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'Não inviabilize': podcaster Déia Freitas fala do sucesso e adianta planos

DeiaFreitas - Déia Freitas / Arquivo Pessoal
DeiaFreitas Imagem: Déia Freitas / Arquivo Pessoal

Amanda Pinheiro

Colaboração para o Uol

13/06/2021 04h00

Ao ouvir o inconfundível "oi, gente", o ouvinte do podcast "Não Inviabilize" já fica atento para mais uma história. Com carisma, bom humor, conselhos e sinceridade, Andréia Freitas, ou Déia Freitas, como é conhecida, tem conquistado cada vez mais audiência para o seu podcast.

Quando ainda era criança, Déia adorava ouvir programas de rádio que contavam histórias, além de ter sido aquela atenta a tudo o que os outros falavam. A partir disso, segundo ela, ganhou até o apelido de "Fofocão", dado por seu tio Arnaldo, que a criou depois que seus pais morreram.

Eu sabia contar uma história boa (risos). Durante um tempo, quando era criança, frequentei uma igreja católica aqui na minha rua chamada Igreja do Nazareno e, nas férias, tinha atividades para as crianças do bairro. E eu gostava de ouvir as histórias da Bíblia porque as tias contavam de uma maneira bem legal. Nos intervalos, eu ficava atrás delas [tias] para saber o que elas falavam. Às vezes, eu descobria que fulana estava saindo com sicrano.

O podcast: criação e o sucesso com o público

Primeira pessoa da família a ingressar numa universidade, Déia é multitarefa: psicóloga, roteirista, escritora e protetora de animais. O pontapé inicial para a contação de histórias foi em 2016, quando um seguidor viu sua primeira profissão na "bio" do Twitter, e mandou uma mensagem em busca de conselho. Por conta da timidez, ela relutou em criar um canal em que pudesse ser vista, mas só em 2018, com a ajuda de sua amiga Priscila Armani, Déia fez um grupo no Telegram para as pessoas opinarem sobre alguma situação real. O sucesso foi praticamente instantâneo. Hoje, o grupo possui 17 mil membros e precisa de dois moderadores para se manter.

'Quando a pessoa me mandou a mensagem no Twitter, eu disse que aquele não era o papel de uma psicóloga, mas que eu poderia deixar a história anônima e postar na minha timeline, para ver se alguém daria algum conselho. E aí, estourou de um jeito que eu precisei de ajuda do suporte do Twitter. Um dia, eu tomei umas cachacinhas e pedi a uma amiga, a Pri, para me ensinar a fazer um canal no Telegram. Eu fiz, postei no Twitter, e em questão de minutos já tínhamos 3 mil pessoas inscritas. Hoje, somos 17 mil integrantes, mas sem meus moderadores o grupo não existiria, conta Déia.

A escolha do nome para o programa também tem uma boa história por trás:

Na época do 'boom' dos blogs, eu tinha uma página chamada 'Não inviabilize a minha existência' e já contava histórias ali, mas não tinha coragem de publicar. Então, criei uma conta no Twitter e coloquei "Não Inviabilize" no nome. Eu sou uma pessoa que viabiliza as coisas, procuro ser uma facilitadora nas áreas em que atuo.

Coentro Nenê - Déia Freitas / Arquivo Pessoal - Déia Freitas / Arquivo Pessoal
Imagem: Déia Freitas / Arquivo Pessoal

Ainda sem computador, Déia grava as histórias para o "Não Inviabilize" pelo celular e conta com a ajuda de Léo Mogli para editar os áudios, além das participações especiais de Coentro Nenê, seu gato de estimação. O podcast é dividido em quadros, como "Picolé de Limão" (tretas e relatos ácidos), "Luz Acesa" (causos sobrenaturais), "Amor nas Redes" (histórias românticas) e "Mico Meu" (esse é auto-explicativo); Déia seleciona as histórias no e-mail do programa e publica ao longo da semana. Assinantes ouvem episódios exclusivos.

