Roberto Sadovski

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Reportagem

Danny Boyle fala sobre a evolução da espécie em seu novo 'Extermínio'

Lançado em 2002, "Extermínio" ganhou status cult e marcou a cultura pop ao criar uma distopia em que a civilização, ao menos sua porção no Reino Unido, esfarela-se quando um vírus transforma a população em zumbis infectados com raiva. Mais de duas décadas depois, o diretor Danny Boyle e o roteirista Alex Garland retornam a este microcosmo com "Extermínio: A Evolução", filme que chega em estranha sintonia com o mundo real.

Logo no começo de meu papo com a dupla, foi inevitável não trazer a similaridade das imagens de uma Londres deserta no começo de "Extermínio" com cidades em todo o mundo paralisadas pela pandemia da covid. O diretor se apressa em falar o quanto a experiência ajudou a colocar seu elenco em sintonia com a estranheza que o novo filme pedia.

"Do ponto de vista narrativo, a pandemia foi uma ferramenta perfeita", explica. "Assim como a Londres deserta em 'Extermínio', tivemos capitais por todo o mundo rendidas da mesma maneira." Ele ressalta o sentimento de desconexão em ver uma cidade daquela forma da noite para o dia. "Houve um valor ainda mais profundo aprendido com a experiência", continua.

Futuro imprevisível

"Nosso comportamento mudou ao longo da pandemia, as pessoas se arriscam mais com o tempo mesmo sob risco, a curiosidade se impõe", teoriza Boyle, enfatizando os 28 anos desde o início do contágio no universo descrito no filme. "Na nova história bolamos situações de extremo risco, o que não seria possível no filme de 2002 porque o perigo era mais imediato", explica. "O período da covid foi útil nesse sentido, não que ninguém queira passar por aquilo de novo. Mas em algum momento provavelmente vai acontecer de novo."

Antever o futuro é, por sinal, um traço estranhamente incomum em filmes que retratam uma distopia. O roteirista Alex Garland, contudo, se apressa em minimizar as habilidades clarividentes do cinema. "Minha teoria é que existem dois tipos de cineastas", dispara Garland, que ano passado escreveu e dirigiu o intenso "Guerra Civil". "Um deles faz filmes sobre outros filmes, geralmente histórias que eles gostavam quando jovens, investigando algo que eles sentiram."

O outro tipo é onde ele se encaixa ao lado de Danny Boyle "São os cineastas que de certa forma reagem ao mundo em torno deles", diz, já amarrando uma explicação. "Um filme leva, digamos, 3 anos para ser feito, então a história, a direção, o comportamento dos atores e o esforço mental em torno de uma produção estão conectados ao que acontece naquele momento." Garlad acredita que, ao longo do processo, é inevitável que algo seja profetizado, como resultado de um esforço que reflete um período: "As coisas se completam naturalmente, mas não há um ato consciente de prever o futuro".

Surge o zumbi alfa

Se existe um elemento consciente em "Extermínio: A Evolução" é a apresentação dos infectados após quase três décadas de contágio. Ao contrário das hordas incontroláveis do filme de 2002, existe agora uma organização em meio ao caos.

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"A chave é a forma que experimentamos os infectados no primeiro filme", conta o diretor. "Eles estavam em frenesi, queimando tanta energia que morreriam rapidamente de inanição rapidamente." As últimas cenas de "Extermínio" mostravam infectados famintos e desidratados, lentamente se apagando.

"Uma das coisas que decidimos para 'Extermínio: A Evolução' foi que o vírus não se permitiria morrer daquela forma, alterando o comportamento de seu hospedeiro", segue Boyle, que revela a existência de pelo menos três "castas" de zumbis. "Os infectados primordiais agora caçam para se alimentar, mas para caçar sem armas é preciso alguma organização." Para isso, esse grupo se organizou como uma matilha, caçando seu alimento ao longo do continente em quarentena: "Quando uma matilha se organiza assim, é inevitável que surja um alfa entre eles".

Neste mundo há também os infectados que decidiram não queimar sua energia, consumir menos e sobreviver num nível mais baixo. "Isso é literal, eles rastejam, se alimentando do que estiver disponível no solo, mas ainda são muito perigosos quando provocados ou estimulados." A evolução final, que acontece mais para o fim do filme, está relacionada com um bebê: "A natureza está em evolução constante".

O templo dos ossos

Essa evolução tem, inclusive, data para continuar. "Extermínio: A Evolução" foi planejado como uma trilogia que explora de forma mais profunda este futuro em que a civilização deu espaço a uma nova ordem, com infectados dividindo espaço com colonos, isolacionistas e fanáticos religiosos que enxergam na epidemia o chamado divido para o armagedon.

O próximo filme, "The Bone Temple", estreia em janeiro com direção de Nia DaCosta e que pode trazer Cillian Murphy, protagonista de "Extermínio", de volta para a história. Mas quando pergunto se o futuro da série está definido, Alex Garland é ligeiro em desconversar: "Tudo está mapeado até o fim".

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