Topo

Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'O Predador - A Caçada' mostra que é possível revigorar uma ideia esgotada

Amber Midthunder em "O Predador - A Caçada" - Star+
Amber Midthunder em 'O Predador - A Caçada' Imagem: Star+

Colunista do UOL

11/08/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Predador é uma das criaturas mais emblemáticas da história. Apresentado em 1987 na ficção científica que leva seu nome encabeçada por Arnold Schwarzenegger, o caçador cósmico logo cavou seu lugar nas entranhas da cultura pop.

A criatura nunca foi, contudo, um personagem. Sem arco dramático, sem nenhum desenvolvimento narrativo, ele é um conceito, um gatilho em torno do qual uma aventura é construída. Além do original, nenhuma delas foi exatamente digna de nota.

Pelo menos, não até agora. "O Predador - A Caçada" consegue, em pouco mais de uma hora e meia, sintetizar tudo que funcionou no filme original em um tabuleiro que parece novo, ao mesmo tempo em que traz elementos familiares.

preyhunt naru - Star+ - Star+
Naru (Amber Midthunder) ilumina o caminho do caçador
Imagem: Star+

O problema com os filmes que seguiram "O Predador" tem nome e sobrenome: Arnold Schwarzenegger. A sombra do astro cobria cada um dos novos filmes. Mesmo que ele nunca estivesse no elenco, de alguma forma a trama devia um quinhão a seu personagem, criando falsas expectativas quanto ao resultado.

Foi assim em "O Predador 2", que em 1990 trouxe a ação da selva sul-americana para a Los Angeles de um futuro próximo (no filme a data era 1997), com o texto construído em torno da primeira aparição do bicho - e o mistério em torno de sua derrota.

Pior sorte tiveram "Predadores" (produzido por Robert Rodriguez em 2010) e "O Predador" (dirigido por Shane Black em 2018). Embora nenhum deles fosse um produto de todo ruim, é possível enxergar exatamente o personagem que serve de avatar para Schwarzenegger, que repetidamente se recusou a voltar à série. O vácuo atrapalha.

"O Predador - A Caçada" elimina imediatamente esse problema ao situar a ação três séculos atrás, quando a imensidão do território americano era praticamente intocada, território habitado pela valente nação Comanche. Não existe tecnologia, apenas a força da natureza para testar a habilidade de seus caçadores mais ferozes.

Talvez a mais habilidosa de sua tribo seja Naru (a espetacular Amber Midthunder), ávida para provar seu lugar de direito na tribo, desejo reprimido ao ser constantemente deixada de lado por seu irmão mais velho e outros guerreiros que não a enxergam como uma igual.

Disposta a atravessar o mesmo ritual de passagem de seus pares, ela termina por tornar-se alvo de um predador, um caçador alienígena que desce à Terra em busca de troféus. Ao ameaçar a tribo de Naru, a criatura torna-se, então, a própria caça.

preyhunt alvo - Star+ - Star+
Algo me diz que alguém não volta para casa hoje...
Imagem: Star+

O diretor Dan Trachtenberg ("Rua Cloverfield, 10") é habilidoso em desenvolver a personalidade de Naru, sua conexão com seu cachorro e sua obstinação. Ele também não perde tempo com tramas paralelas: cada elemento em cena, dos animais que dominam o território aos conquistadores franceses, serve unicamente para impulsionar a história.

Essa simplicidade torna-se o maior triunfo do filme, abrindo espaço para que o diretor se concentre nas outras peças essenciais para criar uma sequência digna do filme de 1987: violência extrema (mesmo que muita coisa aconteça no limite da câmera) e bom senso para tornar a tensão, amplificada por momentos de silêncio e perigo, parte da narrativa.

Assim, "O Predador - A Caçada" prova que é possível escapar de clichês e revigorar um conceito batido ao entender exatamente o que ele é: um drama de sobrevivência, uma aventura em que o protagonista precisa ir além dos músculos para sobreviver a um adversário claramente mais poderoso.

preyhunt bicho - Star+ - Star+
Não importa onde, não importa quando, o Predador sempre está à espreita
Imagem: Star+

É um paralelo que pode ser aplicado à própria série. Não basta inflar o orçamento, multiplicar o número de predadores ou salpicar atores para ser bucha de canhão. Às vezes o caminho mais simples é também o mais acertado.

O mundo não precisava de outra sequência de "O Predador". Este "A Caçada", porém, mostra que sempre é legal ver humanos brigando com aliens quando a ideia por trás do combate é esperta e divertida.