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Regina Casé: 'Enquanto o olhar era o da sala, eu não ia ser a mocinha'

Regina Casé como Madá no filme 'Três Verões'
Regina Casé como Madá no filme 'Três Verões'
Divulgação

De Splash, em São Paulo

08/09/2020 09h34

"Amor de Mãe" e nossa Lurdes só voltam em 2021, mas a gente já pode matar as saudades de Regina Casé nas telas.

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Ela é a estrela de "Três Verões", filme de Sandra Kogut que foi adiado pela pandemia, mas finalmente estreou na semana passada em cinemas drive-in por todo o Brasil. E logo logo, a partir do dia 16, ele estará disponível também no Telecine.

É completamente diferente, mas a possibilidade do drive-in e dos streaming é animadora. Ninguém aguentava mais esperar, a gente estava louco de vontade de mostrar o filme para todo mundo.
Regina Casé, em entrevista a Splash

A gente também não aguentava mais esperar, já que a gente viu o filme lááá em março, antes de a covid-19 fechar os cinemas e bagunçar a nossa vida.

Splash bateu um papo ótimo com Regina, em que ela falou sobre seus papéis no cinema e na TV, a importância de representar tantas mulheres brasileiras e o que ela ainda sonha em fazer.

Mas antes... 'Três Verões', é bom?

Sim! O filme tem uma história muito original que é contada de um jeito sensível e, em vários momentos, muito divertido. Você vai rir, chorar e pensar, tudo em pouco mais de uma hora. E é uma delícia ver Regina Casé brilhar.

regina casé em três verões - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

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Mulheres simples

Em "Três Verões", Regina é Madá, caseira em uma mansão à beira-mar. Ela e os outros empregados têm que se virar quando o patrão é preso de repente em um escândalo, desses que a gente vê toda hora nos sites de notícias.

Madá é bem-humorada e criativa, e tem uma personalidade bem diferente da de Lurdes, da novela global, ou da de Val, a empregada que ela fez no elogiado "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert.

Mas isso não impediu que muitas pessoas ao redor da atriz trouxessem uma preocupação de ela fosse ficar marcada pelos papéis de domésticas.

Uma preocupação que passa bem longe dela.

Identifiquei nessa preocupação um preconceito. Quantas mulheres simples e quantas empregadas existem no Brasil, para quantas patroas? O natural era que nosso cinema e nossa dramaturgia tivessem muito mais papéis de empregadas como protagonistas. Eu fico honrada de ser convidada a fazer as poucas que aparecem

regina tres veroes - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

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Regina passou boa parte de sua carreira apresentando programas como "Esquenta", "Brasil Legal" e o "Central da Periferia" —onde encontrou um lugar justamente para poder contar as histórias de quem não aparecia tanto assim no horário nobre.

Acho que uma mulher com o meu tipo físico e da minha idade talvez só tenha podido protagonizar uma novela agora. Enquanto o olhar era da sala para a cozinha, eu não ia ser a mocinha, eu não ia ser a lindinha da novela. Achei um outro lugar para mim, para dizer as minhas ideias.

regina casé esquenta - Divulgação/Globo - Divulgação/Globo
Regina no 'Esquenta', programa que ela comandou de 2011 a 2017
Imagem: Divulgação/Globo

Antes de ser a apresentadora do povo, Regina teve uma extensa carreira como atriz. Mas só quando a TV e os filmes se abriram a esses novos papéis foi que ela se sentiu atraída para voltar a atuar (e virar protagonista de uma novela das 21h).

E isso significa muita coisa.

Aquela dramaturgia nem me instigava tanto quanto essa de agora. Com essa inversão, essas mulheres que eu representei no 'Esquenta', no 'Central da Periferia' viraram protagonistas. Foi o que me fez largar aquilo e vir para esse lado. O que me interessa é estar representando esses valores, as coisas que eu acredito.

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A atriz 'mais brasileira'

Regina conta que já ouviu de muita gente que era "a atriz mais brasileira". E foi também por causa disso que a diretora Anna Muylaert a escolheu como a Val de "Que Horas Ela Volta?".

Pelo papel, ela ganhou o prêmio de atuação no Festival de Sundance, um dos mais importantes do mundo, ao lado de Camila Márdila.

A Anna me disse que só eu poderia fazer aquele papel. Ela disse 'eu tinha que achar uma mulher que não fosse nem branca, nem negra, nem índia. Ou que fosse tudo isso'. E aí ela me escolheu. Isso para mim é melhor do que todos os prêmios que ganhei com aquele filme. Poder ter isso no meu corpo, na minha voz, na minha experiência de vida

Regina como Val em 'Que Horas Ela Volta?' - Divulgação - Divulgação
Regina como Val em 'Que Horas Ela Volta?'
Imagem: Divulgação

E sabe qual é o papel que Regina Casé ainda sonha em fazer?

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Eu tenho muita vontade de fazer uma imigrante brasileira fora do Brasil, essas mulheres que vão trabalhar na cafeteria, dirigir van, tenho até um projeto na cabeça. Acho que é o auge do que as pessoas identificam em mim.

Xô, haters!

E é claro que Regina vê uma grande semelhança entre a Madá de "Três Verões" e a Lurdes de "Amor de Mãe": as duas são verdadeiros antídotos anti-haters para esses tempos cheios de ódio que estamos vivendo.

É quase um Instituto Butantã. Elas são cápsulas de soro antiofídico. São antídotos de muito amor que é pra apaziguar esses 'odiadores' todos.