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Neil Gaiman defende 'American Gods', mais política e relevante do que nunca

"American Gods"
"American Gods"
Divulgação / Amazon

De Splash, em São Paulo

11/01/2021 04h00

A terceira temporada de "American Gods" deu seu pontapé inicial com o primeiro episódio liberado hoje, no Amazon Prime Video. Splash foi o único veículo brasileiro a conversar com Neil Gaiman, autor do livro que inspirou a série, e estrelas do elenco sobre as novidades propostas para esse ano.

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Antes das gravações, ninguém imaginaria que 2020 seria cenário de uma pandemia e de inúmeros protestos raciais ao redor do mundo. Mas todas essas questões ressoam ainda mais com a nova temporada, que apresentará os orixás africanos, e discutirá racismo e xenofobia.

Se trata de um livro de 21 anos atrás e teria ficado feliz se pudesse dizer: 'Deixamos tudo para trás, as questões de imigração, racismo'. Mas, neste momento, tudo pareceu mais relevante. É muito importante ter um protagonista que se envolve em problemas numa cidadezinha por ser negro.

Neil Gaiman

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Neil Gaiman
Imagem: Instagram

Neil nasceu na Inglaterra, mas vive nos EUA desde 1992. Sua experiência como imigrante se traduz na mensagem que ele tenta passar no livro.

Como entender no que os americanos acreditam, como se comportam?

Achei que conhecia esse país. Sempre consumi livros, filmes. Mas não entendia nada. É muito mais estranho. Estamos vivendo um tempo em que o que você acredita é mais importante do que deveria ser. Grupos religiosos buscaram a Suprema Corte dos EUA para ter o direito de se aglomerar e se infectar.

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Com a pandemia em sua pior onda nos EUA, Gaiman acredita que, no universo de "American Gods", os deuses da tecnologia estariam mais fortalecidos. Mas lamenta que muitos ainda estejam esperando uma solução mágica para o problema.

Nos EUA, é como se fosse um 11 de setembro por dia por causa da covid. Os deuses do Twitter, Instagram, Facebook estariam ganhando força. São os lugares onde você encara o luto. Nós vemos o pensamento mágico dos governantes. 'Se não olharmos para isso, vai desaparecer'. E não desaparece.

Neil Gaiman

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Cena da terceira temporada de 'American Gods'
Imagem: Divulgação

Poder do bem

Ricky Whittle, protagonista da série, também é britânico, mas já vive em solo americano há 10 anos. Na série, ele se descobre um semi-deus. Mas e se pudesse ter um poder na vida real?

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No mundo em que vivemos, com tudo tão acalorado, eu queria poder tocar os racistas, machistas, homofóbicos, xenofóbicos e fazê-los agir com mais amor. Vejo pessoas ficarem bravas o tempo todo com as vidas dos outros. Por que estão tão bravos? Não tem nada a ver com você.

Ricky Whittle

jb - Drew Angerer/Getty Images/AFP - Drew Angerer/Getty Images/AFP
Joe Biden e Kamala Harris, candidatos e presidente e vice pelo Partido Democrata nos EUA
Imagem: Drew Angerer/Getty Images/AFP

Ricky festeja a eleição de Joe Biden com esperança que o presidente eleito dos EUA represente novos tempos. O ator acredita que o preconceito seja fruto da falta de conhecimento e do medo do desconhecido.

As pessoas não sabem o que acontece. Elas mentem. Não checam os fatos, não provam. Eles têm essa ideia de liberdade, de poder falar qualquer coisa. Eu discordo. Você só pode dizer algo se tiver como provar. Se eduque sobre os dois lados. Quando começarem a ouvir uns aos outros, poderão avançar.

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Dominique Jackson e Bruce Langley em "American Gods"
Imagem: Instagram
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Diversidade

Além do protagonista negro, "American Gods" conta com um elenco que prima pela diversidade. Neste ano, Dominique Jackson, atriz trans, também embarca na produção. Yetide Badaki, atriz nigeriana e intérprete da deusa Bilquis, comemora a representatividade da equipe.

Temos uma equipe diversa na frente e atrás das câmeras. Nós temos muita sorte de nos mantermos relevantes graças ao trabalho do Neil. Como atriz, eu espero que todos os trabalhos sempre levem a conversas que nos façam evoluir. Nunca nos afastamos de nenhuma discussão.

Yetide Badaki

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Yetide Badaki, como Bilquis, em "American Gods"
Imagem: Instagram

Yetide acredita que o clima político atual, seja pela pandemia ou pelos protestos raciais, torna a série ainda mais urgente, por se relacionar com essas questões. A cena de abertura do quarto episódio, por exemplo, é um poderoso momento em referência aos tempos da escravidão nos EUA.

O reconhecimento das desigualdades ao redor do mundo se tornou mais claro com a pandemia. É importante que a gente veja na TV não somente as expressões do que estamos lidando, mas também as possibilidades de mudar aquilo. 2020 nos permitiu examinar a nós mesmos.

Yetide Badaki