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Alice Braga e Henry Zaga: os brasileiros de 'Os Novos Mutantes'

alice braga e henry zaga
alice braga e henry zaga
Reprodução

Colaboração para Splash, em Lisboa

23/10/2020 04h00

Que Mancha Solar é o primeiro super-herói brasileiro da Marvel, isso todo bom fã de quadrinhos sabe. Que ele aparece em uma breve ponta em "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido" (2014), basta um olhar mais atento para reparar.

Entretanto, é em "Os Novos Mutantes" (2020) que, pela primeira vez, o personagem é interpretado por um... brasileiro: Henry Zaga, mas pode chamá-lo de Henrique Gonzaga.

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Henry Zaga - Divulgação - Divulgação
Henry Zaga em "13 Reasons Why"
Imagem: Divulgação

De Brasília, Henry fez "13 Reasons Why", série da Netflix que rendeu muita polêmica já na estreia devido à abordagem do suicídio. Ainda sem muitas chances no cinema, ele segue firme nas séries do streaming: "Quem É Você, Alasca?" (Hulu), "Gatunas" (Netflix) e "The Stand" (CBS All Access).

À primeira vista, a escolha de um brasileiro para interpretar um brasileiro tende a ser um bem-vindo apuro na caracterização, mas não é bem assim. Em "Os Novos Mutantes", a russa Illyana Rasputin é interpretada pela americana Anya Taylor-Joy, sem qualquer pudor.

Ou seja, representatividade importa quando adaptável a outros contextos, econômicos especialmente.

Seria Zaga escalado se não tivesse feito "13 Reasons Why"? No elenco de "Mutantes", todos, sem exceção, têm passagens por produções famosas: Maisie Williams em "Game of Thrones", Charlie Heaton em "Stranger Things", Blu Hunt em "The Originals" e Taylor-Joy em "A Bruxa" (2015) e "Fragmentado" (2016).

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Não foi por acaso.

CCXP - Mariana Pekin/UOL - Mariana Pekin/UOL
O diretor Josh Boone, o ator brasileiro Henry Zaga e o quadrinista Bill Sienkiewicz falam sobre "Os Novos Mutantes" na CCXP
Imagem: Mariana Pekin/UOL

Se pinçar atores em ascensão é comum em blockbusters, ter uma marca de sucesso no currículo atrai para si o reconhecimento do fã, elemento crucial numa produção em busca do público jovem. Claro, se for possível associar representatividade, como no caso de Zaga, melhor ainda. Mas não foi bem o caso.

Mancha Solar é mais um caso de "whitewashing", já que nos quadrinhos o personagem é negro.

O diretor Josh Boone comentou sobre o tema, escancarando de vez o preconceito social:

Não me importei sobre o racismo que ouvi no Brasil, peles claras contra peles escuras. Queria alguém que parecesse ter nascido em berço de ouro, que tivesse um pai muito rico.

Tsc tsc.

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Dos quadrinhos para o cinema

Nas HQs, Roberto da Costa tem família rica e jogava futebol quando seus poderes despertaram —no cinema, esqueça a parte desportiva! Seu poder, a capacidade de transformar energia solar em força, se mantém. No filme, ele esquenta quando sente-se ameaçado ou com tesão.

O Mancha Solar do longa é um típico adolescente com hormônios em ebulição, que usa cantadas em português: "olá, gatinha"! Ainda na comparação com as HQs, há uma diferença visual: no filme, as chamas negras ganham tons avermelhados. Ele também não pode voar, como Roberto aprendeu sendo super-herói.

No filme, Mancha Solar se adequa à proposta de "Os Novos Mutantes" de mostrar os poderes que emergem na adolescência como um fardo com o qual é preciso lidar. Trata-se de um personagem cujas insinuações apontariam um futuro promissor, caso a franquia seguisse adiante.

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Não por acaso, o diretor Josh Boone declarou que a sequência seria também situada no Brasil, explorando sua origem.

Mancha Solar - Divulgação - Divulgação
Mancha Solar, o mutante brasileiro no universo "X-Men"
Imagem: Divulgação

Em tempo: nos quadrinhos, Roberto chegou a assumir a liderança dos U.S. Avengers, versão patriota da maior equipe de super-heróis da Marvel. A escolha de um sul-americano foi uma cutucada no então candidato à presidência Donald Trump, que pregava a construção de um muro na fronteira com o México.

HQ também é política.

Alice Braga - Divulgação - Divulgação
Alice Braga em cena de 'Os Novos Mutantes'
Imagem: Divulgação
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Tá, mas e a Alice Braga?

Se é difícil ver um ator brasileiro em uma produção internacional, dois reunidos é algo raríssimo! Isto acontece em "Os Novos Mutantes" graças à presença de Alice Braga, com carreira consolidada fora do país.

Protagonista da série "A Rainha do Sul", ela já esteve em "Eu Sou a Lenda" (2007), "Predadores" (2010), "Elysium" (2013), está em "We Are Who We Are", série da HBO, e estará no novo "Esquadrão Suicida" (2021), dirigido por James Gunn.

Cecilia - Reprodução - Reprodução
A personagem Cecilia Reyes, da Marvel
Imagem: Reprodução

A diferença é que Alice não interpreta uma personagem brasileira: latina, a doutora Cecilia Reyes acompanha os mutantes em seu cárcere. Capaz de criar campos de força ao redor de pessoas e objetos, é ela quem testa e acompanha os cinco jovens, transmitindo detalhados relatórios ao seu mentor.

Quem? Só vendo o filme.

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Curiosamente, esta não é a primeira vez que Alice atua com um compatriota fora do país. Em "Elysium", esteve ao lado de Wagner Moura. Por outro lado, entre seus novos projetos está uma produção brasileiríssima: "Eduardo e Mônica", adaptação do hit da Legião Urbana.