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Conheça a história real do assassino da série 'O Paraíso e a Serpente'

"O Paraíso e a Serpente": o que aconteceu com o assassino da série na vida real?
"O Paraíso e a Serpente": o que aconteceu com o assassino da série na vida real?
Instagram/Reprodução

De Splash, em São Paulo

18/04/2021 04h00

Os oito episódios de "O Paraíso e a Serpente", série britânica recém-chegada à Netflix, são chocantes e eletrizantes, mas ainda não dão conta de explorar todos os detalhes da trajetória criminosa de Charles Sobhraj, assassino que aterrorizou turistas na Ásia na década de 1970.

Para proteger a identidade de algumas das pessoas envolvidas na trama obscura, nomes foram trocados para a minissérie. Mas a vida real do assassino consegue ser ainda pior do que o retratado na tela. Conheça a história real de Charles Sobhraj.

Contém spoilers da série!

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Origem do Mal

Charles Sobhraj nasceu no Vietnã, em 1944. Seus pais se divorciaram quando ele ainda era pequeno, e Charles dividia seu tempo entre a França e a Ásia. Já na adolescência, ele passou a cometer pequenos delitos ao redor de Paris e foi preso pela primeira vez em 1963.

Foi na prisão que Charles conheceu Felix d'Escogne, com quem foi viver após ser libertado. Ao lado dele, Sobhraj aprendeu a ser um perfeito vigarista, manipulando todos que orbitassem ao seu redor.

Mergulhado em mentiras

Poucos anos antes de cometer os assassinatos, Charles se casou com a francesa Chantal Compagnon, que teve seu nome alterado para Juliette na série. Quando ela estava grávida, eles se mudaram para a Ásia, onde ele chegou a ser preso no Afeganistão, no Irã e na Índia.

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Para conseguir escapar da prisão, Charles fazia amizade com os guardas e armava as cenas mais absurdas. Ele conseguiu fugir da cadeia em Nova Delhi inventando estar doente e, quando foi detido em Atenas, distraiu os guardas ateando fogo a uma ambulância.

Os produtores de "O Paraíso e a Serpente" optaram por não conversar com o próprio Charles, preso até hoje no Nepal, justamente por sua compulsão em contar mentiras. O roteiro foi baseado em entrevistas feitas pela jornalista Julia Clarke com o assassino.

Ele sempre está tentando monetizar sua história e nós tínhamos certeza de que nunca o pagaríamos por isso. Ele é um mentiroso compulsivo, qualquer coisa que nos dissesse não seria verdade.

Paul Testar, coprodutor, em entrevista ao "Los Angeles Times"

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Marie-Andreé e Charles Sobhraj na época dos crimes
Imagem: Instagram/Reprodução

Na trilha dos hippies

Depois de sucessivas fugas da prisão, Sobhraj abandonou a mulher e a filha e viveu no Paquistão e na Tailândia, onde cometeu os primeiros crimes. Foi em Bangkok que conheceu sua amante e cúmplice, a canadense Marie-Andree Lecrerc.

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Sobhraj se passava por um vendedor de joias e fazia amizade com jovens viajantes dos EUA e da Europa. Ele então os drogava para depois assassiná-los e roubar seus passaportes. Apesar de condenado por dois assassinatos, ele pode ter sido responsável por até 20 mortes.

Ele criou uma falsa narrativa sobre quem matou. Dizia que eram hippies drogados e criminosos, que não deveríamos ligar para eles. Muitas famílias relutaram em se envolver com a série por isso. Era importante mudar essa narrativa.

Richard Warlow, roteirista e produtor, ao "Los Angeles Times"

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Tahar Rahim viveu o temido Charles Sobhraj na série "O Paraíso e a Serpente"
Imagem: Instagram/Reprodução

Realidade além da ficção

No terceiro episódio da série, o jovem francês Dominique vivia preso na casa de Sobhraj, forçado a trabalhar para ele e sendo constantemente drogado. Com a ajuda de um casal de vizinhos, ele consegue recuperar seu passaporte e fugir de Bangkok para Paris.

Na vida real, Sobhraj mantinha Dominique e outros dois jovens em cárcere. Todos foram ajudados pelo casal de vizinhos a fugir, mas somente Dominique é retratado pois nunca se soube mais notícias sobre os demais.

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O capanga de Sobhraj, o indiano Ajay Chowdhury, também tem um fim desconhecido. Depois de colaborar com vários dos assassinatos de Sobhraj, Ajay foi visto pela última vez em 1976 e nunca se soube do seu paradeiro.

Um fim trágico, porém, teve o macaco de estimação de Sobhraj. Ele realmente existiu e acabou morrendo ao beber as drogas que eram destinadas a Dominique. Como não era um macaco domesticado, ele precisava usar fraldas, mas isso pareceu absurdo demais para os produtores retratarem no seriado.

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Jenna Coleman como Marie-Andreé Leclerc em "O Paraíso e a Serpente"
Imagem: Instagram/Reprodução

Vivendo perigosamente

Quando foi finalmente preso na Índia, em 1976, após drogar um grupo de 60 estudantes franceses, Sobhraj usava sua lábia para conseguir vantagens na cadeia. Em troca de joias, ele conseguiu viver confortavelmente, com direito a uma TV particular e comendo do bom e do melhor.

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Enquanto isso, o diplomata holandês Herman Knippenberg, responsável por investigá-lo na série, reunia mais e mais provas da ligação de Sobhraj com uma série de crimes na Tailândia. Depois de dez anos preso na Índia, Sobhraj sabia que acabaria sendo transferido e condenado a morte em Bangkok.

Dois anos antes da possível transferência, ele ofereceu uma festa para os carcereiros e conseguiu drogá-los. Com isso, escapou da prisão e se deixou ser capturado, adicionando dez anos à sua sentença. Nesse tempo, os crimes da Tailândia já teriam prescrevido e ele não poderia mais ser condenado.

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Matéria da libertação de Charles Sobhraj em 1997
Imagem: Robert NICKELSBERG/Gamma-Rapho/Getty Images

Em 1997, Sobhraj foi libertado da prisão na Índia e viveu como um homem livre até 2003, quando fez uma viagem ao Nepal. Lá, ele foi reconhecido e ainda poderia ser acusado dos crimes que cometeu, mais de 20 anos antes.

Depois de anos dando entrevistas e se tornando uma espécie de celebridade, Sobhraj finalmente poderia ser condenado a prisão perpétua. Ironicamente, foi no primeiro dia de aposentadoria de Knippenberg que o diplomata recebeu a notícia de que o criminoso que tanto buscou havia sido detido.

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Do ponto de vista dramático, é o tipo de coisa que odiaria escrever. É muito na cara. Mas realmente a história que marcou a vida dele o chamou no mesmo dia que ele tinha desistido de tudo.

conta o roteirista Richard Warlow ao "Los Angeles Times"

Sobhraj hoje em dia

Em 2003, Charles Sobhraj foi condenado a prisão perpétua por assassinatos de dois jovens no Nepal e segue preso até hoje em Katmandu. Sua cúmplice, Marie, morreu na prisão na Índia, em 1984. Com 77 anos atualmente, nunca mais se soube de uma tentativa de Sobhraj de escapar.