'Resgate Implacável': Jason Statham quer resolver mazelas do mundo no braço
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Em "Resgate Implacável", talvez o título mais genérico desde que a Blockbuster fechou as portas, Jason Statham é um ex-militar que, agora, trabalha na construção civil. Quando a filha de seu patrão é sequestrada, ele se vê obrigado a retomar a "vida que deixou para trás" e usa suas... err... "habilidades muito específicas" para encontrar a moça. Fast forward. Fim.
Falar sobre mais um filme de ação em que Jason Statham surge como "exército de um homem só" é chover no molhado. Com roteiro de Sylvester Stallone, "Resgate Implacável" segue com exatidão a estrutura de seu último trabalho, "Beekeeper" —dividindo inclusive o mesmo diretor, David Ayer. O que muda é a mazela contemporânea que Statham combate: se antes eram crimes digitais, agora é tráfico humano.
O cinema de ação, ontem e hoje, invariavelmente, versa sobra a fantasia de poder em que um único sujeito seria capaz de consertar o mundo usando os próprios punhos. Este modelo foi consolidado nos anos 1980 por Stallone, Schwarzenegger e suas variantes, humanizado depois de "Duro de Matar", e segue firme no novo século, seja em produções ultra estilizadas ("John Wick", "Resgate"), seja em séries com jeitão de desenho animado ("Velozes & Furiosos", "Missão: Impossível").
Jason Statham, por sua vez, demonstra zero ambição em elevar seus filmes acima da régua mais básica. Não importa o personagem, ele invariavelmente terá sua personalidade bruta. É como se Jason fosse o centro de um "multiverso" em que os brucutus carismáticos podem até mudar de profissão, mas sequer escondem se tratar do mesmo sujeito.

Difícil enxergar quaisquer nuances nos protagonistas de "Carga Explosiva" e "Adrenalina", de "Assassino a Preço Fixo" e "Megatubarão", de "Os Mercenários" e, seja só, "Velozes & Furiosos". Não importa o filme, o astro bate (muito), sangra (quase nada) e segue, seja herói ou vilão (anti-herói, vá lá...), um código moral inabalável. Quando Statham fez uma ponta em "Colateral", com Tom Cruise, ele poderia literalmente estar assumindo qualquer um de seus papéis pregressos.
Não dá para dizer que a estratégia não funciona. Desde que se lançou como ator em 1999 com "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes", do amigo Guy Ritchie, seus filmes registram uma média de US$ 190 milhões (cerca de R$ 1,1 bi) nas bilheterias mundiais. Seu maior sucesso como protagonista é "Hobbs & Shaw", em que dividiu a marquise com Dwayne Johnson e levou US$ 760 milhões (quase R$ 4,4 bi) ao banco; sozinho, fez de "Megatubarão" um colosso de US$ 530 milhões (R$ 3 bi) em 2018.
Mais modesto, "Resgate Implacável" dificilmente chegará a resultados astronômicos —e nem precisa. De orçamento enxuto, o filme sai do forno sem desviar um milímetro da fórmula mais rasteira e atende a um público cativo e pouco exigente. A trama finge dizer alguma coisa mesmo não dizendo nada, o tema sério e a tensão da violência são moderados com uma pitada de humor e, absolutamente, ninguém se sente culpado ao ver o vilão ter um fim calabroso.
Todo o empreendimento por vezes parece um experimento social, com Jason Statham testando até onde ele pode se safar ao contar repetidamente a mesma história, mudando somente os móveis de lugar. Se for este o caso, ele vai continuar esticando a corda: o astro, goste-se ou não, aperfeiçoou a arte de faturar alto fazendo exatamente o mesmo filme. Não faltam, afinal, mazelas e malfeitores pelo mundo —e plateias ávidas para ver justiça sendo feita à força. Mesmo que seja de mentirinha.
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