Roberto Sadovski

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Opinião

Tom Cruise faz de 'Missão: Impossível' o maior espetáculo da Terra

"Correndo em filmes desde 1981." É assim que Tom Cruise se define em suas redes sociais. Não é piada: em mais de quatro décadas de carreira, o maior astro do cinema sempre colocou as pernas para funcionar - especialmente na série "Missão: Impossível", o que chegou a lhe custar um tornozelo quebrado em "Efeito Fallout" numa cena que, por óbvio, está no filme.

É curioso, portanto, perceber que Tom desacelerou (pero no mucho) neste "Missão: Impossível - O Acerto Final", aventura que encerra as atividades do superespião Ethan Hunt. O filme, claro, traz sequências de ação vertiginosas, talvez as mais impactantes da série. Cruise também corre como nunca desde a primeira cena. Mas a trama, escrita e dirigida por Christopher McQuarrie, troca por muitas vezes a adrenalina pela verborragia.

A opção é necessária para posicionar as peças no tabuleiro. Com ecos da trama do primeiro e também do terceiro filme, "O Acerto Final" é continuação direta da trama de "Acerto de Contas", que em 2023 colocou como antagonista uma inteligência artificial que contaminou o ciberespaço, a Entidade. A busca por meios para frear seu avanço, ameaça real para a vida no planeta, coloca Ethan no caminho de Gabriel (Esai Morales), figura enigmática de seu passado que trabalhou em conluio com o algoritmo do mal para seus propósitos de dominação.

Tom Cruise desafia a gravidade em 'Missão: Impossível - O Acerto Final'
Tom Cruise desafia a gravidade em 'Missão: Impossível - O Acerto Final' Imagem: Paramount

No começo de "O Acerto Final", contudo, Gabriel encontra-se abandonado pela Entidade após seu fracasso em adquirir a chave que aponta a única forma de controlá-la. O vilão precisa de Hunt para concretizar seu plano - nosso herói, por sua vez, tem de driblar a desconfiança de um governo que assiste às potências nucleares tombarem ante o avanço da Entidade e é obrigado, ainda que reticente, a depositar a esperança para salvar o mundo nas mãos de um único homem.

O roteiro de "O Acerto Final", embora se mostre bem amarrado quando a poeira assenta, é intrincado e demanda explicação constante - principalmente por somar constantemente um novo nível de dificuldade ao plano de Hunt. Em certos momentos, essa redundância verbal poderia usar uma mão mais firme na edição, assim como certas narrativas abandonadas no meio do caminho. Mas com uma metragem de quase 3 horas, este termina como um pecado perfeitamente perdoável em um filme que nunca parece inchado ou enfadonho.

A arquitetura da trama sempre foi coadjuvante desde o primeiro "Missão: Impossível", que em 1996 deu dor de cabeça ao diretor Brian De Palma justamente para alinhar o texto com a visão de Cruise, seu astro e então produtor estreante. Encontrar o macguffin de cada filme não passava de pretexto para criar sequências de ação exponencialmente ousadas e complexas - a partir do quarto filme, "Protocolo Fantasma", Cruise se revelou um verdadeiro viciado em adrenalina e abandonou juízo e limites, tudo em nome de obter a cena perfeita.

Ethan Hunt (Tom Cruise) desce às profundezas do oceano em nome da nova 'Missão'
Ethan Hunt (Tom Cruise) desce às profundezas do oceano em nome da nova 'Missão' Imagem: Paramount
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Em "Missão: Impossível - O Acerto Final", o astro reafirma a fórmula que diferencia a série de todo o gênero: se Ethan Hunt é o ponto central da empreitada, seu sucesso depende de um engenhoso trabalho em equipe. Cada peça, do gênio cibernético Luther (Ving Rhames) ao hacker Benji (Simon Pegg), passando pela ladra Grace (Hayley Atwell), a assassina Paris (Pom Klementieff) e o novato Degas (Greg Tarzan Davis), é essencial para a execução da missão.

De resto, sobra espetáculo. A sequência nos destroços de submarino em que Ethan precisa recuperar o módulo com o código-fonte da Entidade é tensa, claustrofóbica e propositalmente lenta. Das profundezas do Mar de Bering aos céus da África do Sul, com Hunt pendurado em um biplano, "O Acerto Final" traz o clímax mais impressionante que o cinema de ação poderia conceber.

Cruise alardeia que faz as cenas mais perigosas e isso, claramente, faz diferença. Em um mundo dominado por cenários digitais, é revigorante ver o astro ali, na cara do perigo, com o único objetivo de nos entreter.

Tom Cruise, Hayley Atwell e Simon Pegg em 'Missão: Impossível - O Acerto Final'
Tom Cruise, Hayley Atwell e Simon Pegg em 'Missão: Impossível - O Acerto Final' Imagem: Paramount

Este oitavo "Missão: Impossível" é também o mais político da série - espelhando, assim, o espírito do programa de TV criado no fim dos anos 1960 que ainda tinha a Guerra Fria como centro. Nações se esfarelando ante o pavor nuclear não é tema novo, mas "O Acerto Final" combina a contento espionagem, ameaça global, política internacional e família agregada em um pacote vibrante e surpreendentemente emocionante.

Tom Cruise repete constantemente que cinema não é o que ele faz, e sim o que ele é. Sua vida parece de fato saltar de projeto em projeto, sendo difícil separar a pessoa de sua obra. "Missão: Impossível", que assume aqui sua vocação como blockbuster à moda antiga, com um astro de cinema genuíno à frente de momentos de puro deslumbre cinematográfico, é prova de que ele prega a própria palavra. Se este for de fato o fim (o que eu duvido), sua missão foi finalmente cumprida. E com sobra!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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