"Se eu quiser contar história de traição daqui até o fim do ano eu consigo. Então procuro temas como gordofobia, por exemplo. Tenho cuidados: se a história é de um casal de dois homens, duas mulheres ou uma pessoa trans, não quero que a pessoa seja vilanizada. Conto de um jeito que não perca a humanidade. Geralmente, a gente critica homem hetero branco cis, e isso me gera problemas, porque todo dia tem alguém me xingando porque se identifica com esses comportamentos, e acha que eu estou incentivando a namorada dele a trair, ou porque achou a narrativa parecida com uma vivência dele", diz Déia.

Ela própria já foi personagem do podcast:

As histórias são anônimas, mas eu vivo contando a situação do meu noivado surpresa, que foi um desastre (risos).

O "Picolé de Limão" é o quadro de maior sucesso, mas as histórias arrepiantes do "Luz Acesa", com histórias reais de terror enviadas pelos ouvintes, também atraem muita audiência. Déia jura que não acredita em fantasmas, mas, por via das dúvidas, procura se manter protegida.

"Já recebi um óleo ungido e há algum tempo, uma Mãe de Santo me mandou um banho para fazer, eu fiz e me senti melhor", contou ela que brincou com a situação:

Se você pegar o meu histórico, eu já fui atropelada por um ônibus em 2002 e em 2018 fui atacada por um enxame de abelhas, então você vê que eu preciso de uma proteçãozinha. Fui atropelada por um ônibus e não morri, né? Meu anjo da guarda deve estar irritado (risos).

Apesar de ter sido criada na Igreja Católica, ela não tem religião, mas respeita a fé das pessoas.

"Quando conto alguma história que envolve religião, tenho cuidado de não demonizar nenhuma, porque não é interessante para mim. Muita gente fala que orou ou rezou por mim, tirou uma carta de tarô e eu sempre agradeço. Mas a única instituição que eu acredito é o São Longuinho (risos)".

Deia - Déia Freitas / Arquivo Pessoal - Déia Freitas / Arquivo Pessoal
Imagem: Déia Freitas / Arquivo Pessoal

Sonhos e novo projeto de série

No período em que cursava Psicologia, Déia precisou conciliar os estudos com um emprego na área da moda para sustentar-se. Seu trabalho de conclusão de curso já foi voltado ao psicodrama, o que tem relação com seu podcast.

Neste trabalho, você traz uma vivência do seu paciente e interpreta aquilo para que ele veja a história dele dramatizada. Então, se a gente for ver, tem um pouquinho de psicodrama no podcast, mas sem função terapêutica, ali é apenas entretenimento e contação de histórias. Eu gosto de focar muito nisso porque às vezes a pessoa quer um retorno de terapia e ali não é um espaço para isso.

Encantada por programas populares da TV aberta e com a temática de crimes, Déia sonha em um dia poder chegar até o rádio e alcançar um novo público. Durante a pandemia, ela contou que, constantemente, recebe mensagens de pessoas dizendo que sua voz tem sido uma companhia.

"Queria que meu programa chegasse nas rádios. Desde criança eu gosto do popular, de programas de crimes. Eu gostava de "Linha direta" (risos). Mas tenho alcançado muitas pessoas com esse formato. No início, fiquei assustada e ainda fico, porque tenho um retorno diário de gente me agradecendo por contar histórias. Já recebi o feedback de uma mulher que tem um marido que faz tratamento com câncer e ele só consegue se acalmar ouvindo minhas histórias. Olha que louco isso, né? Quer dizer, eu estou ali falando um monte de bobagem, dando risadas e tem gente usando isso de forma mais séria", diz.

Com mais de mil histórias escritas, recentemente, Déia recebeu um convite para escrever uma série. A proposta veio da produtora A Fábrica, que entre tantos trabalhos já fez "Modo Avião", com Larissa Manoela, o filme "Não vamos pagar nada", com Samantha Schmütz, e "Minha vida em Marte", com Mônica Martelli e Paulo Gustavo. Como o projeto ainda está no início, ela não sabe como nem onde será veiculada, mas tem apenas um desejo:

Queria que fosse na TV aberta, para todo mundo assistir. Uma coisa bem popular, sabe? Ainda estamos resolvendo os detalhes, mas a ideia é pegar os quadros "Amor na Rede" e o "Picolé de Limão" e transformar em série, com uma primeira temporada para testar.