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Padre Marcelo: 'O empurrão me abriu um instrumento novo'

Padre Marcelo Rossi é empurrado do palco por mulher em missa em Cachoeira Paulista (SP)
Padre Marcelo Rossi é empurrado do palco por mulher em missa em Cachoeira Paulista (SP)
Reprodução

De Splash, em São Paulo

23/09/2020 12h19

Padre Marcelo Rossi está pronto para falar de seu "Batismo de Fogo". A forma como o religioso escolheu chamar o episódio em que levou um empurrão durante uma celebração, no ano passado, também dá nome ao seu mais novo livro (Planeta). Sua obra mais íntima que chega no "momento escolhido por Deus".

Meu objetivo era lançar o livro no dia 14 de julho, que marcaria um ano do empurrão. Mas quis Deus que fosse em 14 de setembro, a Exaltação da Santa Cruz Padre Marcelo Rossi

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A data celebrada pelos cristãos exalta a vitória de Jesus sobre o pecado, a morte e o demônio. Forças que também não derrubaram Padre Marcelo no fatídico episódio que ele evita chamar de atentado. Depois de cair de uma altura de mais de dois metros do palco em que celebrava, o padre saiu ileso.

A dor que sentia naquele momento era a mais forte que já havia sentido em toda a minha vida. Tão forte que não conseguia pensar racionalmente em mais nada. Trecho de 'Batismo de Fogo'

Capa padre marcelo - Divulgação/Planeta - Divulgação/Planeta
Imagem: Divulgação/Planeta

Os ensinamentos que Padre Marcelo tirou do empurrão conduzem as reflexões ao longo do livro, que também tem um ar de biografia. Em uma autoanálise, ele conta sobre outros momentos de provação que enfrentou ao longo da vida, como um grave acidente de carro e a já conhecida batalha contra a depressão.

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"Em 2017, fui fazer o jubileu de 50 anos em Roma, fui um dos pregadores no Coliseu, e foi uma emoção muito grande atingir pessoas do mundo todo. Lá, falei sobre a minha vida e surgiu a ideia de escrever um livro de coração para coração, um testemunho pessoal."

Padre Marcelo - Martin Gurfein/Divulgação - Martin Gurfein/Divulgação
Imagem: Martin Gurfein/Divulgação

Dois anos depois, o empurrão só provaria que era o momento de renovar sua vocação. Segundo o padre, o milagre de ter sobrevivido à queda, testemunhada por 100 mil pessoas, trouxe de volta quem tinham se afastado da igreja. O ministério triplicou de tamanho.

Eu me preparei para o novo. O empurrão me abriu um instrumento novo.

Analisando o episódio entre o apagão e a reconexão, o padre ainda justifica não ter feito um B.O. contra sua agressora. Segundo o religioso, tudo o que ele poderia desejar para a pessoa estava em ressignificar a sigla. No livro, ele reafirma:

Meu B.O. é Bíblia e Oração

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A força inexplicável que senti vinha da percepção de que tudo se encaixava. Todos estamos suscetíveis a ataques mal-intencionados, mas Deus nos protege e nos dá força sempre. Trecho de 'Batismo de Fogo'

Apesar de ter escrito o livro antes da pandemia, padre Marcelo incluiu ajustes. A depressão, que fez com que ele chegasse a 60 kg mesmo com 1,95 m de altura, é uma pauta em que ele insiste. O objetivo é falar direto com os que sofrem e ainda vão sofrer com o mal, especialmente no momento atual.

Eu creio e a vacina já está aí a caminho. Mas após a pandemia teremos outro problema, que é a depressão.

Padre Marcelo - Martin Gurfein/Divulgação - Martin Gurfein/Divulgação
Imagem: Martin Gurfein/Divulgação
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A vontade de falar mais abertamente sobre sua depressão e seus momentos de fraqueza vem como mais um propósito na vida de Padre Marcelo. Novamente, ele reforça a positividade de enxergar propósito em tudo o que cruzou sua trajetória e transformar o mal em bem.

Sempre mexeu comigo a história de José. Está em Gênesis 50:20. 'Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos.'

Padre Marcelo - Martin Gurfein/Divulgação - Martin Gurfein/Divulgação
Imagem: Martin Gurfein/Divulgação

O padre também abre as páginas de sua vida antes da igreja, o uso de anabolizantes e culto ao corpo, momento em que perdeu a fé, um breve período que serviu o Exército e sua aversão às armas, que tem relação também com um episódio trágico: o suicídio do seu avô, ex-militar, com um tiro.

Isso é um dos motivos que eu nunca gostei de arma. Lutei artes marciais e sempre fui contra as armas. Hoje vejo o dedo de Deus. Fui ser armeiro e aprendi a questão do foco. Muito ou pouco usada, a arma tem que ser recalibrada.

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Ainda que seguro de sua posição, padre Marcelo reforça que não é seu papel julgar decisões alheias, como novas leis que facilitam o acesso às armas no Brasil. Para ele, isso atrapalharia o que sempre defendeu com base na Bíblia: o diálogo.

Não é minha função ser tribunal. Temos um mundo hoje que as pessoas pegam, julgam e condenam. Não me cabe ser tribunal, minha função é ser hospital. Minha função como sacerdote é acolher e salvar.