes publicitários e registros familiares. A entidade é conhecida por abrigar o maior acervo de imagens em movimento da América Latina.

Fechada desde agosto de 2020, quando os funcionários foram demitidos após o governo federal assumir a gestão, a Cinemateca sofre com a falta de manutenção e cuidados essenciais para a preservação do acervo. Em abril deste ano, os mesmos trabalhadores lançaram um manifesto denunciando o abandono e alertando para o risco de um novo incêndio.

O controle de temperatura e umidade é essencial para a manutenção do acervo. Parte dele é em nitrato de celulose, material altamente inflamável e que pode sofrer autocombustão em caso de armazenagem em condições não ideais.

O que tem na Cinemateca?

A Cinemateca possui, por exemplo, registros raros, como a coleção de imagens da TV Tupi, primeira emissora do país inaugurada em 1950 e extinta em 1980. O material foi herdado em 1985 e traz 180 mil rolos de filmes em 16 milímetros, como programas, reportagens e coberturas históricas de telejornais da época. A história da TV e do cinema do Brasil está lá.

A entidade também dispõe de um patrimônio de cerca de 1 milhão de documentos relacionados à área do audiovisual, como livros, roteiros, periódicos, recortes de imprensa, documentos pessoais doados, cartazes, fotografias e desenhos, importantes para a contextualização histórica e preservação da memória da produção nacional.

Perda relevante

A diretora-executiva da Sociedade Amigos da Cinemateca, Maria Dora Mourão, disse em entrevista à TV Globo que no galpão que pegou fogo hoje são armazenados documentos e filmes de longa e curta-metragem, um "acervo relevante".

No incêndio de 2016 já haviam sido perdidos mais de 1000 rolos de gravação, o equivalente a 500 obras audiovisuais.

A Cinemateca também deixou de exercer as atividades de restauro e preservação. A instituição, que abriga produções dos estúdios de cinema Vera Cruz e Atlântida, já restaurou em laboratório filmes como o clássico "Macunaíma", estrelado por Grande Otelo e baseado na obra de Mário de Andrade, "Os Fuzis", de Ruy Guerra, e "Manhã Cinzenta", de Olney.