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"Brasília, em certo sentido, é uma maldição", diz escritora Nélida Piñón

Nélida Piñón participa de entrevista no "Roda Viva", da TV Cultura - Reprodução/TV Cultura
Nélida Piñón participa de entrevista no "Roda Viva", da TV Cultura Imagem: Reprodução/TV Cultura

Do UOL, em São Paulo

02/11/2020 23h19

A escritora Nélida Piñón, integrante da Academia Brasileira de Letras e considerada uma das principais vozes da literatura, fez duras críticas à classe política e disse ter desgosto com o que Brasília representa hoje. A acadêmica classificou ainda a capital federal, "em certo sentido", como uma "maldição".

"Você chega lá e é envenenado pelas cerimônias do poder. Aquilo lá não são políticos, são sátrapas [protetores do poder], são seres que vivem como nababos", iniciou ela, durante participação no programa "Roda Viva", da TV Cultura

"Brasília é uma cidadela [fortaleza situada em lugar estratégico], um castelo com uma ponte levadiça que nunca abaixa para nós entrarmos, o povo não entra. Só eles que entram e saem quando querem. Eu tenho uma tristeza, eu tenho um desgosto imenso com o que Brasília representa, como eles se desvincularam do Brasil. Eles pouco sabem sobre o Brasil", completou, em seguida.

Crítica do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), Nélida afirmou que o presidente age como se a cultura fosse algo maligno.

"O presidente Bolsonaro, já em sua campanha encarnou essa representação de que a cultura de algum modo, nela se concentrava o maligno, o mau que ofendia a sociedade brasileira. Isso foi um desastre, uma coisa muito penosa para a cultura. Como se a cultura não fosse uma coisa quase arqueológica de uma consciência nacional", ressaltou.

"É preciso que Bolsonaro possa entender que ele pertence a um país no qual deve zelar pela cultura. Que esse pais, que ele nasceu, é do brasileiro, representado pelos grandes intelectuais, grandes pintores, compositores, pelo folclore, pelas cantigas, pelo samba, tudo isso é o Brasil, é mais Brasil que ele."

Nascida no bairro de Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro, Nélida Cuíñas Piñón é escritora e integrante da Academia Brasileira de Letras, a qual já presidiu —foi eleita a primeira mulher a presidir a Academia por ocasião do seu primeiro centenário em 1997.

É autora de mais de 30 obras de grande sucesso como A força do destino (1977), O calor das coisas (1980), O pão de cada dia (1994), Até amanhã, outra vez (1999) A roda do vento (1998) Vozes do deserto (2004) e o romance A república dos sonhos, publicado pela primeira vez em 1984, talvez o de maior sucesso.