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Pe Lu, ex-Restart: 'O rock não pode ser aliado de regime autoritário'

Pe Lu, ex-integrante da banda Restart
Pe Lu, ex-integrante da banda Restart
Reprodução / Instagram

De Splash, em São Paulo

06/05/2021 12h51

A treta sobre "roqueiro reaça" está em alta. Não é a primeira vez, claro, mas agora o debate tem dois protagonistas: Pe Lu, 30, ex-guitarrista e vocalista da banda Restart, e Digão, 50, vocalista e guitarrista dos Raimundos.

A briga teve início com a participação de Pe Lu no podcast "Falacadabra". Ele comentava as críticas que sua banda na adolescência recebeu nos anos 2000 de artistas que ele admirava à época, como Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, e Chorão, do Charlie Brown Jr.

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Pedro Lucas Munhoz (nome de batismo de Pe Lu) disse que entendia parte das críticas, mas o que não entrava na sua cabeça era a onda de "roqueiros reaças, como Digão e Rodolfo".

Splash conversou, por telefone, com o músico, que reforçou sua fala.

Meu problema não é com o Digão. O que quis dizer é que, na minha opinião, o rock, uma cultura tão revolucionária, não andaria junto com uma doutrina que prega o status quo.
Pe Lu

Digão não gostou do que ouviu, e chamou Pe Lu de "moleque" nas redes. Mas não parou por aí: o guitarrista compôs até uma música como resposta.

Chega nem no chinelo / respeita os calos da minha mão
Digão
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O ex-Restart diz que nunca pediu para ninguém acompanhar seu posicionamento político. Porém, acredita que não é possível ficar em cima do muro nos dias de hoje, fazendo referência ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Eu nunca pedi para ninguém concordar comigo, sou a favor da pluralidade. Só acho que o rock não pode ser aliado de um regime autoritário. E quem se cala também é aliado.
Pe Lu

O guitarrista, hoje produtor musical e empresário responsável pelo selo Papaya Music, lembrou de episódios como o show de Roger Waters, do Pink Floyd, no Brasil em 2018, quando ele foi vaiado por criticar o então candidato à presidência Jair Bolsonaro e prestar homenagem a Marielle Franco.

Tem uma galera que diz 'ah, eu só curto o som'. Beleza, mas você não pode se dizer surpreso em ver um Roger Waters criticando o Bolsonaro, né?
Pe Lu
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Sem mágoas do passado

Nesses últimos dias, Pe Lu vem recebendo uma enxurrada de ofensas na internet —de artistas e de anônimos. Muitas delas ligadas à sua antiga banda. Mas com isso ele já está acostumado.

Relembrando para quem não viveu os anos 2000, o Restart foi um fenômeno adolescente no Brasil e um dos pilares da cena "emo colorida", junto com bandas como Cine e Replace. Mas os artistas também carregavam uma série de haters, que classificavam os sons como lixo.

Tinha crítica razoável, mas a maioria era ataque. Sendo justo com a nossa história, falando do Restart, nós fazíamos um som muito bom tecnicamente para o que a gente se propunha.
Pe Lu

Com a repercussão da treta sobre roqueiros reacionários, alguns artistas que criticaram o Restart pediram desculpas pelo excesso. Foi o caso de Tico Santa Cruz, vocalista dos Detonautas, que fez uma live atacando Digão e, de início, se desculpou com Pe Lu, que no auge da antiga banda tinha 18 anos.

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O ex-Restart diz que não guarda mágoa e que esse reconhecimento de quem "exagerou" é importante.

Não quero ninguém implorando, mas é importante reconhecer que foi babaca à época. A vida segue e 'bora'.

Pe Lu diz que sempre teve uma visão de mundo mais "progressista", mas que não via sentido em fazer música de protesto com os amigos naquela época. Porém, ele diz que se arrepende em não ter se posicionado mais incisivamente contra o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.

Acho que o músico ou qualquer influenciador tem que se posicionar, não necessariamente pela sua arte. Na época do Restart o clima era outro, a democracia não estava sob ataque.

Digão foi procurado por Splash, que não conseguiu contactá-lo.