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'Boogeyman' retoma uma tradição: a adaptação ruim da obra de Stephen King
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Na literatura de terror, existe Stephen King e existe o resto. Não existe autor mais dedicado a mergulhar os cantos mais obscuros da mente humana no terror mais brutal; não existe escritor mais prolífico, cravando desde 1974 pelo menos um livro por ano. O homem é uma máquina!
Hollywood cruzou seu caminho em 1976 com a adaptação de "Carrie, a Estranha", e desde então o casamento rendeu pérolas como "O Iluminado", "A Hora da Zona Morta", "Conta Comigo", "À Espera de Um Milagre" e o recente "It - A Coisa". Mas esse é o filé. Por um bom tempo, ser uma "adaptação do livro de Stephen King" era a receita para o desastre cinematográfico.
"Boogeyman - Seu Medo É Real", baseado num conto de 1973, colecionado posteriormente em 1978, dá continuidade a essa tradição torta. É uma pena. Sua premissa sugere um estudo bacana sobre perda, sobre família e sobre o medo. Na prática, o diretor Rob Savage ("Cuidado Com Quem Chama") não foge do básico, com barulhos altos para assustar a plateia, trama absurda que mal se sustenta e um monstrinho mequetrefe para arrebatar.
Sadie e sua irmã caçula, Sawyer (as ótimas Sophie Thatcher e Vivien Lyra Blair), vivem com o pai psicólogo (Chris Messina) e tentam retomar um semblante de vida normal após a morte da mãe. A visita de um estranho (David Dastmalchian), que perdeu a família de forma violenta e misteriosa, parece transferir para a casa das meninas uma maldição, uma criatura que vive nas sombras e se alimenta de medo.
Daí é ligar os pontos. O pai é uma figura ausente - Messina mal aparece no filme até o clímax -, enquanto Sawyer testemunha as manifestações mais e mais físicas do bicho. Cabe a Sadie, o clichê da adolescente problemática, descobrir a história da criatura e tentar eliminar a ameaça. Tudo no melhor esquema "o amor de nossa família vai nos salvar". Tá certo.
O problema de filmes como "Boogeyman" é que, em pleno 2023, e com o público-alvo para lá de calejado, fica difícil envolver a turma com uma trama tão genérica e tão desconexa. Por mais genial que seja King - e, acredite, ele é -, um naco de sua obra é repeteco dos mesmos temas e situações, especialmente em suas histórias com monstros.
Quando a coisa funciona, como no espetacular "O Nevoeiro", é a verdadeira materialização de pesadelos. O outro lado dessa moeda são criações toscas, em que o medo termina suplantado pelas risadas. E dá-lhe o lobisomem de "Bala de Prata", os caminhões encapetados de "Comboio do Terror", e os monstros de "A Criatura do Cemitério", "Sonâmbulos", "Voo Noturno" e "O Apanhador de Sonhos".
Monstros em filme de terror são coisa séria. O xenomorfo de "Alien" e o parasita transmorfo de "O Enigma de Outro Mundo" são exemplos magníficos de design que alavanca a narrativa. "Boogeyman", com sua trama aguada e sua criatura pouco inspirada, segue o caminho contrário. A plateia de terror, por sua vez, tem o hábito de adotar a tosqueira - vide o sucesso do recente "Sorria". Embarcar nesse trem, portanto, é por sua conta e risco.
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