Trailer (tosco) de 'Dungeons & Dragons' alimenta nova guerra da fantasia

Depois de um período dormente, projetos de fantasia abrem caminho para mais uma vez competir pela atenção de um público ávido por feiticeiros, dragões e jornadas épícas. igualzinho ao começo do século 21, quando "O Senhor dos Anéis", "As Crônicas de Nárnia" e "Eragon" apostaram no gênero.

A bola da vez é "Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes", agendado para março do ano que vem, que teve seu primeiro trailer exibido na Comic-Con de San Diego. O filme, com Chris Pine e Hugh Grant à frente, é mais uma tentativa de fazer a marca "pegar" fora do círculo de aficionados.

Estamos falando, afinal, de um nicho dentro do nicho. "Dungeons & Dragons" - ou "D&D" - é um RPG criado em 1974 que deu início a uma propriedade intelectual duradoura, ainda que limitada aos mais apaixonados. Para a turma da velha guarda (oi!), eu sempre aponto que é o jogo que a molecada está disputando em "E.T.", antes de Elliott encontrar o visitante espacial.

No Brasil, apesar da profusão de jogos de tabuleiro, o RPG nunca se tornou popular como nos Estados Unidos. Lá, a marca "D&D" segue em constante expansão, debruçando seus tentáculos em outras mídias. Além de livros e histórias em quadrinhos, "D&D" inspirou um desenho animado que deixou uma marca indelével por aqui.

"Caverna do Dragão" se tornou um fenômeno na TV brasileira nos anos 1980 ao contar a história de um grupo de adolescentes transportado para um mundo fantástico. Em posse de armas mágicas, eles precisam encontrar o caminho para casa.

A série foi um fracasso nos Estados Unidos, mal completando sua terceira temporada e fechando a conta com 27 episódios e um final nunca produzido. Não é de se estranhar, já que a história basicamente nunca avançava e os personagens, depois de um certo tempo, deixavam de ser interessantes.

O novo "Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes" obviamente não tem nenhuma conexão com a animação. A ambientação aqui é em uma das campanhas do jogo original, "Forgotten Realms", e segue um grupo de ladrões reunido para recuperar um objeto de poder roubado.

Tudo é bem genérico, amparado por efeitos especiais que precisam de um banho de loja. O tom, como observado por um amigo (fã de RPG que salivou com o trailer), remete a "Guardiões da Galáxia", mas sem uma fração de sua personalidade. A direção é da dupla Jonathan Goldstein e John Francis Daley, de "Férias Frustradas" e "A Noite do Jogo".

Um trailer, claro, é só um trailer. E não existe possibilidade na Terra de o filme ser pior do que "Dungeons & Dragons - A Aventura Começa Agora", tentativa de levar o universo do jogo para o cinema que, mesmo com Jeremy Irons como um vilão mega caricato, fracassou horrivelmente em 2000.

É curioso o interesse renovado em produtos de fantasia, não só no cinema mas principalmente para o streaming. O novo "D&D" parece sobras da festa quando comparado, por exemplo, com a produção mais caprichada e o tom decididamente mais épico de séries que já estão batendo na porta.

Mês que vem a HBO Max será o destino de "A Casa do Dragão", série que retorna ao universo de "Game of Thrones" como um prólogo do programa que se tornou fenômeno global. No mês seguinte, outro prequel, "O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder" transforma a Prime Video na Terra Média, trazendo uma nova saga ambientada na Segunda Era do mundo imaginado por J.R.R. Tolkien.

De minha parte, já estou satisfeito em finalmente descobrir como o Mestre dos Sonhos se saiu em seu salto das páginas dos quadrinhos para a Netflix. "Sandman", que estreia em 5 de agosto, finalmente tira a criação de Neil Gaiman do papel em uma série que pode, sem exagero, redefinir a fantasia para os próximos anos. A briga será boa.