Roberto Sadovski

Roberto Sadovski

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Começou: Marvel aposta em novo 'Vingadores' para recuperar fagulha criativa

Os nomes de Hugh Jackman e Ryan Reynolds estavam ausentes do longo anúncio do elenco de "Avengers: Doomsday" - ou "Vingadores: Destino" em tradução livre - que a Marvel apresentou de surpresa em uma live de quase 5 horas e meia. Ainda assim, o espírito de "Deadpool & Wolverine" parece dominar o futuro do estúdio.

A ordem do dia é apostar na nostalgia. Mas não naquele sentimento esperto de estimular uma memória bacana, e sim na insistência em recuperar os "fantasmas de filmes passados", na esperança que nomes atrelados a uma experiência divertida no cinema consigam estimular o entusiasmo pela marca de super-heróis mais bem sucedida do cinema.

Se o carro-chefe de "Doomsday" é mesmo o peso-pesado Robert Downey Jr. - e boa sorte em convencer o público que ele não é o Homem de Ferro, e sim o vilanesco Doutor Destino! -, o novo filme não se contenta com a mistureba de veteranos do universo cinematográfico Marvel (Chris Hemsworth, Tom Hiddleston) com sua nova geração, pincelados de "Thunderbolts*" e "Quarteto Fantástico: Primeiros Passos".

Robert Downey Jr. no evento para anunciar o elenco de 'Avengers: Doomsday'
Robert Downey Jr. no evento para anunciar o elenco de 'Avengers: Doomsday' Imagem: Reprodução

O resgate do fundo do baú, contudo, vem dos representantes da série "X-Men", que reinou no começo do novo século via Fox e aqui retornam em peso. Temos Ian McKellen, Patrick Stewart, James Marsden e Rebecca Romijn do filme de 2000, além de Alan Cumming ("X2") e Kelsey Grammer ("X-Men: O Confronto Final", que já tinha dado as caras na cena pós-créditos de "As Marvels"). Até Channing Tatum, privado de um filme solo como o mutante Gambit, ganha aqui novo fôlego depois de ser presenteado com o papel em, quem diria, "Deadpool & Wolverine".

Enfileirar os créditos de um filme - 27 nomes, para ser preciso - pode parecer fanfarra com pastel de vento, mas a Marvel sabe exatamente que o nome do jogo é "antecipação". Para sermos justos, não havia exatamente o que anunciar, já que as filmagens de "Doomsday" estão começando meio que agora e a trama, desenvolvida em cima de uma ideia do roteirista Stephen McFeely, está sendo mantida a sete chaves.

O que a Marvel ganha, contudo, são meses e meses de especulação, com os fãs se desdobrando no já rotineiro jogo de adivinhação para tentar desfraldar os planos dos irmãos Joe e Anthony Russo, que voltam à direção após conduzir as duas aventuras mais bem-sucedidas dos Vingadores no cinema - "Guerra Infinita" e "Ultimato" - para que o estúdio recupere aquela fagulha que transformava sessões de cinema em shows de rock.

Charles Xavier (Patrick Stewart) e Magneto (Ian McKellen) em 'X-Men'
Charles Xavier (Patrick Stewart) e Magneto (Ian McKellen) em 'X-Men' Imagem: Fox/Disney

Não que a Marvel, veja bem, esteja mal nos negócios. A percepção que os filmes pós "Ultimato" foram um fracasso, até justificável depois da fadiga com a avalanche de produtos da marca no cinema e em streaming, é infundada. E nem estou falando de blockbusters gigantescos como "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" ou o próprio "Deadpool & Wolverine", que cruzaram a linha de US$ 1 bilhão nas bilheterias.

Continua após a publicidade

Filmes lançados durante a pandemia, como "Viúva Negra", "Shang-Chi" e "Eternos" podem não ter incendiado os números, mas as edições mais recentes de "Doutor Estranho", "Thor", "Pantera Negra" e "Guardiões da Galáxia" foram sucessos gigantescos. Até o recente "Capitão América: Admirável Mundo Novo", ainda em cartaz, recheou os cofres do estúdio com mais de US$ 400 milhões.

O problema é evitar a ameaça da curva descendente, comum a toda série cinematográfica de longo prazo, e fazer com que a Marvel passe a liderar as discussões pop sob uma ótica positiva. Para isso, "Avengers: Doomsday" precisa ser não apenas um bom filme, e sim um grande evento global. As adições ao elenco quilométrico também precisam criar a mesma fagulha da equipe original - aqui severamente desfalcado, com o Thor de Chris Hemsworth praticamente jogando sozinho.

O Quarteto Fantástico volta aos cinemas, agora no universo cinematográfico da Marvel, em 'Primeiros Passos'
O Quarteto Fantástico volta aos cinemas, agora no universo cinematográfico da Marvel, em 'Primeiros Passos' Imagem: Disney

Parte considerável da responsabilidade de se conectar com o público está com a turma do novo "Quarteto Fantástico". Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn e Ebon Moss-Bacharach nem sequer mostraram a que vieram em sua primeira incursão cinematográfica na Marvel - "Primeiros Passos" está agendado para 24 de julho - e se preparam para segurar o rojão de encarar o personagem de Downey. Nos quadrinhos, nossa única pista palpável, Destino é o principal antagonista do Quarteto.

Recuperar parte do elenco original de "X-Men" também nubla as intenções da Marvel com a equipe mutante - teoricamente sua grande marca ainda não explorada. Não ajuda o fato de Patrick Stewart já ter morrido em cena como o professor Charles Xavier duas vezes (em "Logan" e em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura") e de o principal ativo dos X-Men - o Wolverine - estar ausente da chamada inicial.

Claro que todas essas questões fazem parte do plano de alimentar o hype espontâneo pelos meses vindouros. Afinal, não foi só a ausência de Hugh Jackman e Ryan Reynolds que se fez sentir. Para "Doomsday", ao menos nesse primeiro momento, nada de Jeremy Renner ou Mark Ruffalo, nada de Elizabeth Olsen ou Brie Larson, nada de Chris Pratt ou Benedict Cumberbatch. Nada de Chris Evans, em hibernação desde que surgiu envelhecido ao final de "Ultimato".

Continua após a publicidade
Downey confirmado como Doutor Destino no palco da Comic-Con em San Diego
Downey confirmado como Doutor Destino no palco da Comic-Con em San Diego Imagem: Reprodução

Tom Holland, ocupado filmando "A Odisseia" para Christopher Nolan, começa a produção do quarto "Homem-Aranha" em julho e só deve aparecer com os Vingadores em "Guerras Secretas", que os Russo rodam na sequência de "Doomsday para lançamento em 2027. É aí que os heróis apresentados em séries do streaming, como o Cavaleiro da Lua (Oscar Isaac), o Demolidor (Charlie Cox) ou a Mulher-Hulk (Tatiana Maslany), podem aparecer.

Atolada em uma encruzilhada criativa e forçada por entraves do mundo real, a Marvel mudou seus planos no meio do caminho, eliminando o foco no vilão Kang (Jonathan Majors, afastado do estúdio por problemas legais) e apostando no retorno de Robert Downey Jr., mesmo como outro personagem, para aprumar de vez o barco. Se "Doomsday" é um risco, convenhamos que não é muito diferente do desafio que foi disparar a experiência de um universo compartilhado com "Homem de Ferro" num já distante 2008. Ao menos desta vez a roda de amigos é maior. Muito maior.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.