'Tron: Ares' traz Jared Leto em um belíssimo pastel de vento
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O conceito básico de "Tron", filme lançado em 1982 e que causou uma revolução tecnológica no cinema, era mostrar que havia vida inteligente no mundo digital. Em tempos de discussões calorosas sobre os limites da inteligência artificial, especialmente no mundo do entretenimento, retomar essa premissa na arena da ficção científica parecia uma proposta intrigante.
"Tron: Ares", contudo, fica somente na promessa. A expansão deste mundo digital ignora seu potencial como obra provocativa e se contenta em ser mera aventura de fantasia, esquemática e sem riscos. A inovação sugerida ao final de "Tron: O Legado" em 2010 - que seres da fronteira virtual poderiam existir no mundo real - é executada sem o menor deslumbramento e com uma certa frieza, incompatíveis com tamanha revolução.
Talvez o diretor Joachim Rønning ("Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar", "Malévola: Dona do Mal") não fosse a melhor escolha para conduzir um novo "Tron". Seus filmes invariavelmente sugerem um escopo que fatalmente nunca se concretizam. Com o desenvolvimento de "Ares" emperrado por anos, contudo, o estúdio achou por bem colocar o projeto nas mãos de um operário e dar continuidade à marca. São escolhas.

Ambientado mais de uma década depois dos acontecimentos de "Tron: O Legado", lançado em 2010, "Ares" começa explicando a rivalidade da Encom, empresa criada anos antes por Kevin Flynn (Jeff Bridges) e hoje presidida por Eve Kim (Greta Lee), com a Dillinger Systems, encabeçada por Julian (Evan Peters), neto de seu criador (David Warner no filme original). A ideia de Julian é militarizar sua tecnologia revolucionária, capaz de materializar soldados e equipamentos digitais para o mundo real - entre eles seu "general", Ares (Jared Leto).
O problema é que os construtos não se sustentam por mais de meia hora antes de se evaporarem como os resíduos deixados por uma impressora 3D. A solução é descoberta por Eve: um código de permanência escondido no grid original desenhado por Kevin Flynn nos anos 1980. O programa a torna alvo das forças despachadas por Julian - Ares e Athena (Jodie Turner-Smith), uma ambiciosa combatente virtual. A missão azeda, contudo, quando Ares desenvolve consciência e empatia e opta por defender Eve.
A trama de "Tron: Ares" é conduzida da forma mais rasa possível. Personagens entram e saem do mundo digital para o real sem muita cerimônia. Uma única cena - um hacking mostrado no grid como uma verdadeira invasão de forças antagônicas - é um dos poucos respiros criativos do filme. A conexão com seus predecessores é tênue - a volta de Jeff Bridges como Kevin Flynn é protocolar e não acrescenta muito além do óbvio fator nostalgia. A trilha do Nine Inch Nails é joia, mas pode ser saboreada à parte.

Jared Leto, por sua vez, não compromete como Ares. Embora a mudança da postura de seu personagem jamais seja explicada - assim como a devoção cega de Athena aos caprichos de Dillinger -, o ator não parece um intruso na arena do blockbuster como ocorreu quando fez o Coringa em "Esquadrão Suicida" ou o vampiro Morbius do universo Marvel. Não que seu Ares exija muita musculatura dramática, mas ao menos ele abraça corretamente o papel de herói.
Em um mercado regido por marcas, "Tron: Ares" é uma fantasia convencional, um filme de ação eficiente, mesmo que desprovido de qualquer chama criativa. Sem a inovação tecnológica transformadora de "Tron", muito menos a continuidade elegante de "Tron: O Legado", funciona unicamente como ficção científica ligeira para manter a roda girando. Tão belo quanto frio, "Tron: Ares" é exemplo involuntário do uso de inteligência artificial no cinema: parece, de ponta a ponta, um produto manufaturado sem nenhuma intervenção de mãos humanas.






























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