Novo 'Premonição' é bobagem movida a mortes violentas e nostalgia prematura
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Único gênero que sobrevive a modas, tendências, altos e baixos do cinema, seja na tela grande, em VHS, DVDs ou streaming, o terror curiosamente continua sendo "salvo" a cada temporada. Um destes "resgates" mais emblemáticos foi o novo fôlego do slasher film, subgênero dos mais sangrentos, no começo do século, quando o sucesso de "Pânico" impulsionou dúzias de filmes em que algum assassino alegórico retalhava o elenco jovem da vez.
Lançado em 2000, "Premonição" trouxe o que talvez seja a variação mais inusitada deste conceito: em vez de um serial killer no estilo Jason Voorhees ou Ghostface, a turma encontrava seu destino nas mãos do acaso, com momentos rotineiros transformados em armadilhas sangrentas pela própria "Morte". Sucesso acima de seus pares, o filme gerou quatro sequências, provando que mesmo um beco sem saída criativo pode ser extremamente lucrativo.
O que nos leva a "Premonição: Laços de Sangue", alardeado como "um retorno à boa forma" da série, que chega aos cinemas 14 anos depois do quinto exemplar. Na prática, contudo, a dupla de diretores Zach Lipovsky e Adam B. Stein segue exatamente a mesma fórmula do original, cometendo o pecado de "explicar" as origens da ação da Morte em pessoas tão aleatórias ao longo de um quarto de século.
Como seus antecessores, "Laços de Sangue" começa com uma tragédia monumental, ainda nos anos 1960, quando a morte de centenas de pessoas é impedida por uma jovem que experimentou uma visão apocalíptica. Nos dias de hoje, sua neta, Stefani (Kaitlyn Santa Juana), experimenta a mesma visão e descobre que o acidente evitado "atrapalhou" os planos da Morte, que passou os anos seguintes ceifando a vida não só dos que foram salvos, mas também de seus descendentes - o que "explica" a carnificina em tantos filmes.

Stefani divide a visão com sua família e só encontra ceticismo. Ela então parte em busca da avó, uma reclusa que cortou os laços com os filhos e vive isolada em uma espécie de bunker há duas décadas, onde acredita ter se mantido à frente das armadilhas da Morte. É o gancho para colocar sua família - tio, irmão e primos - na mira da mão incansável do ceifador invisível, e desculpa para o filme arquitetar cenários elaborados e sangrentos para despachar a turma desta para melhor.
Não que, a essa altura, exista alguma esperança de "Premonição: Laços de Sangue" ter qualquer coesão narrativa. O que sempre foi esperado dos filmes da série - e o que fazia a alegria da garotada lotando os cinemas - eram as cenas de morte violentas, engraçadas e memoráveis. O segundo filme trouxe o acidente em uma rodovia que impediu muita gente de viajar tranquila atrás de um caminhão transportando toras de madeira; o terceiro fez uma geração evitar sessões de bronzeamento artificial.
O bacana de "Premonição" sempre foi transformar momentos banais em armadilhas mortais, tornando o medo dos personagens mais palpável. Tirando uma sequência em um churrasco em família, tensa e redondinha, "Laços de Sangue" estraga sua própria fórmula ao desenhar cenários inverossímeis mesmo para um filme da série - e ao fazer do terror um drameco familiar.

Para piorar a mistura, somos largados com uma protagonista antipática à frente de uma coleção de vítimas no melhor estilo "já vai tarde". "Laços de Sangue" parece feito no improviso, sem nenhuma coerência narrativa mesmo dentro de suas próprias regras. Sem falar que o filme é por vezes escuro e confuso demais, mitigando o impacto de algumas de suas engrenagens mortais. Se é para mostrar corpos mutilados, é melhor caprichar, oras!
Não que isso faça qualquer diferença para uma novíssima geração de adolescentes em busca de arrepios em grupo no cinema. "Premonição" aproveitou o fim de semana antes de a temporada do verão americano pegar fogo - com a estreia de "Missão: Impossível - O Acerto Final" e "Lilo & Stitch" - e embolsou US$ 100 milhões na largada, dobrando de cara seu orçamento e praticamente garantindo que a série não vai evaporar nem tão cedo.
O apego do público a essa nostalgia prematura, transformando filmes meramente ok em legado digno de ser retomado, pode explicar o fascínio por um produto tão rasteiro como "Premonição: Laços de Sangue". A próxima "salvação do terror", por sinal, chega em julho com a estreia do novo "Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado". A roda gira. Ao menos "Laços de Sangue" deu uma despedida digna ao grande Tony Todd, ícone do gênero morto ano passado. Um momento emocionante em um filme absolutamente descartável.
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