Roberto Sadovski

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Opinião

'Quarteto Fantástico' ganha trailer: heróis Marvel, enfim, voltam para casa

O primeiro trailer de "Quarteto Fantástico: Primeiros Passos" é uma belezura. Se a trama do filme de Matt Shakman segue guardada a sete chaves, o primeiro gostinho da aventura que promete renovar o fôlego da Marvel no cinema é puro deslumbramento. Não tem segredo: na dúvida, volte ao clima dos gibis.

No caso de "Primeiros Passos", não há roda para ser reinventada. Criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1961, "Quarteto Fantástico" foi o primeiro gibi da Marvel - e foi uma revolução. Ao contrário das aventuras da concorrência, que abraçavam cada vez mais a galhofa e o absurdo, o grupo de exploradores foi posicionado em um mundo muito parecido com o nosso.

Na prática, as aventuras fabulosas do Quarteto Fantástico, e de todos os heróis lançados em sua esteira - o Homem-Aranha, os X-Men, o Homem de Ferro -, dividiam espaço com problemas contemporâneos. Fosse a luta pelos Direitos Civis, a Guerra Fria e a corrida espacial, o conflito no Vietnã ou a revolução promovida pela contracultura, a realidade temperava os gibis coloridos.

Essa associação só faria sentido em histórias ambientadas em uma época específica: os anos 1960, quando uma certa ingenuidade trazida por descobertas fantásticas convivia com um lado sombrio que ameaçava o idílio do pós-guerra. Fazer de "Quarteto Fantástico" um filme de época, contudo, não parecia fazer sentido em um cinema-espetáculo voltado cada vez mais para o amanhã.

O Coisa (Ebon Moss-Bacharach), Sue Storm (Vanessa Kirby), Reed Richards (Pedro Pascal) e Johnny Storm (Joseph Quinn) em 'Quarteto Fantástico: Primeiros Passos'
O Coisa (Ebon Moss-Bacharach), Sue Storm (Vanessa Kirby), Reed Richards (Pedro Pascal) e Johnny Storm (Joseph Quinn) em 'Quarteto Fantástico: Primeiros Passos' Imagem: Marvel

A primeira tentativa de adaptar a série para a tela grande, ainda em 1994, nem conta, já que o filme, produzido por Roger Corman, foi feito unicamente para os produtores manterem os direitos da marca. As duas aventuras dirigidas por Tim Story - em 2005 e 2007 - tinham clima de desenho animado infantil, e quanto menos falarmos do desastre feito por Josh Trank em 2015, melhor.

Em 2026, contudo, o cenário é outro. A Marvel domina o cinema pop com seu universo cinematográfico desde que "Homem de Ferro" entrou em cena em 2008. De lá para cá, o estúdio foi adquirido pela Disney, que depois comprou a Fox, reunindo mais uma vez seus personagens sob o mesmo teto. Se os X-Men ainda não entraram na equação cinematográfica, o Quarteto Fantástico tem finalmente a chance de voltar para casa.

A engenharia para "Primeiros Passos" parece esperta. Em vez de bolar uma desculpa e colocar a equipe no olho do furacão, em um mundo já familiar com seus justiceiros superpoderosos, "Quarteto Fantástico" habita uma realidade alternativa retrofuturista, como se o futuro ousado e vibrante imaginado nos anos 1960 tivesse sido realizado. Do figurino aos cenários, tudo grita nostalgia.

Ben Grimm (Ebon Moss-Bacharach) se entende com o robô H.E.R.B.I.E.
Ben Grimm (Ebon Moss-Bacharach) se entende com o robô H.E.R.B.I.E. Imagem: Marvel
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Mas nostalgia bacana e bonita, que faz de Reed Richards (Pedro Pascal), Sue Storm (Vanessa Kirby) e seu irmão Johnny (Joseph Quinn), e principalmente Ben Grimm (Ebon Moss-Bacharach) avatares fiéis de suas versões de papel. No caso de Grimm, é impressionante como o Coisa, executado digitalmente com trajes de captura de performance, pela primeira vez parece a figura terna e trágica dos gibis.

Eu sou leitor de gibis das antigas, e passei pelo deslumbre de "Superman - O Filme" ao fenômeno "Batman" antes de a Marvel dar seus primeiros passos (!) com "X-Men" em 2000 e "Homem-Aranha" em 2002. A enxurrada de adaptações das últimas décadas, contudo, arranharam parte do brilho de ver os heróis das revistinhas traduzidos na tela grande. O novo "Capitão América" estreia em pouco mais de uma semana e estou mais curioso do que empolgado.

Existe algo em "Quarteto Fantástico: Primeiros Passos", contudo, que parece recuperar minha fé. Talvez seja a vontade de ver a criação máxima de Lee e Kirby feita da forma certa. Talvez seja a sugestão de, depois de um bom tempo, a Marvel parecer de fato disposta a fugir do convencional, ou talvez seja mesmo a vontade de curtir uma aventura que me faça voltar a ser criança. E ainda teremos "Superman" estreando duas semanas antes! Em julho, mais do que nunca, a gente se vê no cinema.

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