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Odilon Wagner sobre reunião com Mario Frias: 'Sou do Partido da Cultura'

O ator Odilon Wagner - Reprodução/Instagram
O ator Odilon Wagner Imagem: Reprodução/Instagram

Helena Aragão

Colaboração para Splash, do Rio

12/03/2021 04h00

Odilon Wagner não quer saber de polarização. Enquanto boa parte dos artistas se posiciona contra o governo de Jair Bolsonaro, o ator paranaense radicado em São Paulo evita dar opiniões políticas, e teve na última sexta-feira (5) uma reunião com o secretário especial da Cultura, Mario Frias.

No posto há nove meses, Frias costuma divulgar em suas redes sociais os encontros profissionais que tem. Há políticos, juristas, representantes da área de eventos e turismo.

Artistas, entretanto, são raros em seu gabinete.

Para Wagner, isso não importa:

Aqueles que não falam com o governo x ou y por divergências ideológicas vão ficar presos numa bolha. A cultura só tem um partido, o Partido da Cultura.

Wagner é vice-presidente da Associação de Produtores de Teatro Independentes (APTI), que reúne cerca de 70 empresas do setor em São Paulo. Em 2020, o grupo criou o Fundo Marlene Colé, que promoveu sorteios de conversas virtuais com atores como Juliana Paes e Cauã Reymond em troca de doações. Com isso, conseguiu milhares de cestas básicas para famílias de profissionais da cultura que perderam seus trabalhos.

E foi em nome da entidade que Wagner pediu a conversa com o secretário. O encontro —virtual, por causa da pandemia— contou também com o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, e o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciúncula.

"Conheço o ministro Gilson há muitos anos. Estávamos falando entre artistas. Ele é músico, Mario é ator. Temos que trabalhar naquilo que nos une", diz ele.

Preocupação com a Lei Rouanet

Curiosamente, o principal tema da reunião —a Lei Rouanet—, voltava a virar notícia no momento em que o encontro acontecia. O Diário Oficial daquela sexta-feira trouxe uma portaria que cancelava a análise de projetos que buscam verba de incentivo fiscal em estados com restrições por conta da pandemia.

Produtores culturais e deputados de oposição se mobilizaram imediatamente para criticar a medida, argumentando que ela é inconstitucional e pode complicar ainda mais a retomada do setor, num futuro próximo. Muitos deles se preocupam também com o que consideram uma constante demonização do mecanismo de fomento por parte de bolsonaristas.

"Como a reunião foi de manhã, eu não sabia da portaria. Tenho a impressão de que deve haver uma reavaliação da decisão. Acho que é um equívoco", observa Wagner, afirmando que voltará a ter uma conversa com o secretário, "dessa vez mais técnica", sobre a Rouanet.

Em outra decisão polêmica, no final do ano passado, o governo federal não autorizou que projetos culturais recebessem patrocínios já aprovados e comprometidos com a iniciativa privada via Lei Roaunet.

"Uma pena que não tenha saído a verba em dezembro, porque é o momento em que as empresas costumam captar. Mas tem sido cada vez mais comum elas fazerem acertos trimestrais, então não é que vá ficar tudo parado até o ano que vem", acredita Wagner, otimista.

O secretário afirmou, segundo o ator, que montou uma força-tarefa para fazer andar a enorme fila de prestações de contas de projetos ainda não analisadas. "O Frias sofre uma pressão grande do TCU (Tribunal de Contas da União) em função do passivo de prestações não avaliadas. Tem gente recebendo demandas sobre espetáculos de 10 anos atrás, isso tem mesmo que ser agilizado."

O importante agora, avalia ele, é tentar ser uma ponte entre a classe e o secretário, mesmo com eventuais discordâncias.

Sempre fui a favor de atravessar a rua e entender o que o outro está pensando. Não tenho esse pensamento só na cultura. Sou espírita, mas estou em constante interlocução com membros de outras religiões. Promovemos inclusive um encontro anual em São Paulo.

Freud no teatro

Odilon Wagner estava prestes a estrear a peça "A Última Sessão de Freud", em junho do ano passado, quando as restrições de circulação foram impostas pela pandemia. Após sucessivos adiamentos, tem esperança de subir ao palco em agosto na pele do pai da psicanálise.

Além disso, "A Golondrina", peça premiada que tem produção dele, vai ter sua primeira temporada online garantida pela Lei Aldir Blanc.

Resta esperar a vacina. "Nunca pensei que fosse querer ser mais velho nesta altura da vida", brinca o ator de 67 anos, sobre a expectativa de receber sua dose.