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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O bom 'X - A Marca da Morte' é a 'salvação do cinema de terror' da semana

Mia Goth em "X - A Marca da Morte" - PlayArte
Mia Goth em 'X - A Marca da Morte' Imagem: PlayArte

Colunista do UOL

12/08/2022 17h55

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Nunca vi gênero com mais necessidade de "salvação" do que o terror. Pelo menos, não com mais gente disposta a jogar uma boia ao mar. A bola da vez agora é este "X - A Marca da Morte", que traz o verniz sofisticado da produtora independente A24 cobrindo uma premissa batida e eficiente.

"X" é dirigido por Ti West, que fez barulho uns anos atrás com o superestimado "A Casa do Diabo" e depois lapidou sua carreira em séries de terror. É um slasher, gênero que traz psicopatas em uma matança aleatória, que tem nas séries "Halloween" e "Sexta-Feira 13" seus exemplares mais notórios.

Ou seja, os ingredientes podem até ser diferentes, mas o resultado é o mesmo bom e velho banho de sangue. O que posiciona "X" acima da média do gênero é o talento real de West em criar uma atmosfera decadente, suja, que não por acaso remete, esteticamente e tematicamente, a clássicos como "O Massacre da Serra Elétrica".

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Ideia na cabeça, câmera na mão... e muito sexo barato
Imagem: PlayArte

O ano é 1979 quando Wayne, um produtor de pornôs baratos (interpretado por Martin Henderson, perfeito como um Matthew McConaughey de 1,99), se manda com sua trupe para uma fazenda no interior do Texas. A ideia é aproveitar o boom do VHS e criar fitas baratas, que possam render uma grana rápida.

Para isso, ele convoca um estudante de cinema com gana de criar "arte". Com a namorada a tiracolo como sua equipe, ele começa a rodar uma historinha sexual que tem como maior estrela a ambiciosa Maxine (Mia Goth, neta da brasileira Maria Gladys). Logo os corpos começam a empilhar.

Ti West é cuidadoso ao desenhar seus personagens e não tem pressa em começar a matança. Ele tem boas escolhas de câmera e luz, e se preocupa com a composição de cada frame para ampliar o clima decrépito que permeia o filme.

Mais ainda: "X" devota cuidado especial ao casal de idosos que hospeda a equipe, dois velhinhos que vivem em isolamento e obviamente trazem muita bagagem. É com eles que o filme fica mais interessante, e por meio deles o diretor pode ampliar sua "mitologia": "Pearl", prólogo de "X", já chega aos cinemas ianques mês que vem.

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Não existe bom slasher sem corpos espalhados pelo cenário
Imagem: PlayArte

A produtora A24 foi lançada há dez anos como distribuidora. Em 2016 passou a financiar produções diversas, sendo que a primeira, "Moonlight", ganhou o Oscar de melhor filme. De lá para cá, filmes como "Hereditário", "O Farol", "Joias Brutas" e "A Lenda do Cavaleiro Verde" ampliaram seu catálogo e seu alcance.

Seus produtos trazem, portanto, uma certa aura artística, na maioria das vezes totalmente justificada. Por outro lado, é também uma bela estratégia de marketing para fazer um filme parecer mais do que ele realmente é.

"X - A Marca da Morte" é um slasher de primeira, muitíssimo bem filmado, tenso e desconfortável. Tem até uma ótima final girl, a última sobrevivente, como manda a cartilha. Mas não é a salvação do cinema de terror. Até porque, convenhamos, o gênero não está, nem nunca esteve, com a água no pescoço.