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50 anos sem Hendrix: como Jimi desbundou grandes guitarristas brasileiros

Jimi Hendrix
Jimi Hendrix
Reprodução

De Splash, em São Paulo

18/09/2020 04h00

Se no futebol existe Pelé, no basquete, Michael Jordan e na física, Albert Einstein, na guitarra há alguém chamado James Marshall Hendrix. O "maior guitarrista de todos os tempos" morreu há exatos 50 anos, no auge, deixando para nós um legado de magnitude cósmica —de onde provavelmente ele veio.

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OK, você prefere a "mão lenta" do "deus", Eric Clapton, a técnica e velocidade absurdas de Eddie Van Halen ou misticismo único de Jimmy Page. Mas responda sinceramente: algum deles foi maior, mais revolucionário e influente que o cometa Jimi Hendrix? Er.... Difícil.

Essa era nossa teoria, e ela foi confirmada por seis expoentes da guitarra brasileira: Andreas Kisser (Sepultura), Kiko Loureiro (Megadeth), Edgard Scandurra (Ira!), Robertinho do Recife, Edu Ardanuy (Dr. Sin) e Lanny Gordin. E eles foram além: dá pra sintetizar a viagem "hendrixeana" em três pontos.

  • Ele colocou a guitarra, instrumento antes relegado ao acompanhamento, como protagonista da música
  • Ele abusou de solos, experimentação e pedais de distorção, como fuzz e wah-wah, "inventando" o rock pesado
  • Ele investiu no visual e performance incendiária, anos à frente dos já revolucionários anos 60
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E tudo isso sem falar na qualidade de um compositor que soube sintetizar a experiência da contracultura em 'Foxy Lady', 'Purple Haze', 'Little Wing', 'The Wind Cries Mary', que viraram cânone para guitarristas

E que lindeza é 'The Wind Cries Mary', né?

Curiosidade

Você sabia que Hendrix, filho de pai negro com mãe de origem indígena cherokee —isso explica o visual e a performance ritualística—, nunca um look no palco e tinha um cuidado minucioso com cada detalhe das roupas? A combinação de cores na estética psicodélica era fundamental para ele.

Um mito (DE VERDADE) é um mito

Agora só imagina o desbunde que era testemunhar tudo isso ao vivo

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Aos novinhos que não sabem o que é "desbundar"

(des + bunda + ar)

verbo transitivo

  1. Causar sensação, impacto = DESLUMBRAR
  2. Perder o controle, a compostura.
  3. Divertir-se euforicamente = FARRAR

Praticamente a definição do que é ver e ouvir Jimi Hendrix pela primeira vez, coisa que até Miles Davis já sentiu

Mas voltando aos guitarristas. Se todos que vieram depois dele têm uma faisquinha psicodélica no coração, como deve ter sido o primeiro contato? Mágico, né? Perguntamos a eles.

Conheci criança, e ele abriu minha cabeça. Era uma quantidade de timbres. Uma viagem sensorial de pedais, microfonia, alavanca. Tem um momento da música 'Midnight' que parece que a guitarra está embaixo d´água. Difícil explicar. Uma sonoridade que até hoje transcende.
Edgard Scandurra, canhoto como o ídolo, e que diz ter sofrido a perda dele como se fosse um parente

Edgard Scandurra - Reinaldo Canato/UOL - Reinaldo Canato/UOL
Edgard Scandurra
Imagem: Reinaldo Canato/UOL
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O Edgard, que já tocou com Billy Cox, baixista de Hendrix, estava falando desta música aqui. E é realmente impressionante

Já o Robertinho do Recife disse que foi "apresentado" a Jimi Hendrix por um amigo na adolescência, pelo LP "Electric Ladyland", o mesmo de Edu Ardanuy. E ele ficou tão transtornado com "Voodoo Child" que gastou o disco de tanto escutá-lo em rotação lenta, na inútil tentativa de aprender as notas.

Eu não tinha pedal wah-wah e não entendia o que saía. Aprendi inglês por causa do Hendrix, para saber o que ele falava. Fiquei vidrado. Ele me ensinou o conceito do 'do by yourself'. Na época a gente até criou pedal de distorção com rádio de pilha para melhorar o som.
Robertinho do Recife

Falamos de "Voodoo Child (Slight Return)"?

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Já Kiko Loureiro e Andreas Kisser conheceram Hendrix de um jeito parecido. Assistindo aos filmes dos festivais de Monterrey, quando ele ateou fogo na guitarra, e Woodstock, quando tocou o hino nacional americano usando os dentes para protestar contra a guerra do Vietnã. E a onda bateu firme.

Era moleque quando vi o VHS do show de Monterrey. Nunca fui superfã, mas já gostava de ir atrás das fontes dos guitarristas que eu ouvia. Hendrix foi um semeador, um músico de transição. Existe antes e depois dele. Trouxe um contexto social muito forte. Ninguém consegue escapar.
Kiko Loureiro

Kiko Loureiro - O guitarrista Kiko Loureiro (FOTO: Reprodução) - O guitarrista Kiko Loureiro (FOTO: Reprodução)
Kiko Loureiro
Imagem: O guitarrista Kiko Loureiro (FOTO: Reprodução)

E olha a honra de Splash. Falamos também com o "Jimi Hendrix brasileiro", Lanny Gordin, que tocou com todo mundo que importa na MPB e enxertou distorção a discos de Gal, Gil e Caetano. No fim dos anos 60, ele também foi um dos primeiros a tocar covers de Hendrix no Brasil, à frente dos Beatniks.

Jimi tinha um talento e criatividade fora do comum. Fiquei apaixonado e passei a tocar e me vestir como ele nos bailes. Acho que para aparecer um novo Jimi Hendrix a sociedade precisa evoluir espiritualmente. Porque quando a gente evolui, a música evolui junto. E o Hendrix era muito evoluído.
Lanny Gordin

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Lanny Gordin - Manuela Scarpa/Foto Rio News - Manuela Scarpa/Foto Rio News
Lanny Gordin
Imagem: Manuela Scarpa/Foto Rio News

Bom gancho esse do Lenny. Será que um dia teremos um "novo" Jimi Hendrix, um guitarrista capaz de transformar o mundo como ele fez?

Único. Lenda. Pai de todos. Um viva ao extraterrestre chamado James Marshall Hendrix.

Porque sabemos que, depois de apenas 27 na Terra, ele só pode ter voltado pra casa.