Roberto Sadovski

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Reportagem

Irmãos Russo sobre 'Electric State': 'Há perigos na evolução da tecnologia'

"The Electric State" é uma aventura retrô futurista que imagina um mundo após uma guerra entre a humanidade e robôs animados por inteligência artificial. É um filme para toda a família, Millie Bobby Brown e Chris Pratt à frente. Mas é, acima de tudo, uma forma de seus diretores, os irmãos Joe e Anthony Russo, refletirem sobre temas contemporâneos, como nossa dependência da tecnologia e a necessidade de conexões humanas.

"Os avanços da tecnologia são um paradoxo", aponta Anthony, que ao lado de seu irmão saltou para o primeiro time hollywoodiano ao dirigir quatro filmes para a Marvel, inclusive o fenômeno "Vingadores: Ultimato" em 2019. "O mundo está conectado como nunca foi possível, as pessoas alcançam lugares muito além de sua zona de conforto", continua. "Ao mesmo tempo, há perigos nessa evolução."

Essa reflexão amarra a trama de "The Electric State", ficção científica erguida em um cenário fantástico que traz anseios do mundo moderno. "A velocidade da evolução tecnológica é difícil de entender e acompanhar", continua Anthony. "Tentamos entender essa hiperconectividade que causa ansiedade, mesmo que o filme levante perguntas que ninguém ainda tem respostas."

"Tudo que sabemos é que o mundo é ligeiramente diferente do que era há uma década", ressalta Joe, que começou a parceria com o irmão com a comédia "Tudo Por Um Segredo" em 2002. "Era mais fácil prender a atenção das pessoas quando fizemos os filmes da Marvel do que agora." Ele aponta que a pandemia pode ter acelerado essa perda de atenção porque o planeta passou praticamente 3 anos colado no celular.

Os diretores Anthony e Joe Russo conversam com Splash sobre 'The Electric State'
Os diretores Anthony e Joe Russo conversam com Splash sobre 'The Electric State' Imagem: Reprodução

O hábito de viver na tela de smartphones reescreveu também a dinâmica de trabalho dos cineastas. "A maioria das pessoas assiste a um filme ligadas ao mesmo tempo em outro aparelho", teoriza Joe. "Essa é a verdade e o aspecto viciante da tecnologia." "The Electric State seria uma forma de sugerir uma redefinição, um caminho por meio de uma aventura fantástica para reencontrar o equilíbrio. "O consumo excessivo termina num abismo do qual não conseguimos sair", arremata.

Esse é o desafio e o paradoxo ao produzir "The Electric State" em parceria com a Netflix - em casa, no sofá da sala, a possibilidade de se entregar aos pequenos vícios tecnológicos é maior. "Uma das vantagens de trabalhar com a Netflix é o alcance de um público global", explica Joe. "É difícil alcançar nas salas de cinema o número de pessoas assistindo a filmes na Netflix."

O streaming também trouxe um respiro ao tipo de produção que os irmãos Russo se dedicaram por mais de uma década. "Fizemos quatro filmes muito caros e sem nenhum intervalo entre eles", continua. "Depois disso queríamos liberdade para experimentar com as ideias que quiséssemos em histórias mais próximas a nós."

Anthony completa: "Mesmo como cineastas independentes, adoramos as oportunidades que novas tecnologias oferecem para alcançar novos públicos. Parte do apelo do streaming é simplesmente nos comunicar com o público de outra forma".

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Joe e Anthony Russo dirigem Millie Bobby Brown em 'The Electric State'
Joe e Anthony Russo dirigem Millie Bobby Brown em 'The Electric State' Imagem: Netflix

Este círculo se completa com "Avengers: Doomsday", que marca o retorno dos diretores à Marvel e será rodado simultaneamente com "Guerras Secretas", abrindo um novo capítulo no universo compartilhado do estúdio. "Voltar a 'Vingadores' é uma forma de fazer com que o público se una mais uma vez em torno de um único filme", diz Anthony.

"Parte da magia da Marvel foi criar conexão emocional ao lado do público em uma narrativa serializada de longa duração, o que ninguém havia feito antes", conclui. "Voltamos porque encontramos uma nova história que pode encontrar uma ressonância igualmente poderosa."

Joe Russo confirma que não havia interesse em retornar ao universo Marvel no cinema, mas sua disposição mudou após um encontro fortuito. "Esbarramos em Paul Thomas Anderson durante um jantar e, ao final, ele me encurralou", lembra o diretor. "Ele queria dizer que 'Guerra Infinita' e 'Ultimato' ajudaram a ele e seu filho a superar a pandemia."

Segundo Joe, o responsável por "Boogie Nights" e "Sangue Negro" lhe disse que ele e seu filho assistiram a vídeos com clipes de pessoas torcendo em sessões de "Ultimato", e aquela energia lhe deu esperança, que seria possível estar em uma sala cheia de pessoas novamente compartilhando aquele nível de energia, como se fosse um show de rock.

"Eu não conseguia deixar de pensar nas palavras gentis de Paul", conclui Joe. "Então eu disse a Anthony que era hora e de tentar criar esse tipo de experiência de novo. Seria uma forma de fazer nossa parte em tentar reequilibrar a quantidade de tempo que passamos ao telefone, levando as pessoas de volta a um espaço coletivo. Essa foi a razão pela qual decidimos voltar à Marvel."

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