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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Chamas da Vingança': Obra de Stephen King ganha outro filme pavoroso

Ryan Kiera Armstrong queima tudo em "Chamas da Vingança" - Universal
Ryan Kiera Armstrong queima tudo em 'Chamas da Vingança' Imagem: Universal

Colunista do UOL

19/05/2022 18h10

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Stephen King é o incontestável rei do terror desde 1974, quando publicou seu primeiro livro, "Carrie". A adaptação de sua obra para o cinema e para a TV, entretanto, nem sempre consegue manter a majestade.

"Chamas da Vingança", segunda adaptação do livro do mesmo nome lançado em 1980, despenca na vala das tentativas malfadadas de reproduzir, fora do papel, seu talento para criar histórias fantásticas.

O novo filme, dirigido pelo desconhecido Keith Thomas, é uma coleção de cenas desconexas que tenta, em vão, desenhar alguma história que termine por fazer sentido. Spoiler: não faz.

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Zac Efron em 'Chamas da Vingança': Porque aqueles boletos não se pagam sozinhos
Imagem: Universal

Charlie McGee (Ryan Kiera Armstrong) é uma menina de 11 anos que vive com seus pais, Andy (Zac Efron) e Vicky (Sydney Lemmon). Quando jovens, eles participaram como voluntários de experiências que alteraram seu DNA, conferindo-lhes poderes sobre humanos.

Charlie, por sua vez, herdou as habilidades dos pais e um "extra": a pirocinese, que incita a combustão espontânea em qualquer pessoa, animal ou objeto. A chegada da adolescência aumenta a frequência de incidentes, e a menina teme em perder o controle da "coisa ruim" dentro dela.

Para piorar a instabilidade, a família vive em constante movimento, escondendo-se de uma organização misteriosa que deseja estudar as habilidades de Charlie e, talvez, transformá-la em arma. Quando a menina é exposta, e sua mãe morta, ela e o pai iniciam uma fuga frenética.

Absolutamente nada em "Chamas da Vingança" faz sentido. Cada cena parece saltar para a seguinte sem que ela tenha qualquer consequência. É como uma coleção de sketches costurados de qualquer jeito em algo que se assemelha a um roteiro. Dá tristeza.

Calma, fica pior. Zac Ephron está à frente de um elenco que é uma verdadeira nulidade dramática. Existe um assassino que também tem poderes (embora nunca fique claro quais) interpretado por Michael Greyeyes, provavelmente o ator mais inexpressivo da história.

Gloria Reuben faz a líder da agência que persegue a paranormal. Mas se a personagem possui alguma motivação, ela achou por bem não compartilhar com o público. Já a estreante Ryan Kiera Armstrong, que interpreta Charlie, digamos que ela grita bem.

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O diretor Keith Thomas brinca com fogo em 'Chamas da Vingança'
Imagem: Universal

Para um filme lançado em 2022, "Chamas da Vingança" traz uma produção muito pobre. As escolhas visuais são datadas, os efeitos especiais não convencem e toda a atmosfera remete a filmes feitos para a TV três décadas atrás. Não há muita diferença aqui da adaptação anterior, de 1984, com Drew Barrymore ainda criança.

Se o clima nostálgico é intencional ou não, com sua trilha de sintetizadores assinada por John Carpenter, o fato é que mais uma vez a obra de Stephen King foi tratada como fim de feira, quando seu escopo deveria sugerir exatamente o contrário.

Sem um roteiro capaz de entender as sutilezas de sua obra, ou uma direção que possa conjurar tensão ou conexão emocional, sobra a "Chamas da Vingança" um futuro brilhante em listas de piores adaptações de Stephen King. Bem no fim de uma longa fila.