Muita gente deve ter maratonado "Bom Dia, Verônica", nova e envolvente série brasileira da Netflix, sem entender Janete. A personagem de Camila Morgado é a mulher de um serial killer e muitas vezes não tem força para se opor ao marido violento; por isso, Splash pediu para a atriz defendê-la.

Esse tipo de violência doméstica por qual a Janete passa tem manipulação psicológica, um longo processo de esquecimento de quem ela é. O agressor causa esse processo, você vai perdendo sua autonomia, dignidade. Na série, isso é muito claro quando a irmã chega e mostra quem a Janete era.

Incompreendida, Janete tem medo: apanha, é fiscalizada e não tem acesso à internet ou à própria família. Denunciar pode ser difícil.

Mas Camila ressaltou o fato de que ela chama Verônica (Tainá Muller) para denunciar o marido (Eduardo Moscovis), um policial que a agride em casa e estupra as vítimas.

É legal quando a Janete começa a falar para a Verônica, porque esse é um processo de se escutar. É muito importante que essas mulheres denunciem, que falem e se comuniquem entre elas. Que isso chegue até um lugar que possa acolhê-las.

A pandemia do novo coronavírus piorou a situação de pessoas como Janete no Brasil: o número de denúncias diminuiu (sinal de que elas podem ter encontrado mais dificuldades), mas os assassinatos de mulheres cresceram.

Isso faz parte da nossa realidade. A gente pode ver agora, com a pandemia, o aumento de casos de violência doméstica. O que não está no nosso dia a dia é porque a gente não nomeia. Eu aprendi que se a gente não nomear, a gente não consegue entender o que está acontecendo. É importante falar.

Isso acontece, sim, isso é real. A Ilana Casoy, que também escreve o roteiro, me falou muito isso: às vezes a manipulação é tão sutil que a mulher acha que não é vítima, que ela também é responsável pela atitude do marido. Isso é mentira, não existe argumento para esse tipo de violência.