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Monalisa é uma Kardashian? Fofocas do Renascimento viram memes em threads

A Mona Lisa de Leonardo da Vinci em exposição no Louvre
A Mona Lisa de Leonardo da Vinci em exposição no Louvre
ERIC FEFERBERG / AFP

Colaboração para Splash

17/10/2020 04h00

Caravaggio pudim de ódio, Da Vinci pegador e Vasari fofoqueiro. É dessa forma inusitada que Ari Noert leva para o Twitter as mais doidas curiosidades do mundo da arte - especialmente pintura, arquitetura e escultura - e deixa aquele gostinho de quero mais com suas threads "memísticas".

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Quem o acompanha na rede social fica sabendo que movimentos culturais como o Renascimento não ficam devendo em nada a qualquer reality show atual em termos de confusão e gritaria.

Que o diga a treta homérica entre Leonardo Da Vinci e Michelangelo que durou anos e é cheia de reviravoltas:

Ari é artista, formado em Psicologia e Design Gráfico, trabalha com fotografia e 3D e é pós-graduando em História da Arte. Ou seja, a arte é sua paixão. Ao Splash, ele conta que seu interesse pelo tema começou ainda na infância, principalmente por influência da mãe, que tem a pintura como hobby.

Essa paixão por arte e por entender o processo criativo de outros artistas me seguiu pela vida. Eu fiz outras coisas, mas no final acabei aqui, como a maioria deles: sem dinheiro porém criativamente satisfeito.

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Giorgio Vasari: fofoqueiro, mas pode chamar de primeiro biógrafo de artistas.

A camada de humor que Ari joga por cima de um assunto geralmente tratado mais erudito e que, supostamente, 'não é para todo mundo' acaba atraindo vários seguidores interessados em saber mais sobre nomes já familiares e outros nem tanto. Sempre embasado em boas fontes de pesquisa.

Acumulei muitas informações sobre história da arte ao longo da vida e quando lembro de um detalhe ou outro que acho interessante, faço uma pesquisa mais aprofundada e crio uma thread. Mas não é nada sério, meu objetivo é fazer as pessoas se interessarem pelo tema e procurarem mais sobre eles.

O que de fato já aconteceu?

Eu deixo as fontes, indico outras mais, e sempre recebo muitas mensagens de pessoas falando que começaram a pesquisar o assunto por causa de algo que viram numa thread minha. Algumas até decidem entrar pro meio acadêmico da História da Arte, e isso é muito gratificante para mim.

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Para Ari, para que essa aproximação entre público e arte seja frequente, a linguagem faz toda a diferença.

Acho que a forma como a arte é abordada no geral espanta as pessoas pra bem longe dela. Geralmente tudo é feito em linguagem pseudo acadêmica, que além de tediosa vai ser de difícil compreensão pra quem está começando a conhecer o assunto, fora, é claro, o fato de ser algo extremamente elitista.

Da Vinci procrastinador como qualquer outro mortal.

Sempre me pareceu que a arte foi sequestrada pelas pessoas mais chatas do mundo, ainda que os artistas não tenham nada a ver com isso.

E quer plataforma melhor que o Twitter para deixar o assunto mais popular? A energia caótica da rede social é perfeita para associar Monalisa à Kim Kardashian!

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No Twitter as coisas acontecem muito rápido, todo mundo tem uma torta de opiniões sobre tudo para servir pra você, imediatamente. No meio desse caos, é bom ter um alívio cômico. Falar de história da arte dessa forma diverte as pessoas e faz muitas delas procurarem pelo assunto seriamente depois.

Apesar da receptividade nas threads, Ari conta que quando começou era criticado e até atacado por pessoas que não concordavam com sua forma descontraída de abordar o assunto. Ele observa ainda que tem percebido mais perfis falando de arte dessa maneira mais light no Twitter "e isso é ótimo".

Claro que todo mundo sabe que ela não é feita com meus memes exagerados e que a vida dos artistas não é um fator tão importante, mas de alguma forma eu fico feliz de despertar esse primeiro interesse em alguém.

Caravaggio, um doce de pessoa.

Rafael Sanzio é outro personagem frequente nas threads da conta @arinoert já que o pintor e arquiteto italiano é seu artista favorito: Acho incrível a ascensão meteórica dele, todo o prestígio e as desavenças com Michelangelo porque o palácio do Vaticano era pequeno demais para o ego deles.

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Apesar da preferência atual, Ari explica que em cada fase da vida teve um artista diferente lhe servindo de inspiração, "feito um amigo imaginário". Além disso, por ser daltônico, sua conexão com as pinturas se dá de forma diferente e a cor acaba se tornando secundária.

Seja como for, o vínculo que cada pessoa cria com a arte é único e pode ser tão intenso a ponto de o corpo ter reações que podem ir de um simples choro de admiração a desmaios, a exemplo da Síndrome de Stendhal. É doida, mas sem ela a vida não teria a mesma graça.