Roberto Sadovski

Roberto Sadovski

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Owen Wilson joga golfe como redenção em 'Stick': 'Saí da zona de conforto'

Um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar. Ao menos essa é a expectativa dos produtores de "Stick", série que navega pelo drama e pela comédia, e busca fazer pelo golfe o que "Ted Lasso" fez pelo futebol: usar o esporte como pano de fundo para uma trama agridoce sobre relações humanas. Se ainda é cedo para alardear um novo fenômeno cultural, a produção encabeçada por Owen Wilson está no caminho certo.

O ator, que recentemente se aventurou no streaming como o coprotagonista de "Loki" para a Marvel, encara aqui um personagem mais mundano. Ele é Pryce Cahill, ex-astro do golfe que viu sua carreira evaporar quando uma tragédia pessoal culminou em uma explosão de fúria na reta final de um campeonato. Prestes a perder a casa quando sua ex-mulher a coloca à venda, ele enxerga uma chance de redenção ao conhecer um prodígio do esporte.

"Gosto da ideia que todo mundo merece uma segunda chance", conta Wilson, que enxergou no golfe uma boa metáfora sólida para questões reais.

"Pryce acredita que a vida nos deve algo em troca de nossas agruras", continua. "Claro que não deve nada, mas é como ele se sente com o golfe, um jogo que só tira da gente até que um dia parece dar algo em retorno."

Owen Wilson e Peter Dager em 'Stick'
Owen Wilson e Peter Dager em 'Stick' Imagem: AppleTV

Esse "retorno" é o encontro do ex-profissional com Santi (Peter Dager), adolescente que se mostra um talento nato para o esporte. Pryce a princípio enxerga nele uma mina de ouro a ser explorada, mas à medida que a relação se aprofunda, ele precisa lidar com esse sentimento. "Ele vê a vida como uma sucessão de jogadas ruins que nos fazem questionar todo investimento em nosso aprimoramento", reflete. "A gente se esforça e no fim nos perguntamos se vale a pena, e eu me identifiquei com isso."

"Stick" logo escala de um acordo entre duas partes para um road movie que abraça mais personagens - além de Pryce e Santi, também caem na estrada Elena (Mariana Treviño), a mãe do jovem; Mitts (o comediante Marc Maron), amigo e ex caddy de Pryce; e Zero (Lilly Kay), uma bartender que se envolve com Santi. "Formamos uma família fragmentada", conta Wilson. "Curtimos os bons momentos e, quando a coisa pega, precisamos aprender a apoiar uns aos outros."

A tragédia e a comédia que permeiam a trama são emolduradas no mundo do golfe - esporte que, convenhamos, não tem um décimo da popularidade do futebol. "Golfe é um esporte único porque nosso primeiro adversário no campo somos nós mesmos", justifica o produtor Jason Keller, que encontrou na AppleTV a parceira ideal para tirar "Stick", uma criação original, da gaveta.

Golfe não é boxe

"Acho fascinante a concentração absoluta necessária para um golfista se destacar", continua Kelly. "Em nossa história cada personagem lida com sua própria bagagem emocional, e mesmo que nem todos estejam no campo as adversidades são as mesmas." Owen Wilson, que também assina a série como produtor executivo, ressalta que a energia dos entusiastas do esporte ajuda a vender a trama: "Mesmo quando desconheço alguma coisa me deixo envolver pela paixão de quem já é iniciado."

Continua após a publicidade

Restava a "Stick" o desafio de fazer do golfe, um esporte por vezes contemplativo, uma experiência vibrante como espetáculo visual. "O golfe não é o boxe ou o tênis", explica Jason Keller, apontando referências esportivas como o clássico "Touro Indomável" e o recente "Rivais". "Existe uma certa poesia no movimento desses esportes que o golfe simplesmente não tem", e continua: "É uma bola branca perdida em uma vastidão verde".

O produtor dá o mérito a seus diretores para traduzir na tela a sensação por vezes vertiginosa inerente ao esporte. "Valerie Ferris e Jonathan Dayton trabalharam por meses para encontrar a maneira de deixar o jogo eficiente e empolgante", ressalta.

"Os diretores que os seguiram, como David Dobkin e Jaffar Mahmood, refinaram esse aprendizado como experiência cinematográfica." Quando "Stick" alcança seus dois últimos episódios, assinados por John Hamburg, a série abraça o jogo por completo com todas as peças funcionando de maneira azeitada.

Medo como combustível

Esse "treinamento" se estendeu a Owen Wilson, e não só para dominar um esporte estranho em sua rotina, mas também para encontrar o equilíbrio perfeito entre drama e comédia. O ator conta que o formato narrativo mais longe de uma série ajudou neste mergulho nos conflitos de Pryce Cahill. "Gostei de fazer 'Loki" pela oportunidade de passar mais tempo com o personagem", lembra. "Interpretar bons personagens nunca me deixa entediado, é como um livro que a gente não quer que termine."

"Eu tenho medo de parecer falso quando trabalho. Esse medo me deixa alerta." Ele recorda do desconforto ao fazer a comédia "Zoolander", em que assumiu uma expressão corporal que não fazia parte de sua personalidade: "Em situações assim é possível me sentir inseguro, outras vezes eu sinto mais controle".

Continua após a publicidade

"Stick" lhe deu oportunidade - e tempo - de explorar um protagonista mais a fundo. "Sair de nossa zona de conforto pode ser bom e empolgante", conclui. "Gosta de não ter certezas, estar aberto a todas as possibilidades e me perder com as pessoas certas."

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.