Silêncio, o jovem quer salvar a literatura com fanfics... e pode conseguir!
Se você ainda tem preconceito contra fanfics, já passou da hora de abrir a mente e o coração: o hobby dominado pelos jovens desde os primórdios da internet tem ajudado a literatura com a formação de novos autores e leitores. Mas se você nem sabe do que estamos falando, tranquilo.
Splash explica.
Ficção de fã!
"Fanfictions" são textos escritos por fãs com base em personagens ou pessoas reais (como paródias ou versões alternativas). A criatividade é o limite, já que um fã pode criar uma fanfic em que o Harry Potter é um bruxo em Hogwarts ou um contador em Curitiba —e ambas podem ser ótimas.
Só por curiosidade, saiba que "Romeu e Julieta", de William Shakespeare, é uma fanfiction de luxo.
O dramaturgo pegou muitos elementos emprestados do poema "A Trágica História de Romeu e Julieta", de Arthur Brooke. De certa forma, mesmo sem saber, cada autor de fanfic segue passos de Shakespeare.
Francesca Coppa, professora da Muhlenberg College, dos EUA
Splash mergulhou neste universo para explicar a vocês, leitores, por que o assunto é relevante para quem ama ler (e até para quem ainda não descobriu esse amor).
Ray Tavares, autora de livros como "Heroínas" e de fanfics
Imagine que você tem 14 anos e é muito fã de uma banda de rock ou um grupo de k-pop. Em um belo dia, a internet te apresenta a histórias de ficção sobre esses músicos. E você, que ama Shawn Mendes ou Camila Cabello, mergulha em um universo literário dedicado a eles e se sente próximo.
Muitas vezes, a identificação é instantânea, e um adolescente que antes não lia qualquer coisa descobre em si mesmo um leitor voraz. E a chance de começar a escrever e desenvolver sua noção textual é grande —o que faz com que ele busque desafios literários cada vez maiores.
Algumas histórias são muito bem escritas, outras refletem a imaturidade dos jovens autores. Não é este o ponto.
Nem toda fanfic é boa, mas toda fanfic tem potencial para formar leitores e escritores.
Elas são grandes incubadoras da literatura jovem.
Ray Tavares, que começou com as fanfics sobre a banda McFly
Lola Salgado, autora de livros e fics de My Chemical Romance
Ray passou uma década escrevendo fanfics antes de seu primeiro livro —e isso a ajudou a crescer. Lola começou a escrever aos 10 anos e ganhou o prêmio internacional Wattys na plataforma Wattpad, dedicada a auto publicação; hoje, seus livros somam mais de 10 milhões de leituras na Amazon.
Boas fanfics encontram muito público: para se ter ideia, o Wattpad tem mais de 90 milhões de leitores. O mundo fanfiqueiro é uma "escola" literária com gente dedicada.
No Brasil, mais de 30 adolescentes se uniram no grupo Whalien Project; o trabalho deles é apoiar autores de fanfics de k-pop com "betagem" (é como eles chamam a revisão de texto), book trailers e capas para ilustrar as histórias.
Whalien Project
Foi com esta motivação que Francesca Coppa, professora de Literatura da Muhlenberg College, nos EUA, ajudou a fundar o site Archive of our Own, uma plataforma para fanfics. Há também o Fanfiction.net, o Nyah, o já citado Wattpad e até as redes sociais —Lola começou no Orkut, por exemplo.
Mas por que tanto preconceito com fanfic?
Depende muito da pessoa, mas o machismo costuma ter influência sobre como alguns enxergam as chamadas "coisas de menininha".
Ray Tavares
Francesca Coppa em entrevista à Universidade de Michigan
As fanfics podem ser também uma jornada de acolhimento para muita gente que nem sempre encontra isso em casa —jovens LGBTQ+, por exemplo. Todo mundo que escreveu fanfics na adolescência fala sobre o impacto emocional da experiência, a sensação de finalmente "pertencer" em uma comunidade.
Ray Tavares
Lola Salgado
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