Alice Braga e Henry Zaga: os brasileiros de 'Os Novos Mutantes'
Que Mancha Solar é o primeiro super-herói brasileiro da Marvel, isso todo bom fã de quadrinhos sabe. Que ele aparece em uma breve ponta em "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido" (2014), basta um olhar mais atento para reparar.
Entretanto, é em "Os Novos Mutantes" (2020) que, pela primeira vez, o personagem é interpretado por um... brasileiro: Henry Zaga, mas pode chamá-lo de Henrique Gonzaga.
De Brasília, Henry fez "13 Reasons Why", série da Netflix que rendeu muita polêmica já na estreia devido à abordagem do suicídio. Ainda sem muitas chances no cinema, ele segue firme nas séries do streaming: "Quem É Você, Alasca?" (Hulu), "Gatunas" (Netflix) e "The Stand" (CBS All Access).
À primeira vista, a escolha de um brasileiro para interpretar um brasileiro tende a ser um bem-vindo apuro na caracterização, mas não é bem assim. Em "Os Novos Mutantes", a russa Illyana Rasputin é interpretada pela americana Anya Taylor-Joy, sem qualquer pudor.
Ou seja, representatividade importa quando adaptável a outros contextos, econômicos especialmente.
Seria Zaga escalado se não tivesse feito "13 Reasons Why"? No elenco de "Mutantes", todos, sem exceção, têm passagens por produções famosas: Maisie Williams em "Game of Thrones", Charlie Heaton em "Stranger Things", Blu Hunt em "The Originals" e Taylor-Joy em "A Bruxa" (2015) e "Fragmentado" (2016).
Não foi por acaso.
Se pinçar atores em ascensão é comum em blockbusters, ter uma marca de sucesso no currículo atrai para si o reconhecimento do fã, elemento crucial numa produção em busca do público jovem. Claro, se for possível associar representatividade, como no caso de Zaga, melhor ainda. Mas não foi bem o caso.
Mancha Solar é mais um caso de "whitewashing", já que nos quadrinhos o personagem é negro.
O diretor Josh Boone comentou sobre o tema, escancarando de vez o preconceito social:
Não me importei sobre o racismo que ouvi no Brasil, peles claras contra peles escuras. Queria alguém que parecesse ter nascido em berço de ouro, que tivesse um pai muito rico.
Tsc tsc.
Dos quadrinhos para o cinema
Nas HQs, Roberto da Costa tem família rica e jogava futebol quando seus poderes despertaram —no cinema, esqueça a parte desportiva! Seu poder, a capacidade de transformar energia solar em força, se mantém. No filme, ele esquenta quando sente-se ameaçado ou com tesão.
O Mancha Solar do longa é um típico adolescente com hormônios em ebulição, que usa cantadas em português: "olá, gatinha"! Ainda na comparação com as HQs, há uma diferença visual: no filme, as chamas negras ganham tons avermelhados. Ele também não pode voar, como Roberto aprendeu sendo super-herói.
No filme, Mancha Solar se adequa à proposta de "Os Novos Mutantes" de mostrar os poderes que emergem na adolescência como um fardo com o qual é preciso lidar. Trata-se de um personagem cujas insinuações apontariam um futuro promissor, caso a franquia seguisse adiante.
Não por acaso, o diretor Josh Boone declarou que a sequência seria também situada no Brasil, explorando sua origem.
Em tempo: nos quadrinhos, Roberto chegou a assumir a liderança dos U.S. Avengers, versão patriota da maior equipe de super-heróis da Marvel. A escolha de um sul-americano foi uma cutucada no então candidato à presidência Donald Trump, que pregava a construção de um muro na fronteira com o México.
HQ também é política.
Tá, mas e a Alice Braga?
Se é difícil ver um ator brasileiro em uma produção internacional, dois reunidos é algo raríssimo! Isto acontece em "Os Novos Mutantes" graças à presença de Alice Braga, com carreira consolidada fora do país.
Protagonista da série "A Rainha do Sul", ela já esteve em "Eu Sou a Lenda" (2007), "Predadores" (2010), "Elysium" (2013), está em "We Are Who We Are", série da HBO, e estará no novo "Esquadrão Suicida" (2021), dirigido por James Gunn.
A diferença é que Alice não interpreta uma personagem brasileira: latina, a doutora Cecilia Reyes acompanha os mutantes em seu cárcere. Capaz de criar campos de força ao redor de pessoas e objetos, é ela quem testa e acompanha os cinco jovens, transmitindo detalhados relatórios ao seu mentor.
Quem? Só vendo o filme.
Curiosamente, esta não é a primeira vez que Alice atua com um compatriota fora do país. Em "Elysium", esteve ao lado de Wagner Moura. Por outro lado, entre seus novos projetos está uma produção brasileiríssima: "Eduardo e Mônica", adaptação do hit da Legião Urbana.
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