Roberto Sadovski

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Reportagem

Bong Joon Ho explica 'Mickey 17': 'É muito desumano imprimir seres humanos'

A ficção científica "Mickey 17" traz Robert Pattinson como um operário em uma expedição espacial que volta à vida como uma cópia de si mesmo sempre que é morto para "avançar a ciência humana". É um conceito bizarro que se encaixa como uma luva nas ideias do diretor Bong Joon Ho.

"Encontramos comédia e tragédia neste conceito-chave", explica o diretor, alçado à fama global após o sucesso de "Parasita". "Essas palavras, 'impressão de corpos', não deviam existir juntas, porque é algo desumano a fazer com uma pessoa."

Apontar os perigos da tecnologia como forma de entender a condição humana é a base da (boa) ficção científica, e essa exploração atraiu a atriz Naomie Ackie, que interpreta a única pessoa a enxergar algum valor em Mickey, personagem de Pattinson. "São temas atemporais que 'Mickey 17' coloca sob o holofote", explica. "Falamos sobre o valor atribuído a algumas pessoas ao mesmo tempo que outras não possuem nenhum."

O diretor Bong Joon Ho fala com Splash sobre 'Mickey 17'
O diretor Bong Joon Ho fala com Splash sobre 'Mickey 17' Imagem: Reprodução

A desumanização por vezes atrelada ao avanço da tecnologia reflete o mundo real em "Mickey 17", especialmente com o avanço da inteligência artificial. "Inteligência é algo exclusivo dos seres humanos, porque lida com as emoções que a envolvem", reflete Bong. "Ainda não sabemos onde a IA vai nos levar, mas sua criação me parece desumana por ser triste e aterrorizante ao mesmo tempo."

A atriz Toni Collette, que interpreta a esposa do líder messiânico e político da expedição (papel de Mark Ruffalo), observa as inovações tecnológicas com atenção. "IA muda e evolui tão rapidamente que ninguém ainda é capaz de medir seu impacto", diz, "E não apenas na indústria do cinema, mas em tudo." Naomie coloca essa influência de forma levemente otimista: "É como um martelo, ele pode ser usado para construir uma casa e também para quebrar as pernas de alguém".

Se existe algo que nenhuma inteligência artificial seria capaz de reproduzir é o talento de artistas que erguem mundos e dividem personalidades. No caso do personagem de Pattinson, o filme foca em duas de suas interações, Mickey 17 e Mickey 18, que de repente se veem dividindo o mesmo espaço - embora tragam personalidades radicalmente opostas.

"Eu estava criando dois personagens diferentes", explica Bong, que expandiu o livro de Edward Ashton para dar vida aos múltiplos operários interpretados por Robert Pattinson. "Acredito que todo mundo tem esse desejo de ter um gêmeo malvado", continua o diretor. "Alguém mais corajoso e mais forte que você, que diz todas as coisas que você é muito tímido para dizer e que baterá em seus inimigos por você. Mickey 18 veio desse devaneio."

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