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Como estão as crianças que fizeram sucesso com o funk nos anos 2010?

MC Pedrinho
MC Pedrinho
Reprodução/Facebook

De Splash, em São Paulo

08/01/2021 04h00

No começo da década de 2010, as crianças invadiram o funk de São Paulo. Mesmo com a pouca idade, nomes como MC Pedrinho, MC Pikachu e MC Brinquedo se tornaram referências e viajaram o mundo, com direto a turnê pela Europa.

O sucesso na música trouxe a realização do sonho daquelas crianças, que puderam deixar a infância pobre e dar uma vida melhor aos pais. Mas nem tudo na vida são flores, e eles tiveram que enfrentar a Justiça e abdicar do momento mais lúdico da vida para trabalhar.

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1, 2 e 3.....

Publicado por MC Pedrinho em Domingo, 14 de janeiro de 2018

Hoje, os três são maiores de idade e continuam cantando suas músicas. O passar do tempo trouxe mudanças físicas e mentais. Pedrinho virou um homem tatuado, Brinquedo um jovem de fé e Pikachu passou por um tumor cerebral.

Onde cada um se encontra

Matheus Sampaio Correia, o Pikachu, tem 21 anos e é o mais velho dos três. Em 2018, ele foi diagnosticado com um tumor benigno no cérebro e precisou de intervenção cirúrgica.

Hoje, ele tenta retomar o sucesso mantendo a "raiz" com suas músicas mais picantes.

Vinicius Ricardo dos Santos Moura, o Brinquedo, tem 19 anos. Bem diferente do que vemos nos vídeos, ele é bem reservado e tímido.

Recentemente, o MC passou por uma harmonização facial e sofreu com haters nas redes sociais. Após um período em off, ele diz que está com a cabeça no lugar agora.

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Não mudei. O Brinquedo antigo,é um menino que tem força e fé pra tudo, o de hoje, tem a mesma coisa, só que está bem mais forte e a fé aumentou.
MC Brinquedo

Pedro Maia Tempster, 18, é o "caçula". No palco desde 11, agora ele tenta se firmar no trap, uma vertente do rap. No ano passado, o MC entrou na Justiça para desfazer seu contrato com a produtora GR6.

O empresário Alexandre Santana, o Gugu, diz que está em negociações para resolver a situação.

O começo da criançada

Em meados de 2013, a vertente que estava em alta no funk paulistano era a putaria. Lembra daquelas músicas, digamos, bem pesadas, com um arsenal de sinônimos para órgãos sexuais? Foi ali que surgiu o MC Pedrinho.

Ele foi um dos primeiros MCs de sucesso nascido em São Paulo. O cantor não quis conceder entrevista, mas conversamos com Gugu sobre as memórias do passado e sua relação com o cantor.

Quando conheci o Pedrinho, ele tinha uns oito anos. A primeira música estourou quando ele tinha 11. Foi tudo muito rápido porque ele tinha - e ainda tem - muito talento.
Gugu, empresário.
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Alexandre diz que, desde o começo da carreira, uma coisa era clara: o funk muda, sim, a vida de um garoto pobre, mas a escola não vai ficar de lado. O empresário diz que a família ficava "no pé" nesse quesito.

Sobre as composições, Gugu reforça que Pedrinho não cantava algo que praticava.

Não era uma coisa que ele cantava porque fazia, era coisa de menino arteiro, que retratava a época. Eu, particularmente, não acho errado.
Gugu

Pikachu e Brinquedo eram representados pela KL Produtora. Numa relação com o futebol, seria o Santos, conhecido por revelar grandes craques. De lá, nasceram artistas como: MC Bin Laden, Kevinho e MC Lan.

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Localizada em uma residência, na zona sul de São Paulo, a produtora era mais que uma segunda casa para os MCs. Eles passavam boa parte do seu tempo lá, criando e respirando música. Lembra dos vídeos de Bin Laden e Brinquedo dançando numa laje? Eram feitos lá.

Os relatos daquela época são de que o ambiente era extremamente criativo, mas não dos melhores para uma criança.

Emerson Martins, dono da produtora, confirmou que existiam excessos - incluindo o consumo de drogas -, mas diz que se arrepende de como lidava com os artistas.

Claro que não era o melhor ambiente para uma criança, mas eu tentava deixar eles afastados. Eu era um paizão, mas exigia demais. Tenho esse conhecimento hoje.

Problemas com a Justiça e consequências

No auge do sucesso da criançada, o Ministério Público de São Paulo proibiu as apresentações de Pedrinho em todo o território nacional. Segundo o órgão, as músicas eram "incompatíveis com a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento".

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Mano DJ, que trabalhou com MC Pikachu, diz que esse momento foi triste para todos. Os MCs faturavam mais de R$ 50 mil por fim de semana - e, consequentemente, eram responsáveis pelo sustento das famílias.

Acho que poderia ser melhor visto na época. Os moleques quase entraram em depressão, as famílias ficaram bem mal. Ainda bem que eles não pararam com tudo e estão aí até hoje.
Mano DJ, produtor.

Gugu reforça que hoje a visão é outra e procura evitar músicas com palavrão. Mas também é preciso entender o sonho dos jovens e o mundo onde eles vivem.

O funk é música e dá o sustento para muitas famílias. Tem muita criança que, hoje, se espelha no Pedrinho e nesses moleques para trilhar o caminho do bem.
Gugu.