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Roberto Sadovski

Boataria, especulação, multiverso: o fã do Homem-Aranha precisa relaxar!

Colunista do UOL

12/12/2020 03h51

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É sempre a mesma história. Basta um filme que envolva personagens com uma base de fãs gigantesca começar a ser rodado, o festival de desinformação não está muito longe. No caso, o terceiro "Homem-Aranha" dentro do Universo Cinematográfico Marvel, que traz Tom Holland de volta como o Cabeça de Teia.

Como sempre, a Marvel mantém os detalhes do roteiro a sete chaves, o que não impede que a turma comece a praticar seu esporte favorito: especular. Mas tudo bem, é divertido, entretém a base e mantém a bola quicando até o gol - ou seja, até o lançamento da coisa toda. Quando o assunto é este novo "Homem-Aranha", porém, a diversão começa a tomar tintas de auto sabotagem.

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Tom Holland em 'Homem Aranha: Longe de Casa'
Imagem: Sony

O lance gira em torno de uma palavrinha: multiverso. A Marvel aos poucos foi deixando claro que a próxima porta a ser escancarada em sua saga conectada é a que sugere a existência de realidades paralelas, cada uma com regras próprias, em que personagens familiares tomam direções inusitadas.

"WandaVision", série da Disney+ que dispara a nova fase do estúdio, abraça essa noção. "Loki", também no streaming, idem. O terceiro "Homem-Aranha" (ainda sem título) vai no fluxo. E o título do próximo "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" deixa pouco espaço para sutileza. Na prática? Tudo pode acontecer.

Ao que parece, já esta acontecendo. Começou com Jamie Foxx revelando que reprisaria seu papel como o vilão Electro, visto em "O Espetacular Homem-Aranha 2", de 2014 - filme com nenhuma relação com a Marvel conectada no cinema. Recentemente, Alfred Molina e Kirsten Dunst, ambos das aventuras do herói nos filmes que Sam Raimi dirigiu entre 2002 e 2007, também entraram na porta giratória dos boatos. Muito "fã" se derrete com a possibilidade de um trisal com Tom Holland e os Aranhas de Natais passados, Tobey Maguire e Andrew Garfield.

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Alfred Molina como Dr. Octopus em 'Homem-Aranha 2'
Imagem: Sony

O cínico em mim acha tudo uma péssima ideia, uma piscadela ao famigerado fan service, em que boas histórias são sacrificadas para agradar a uma turma ínfima que quer gritar sozinha no cinema ao surgimento de qualquer faísca pertencente aos entusiastas mais radicais.

É como uma frase em "X-Men", de 2000, em que Ciclope, ao responder a Wolverine quando o moço das garras reclama dos trajes de couro, pergunta se ele "prefere colante amarelo". O diálogo é constrangedor e não faz o menor sentido, mas Billy Sardento certamente encarnou o Chris Evans em "Os Vingadores" e bradou: "Entendi a referência".

Criar filmes com propriedades intelectuais banhadas na cultura pop é sempre complicado. Existe a necessidade em construiu uma narrativa que funcione no cinema, sem entretanto alienar os iniciados. A Marvel geralmente acerta, a DC nem tanto. Mas no geral é bacana quando as mídias ficam bonitinhas bem separadas.

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Charlie Cox como o Demiolidor na série da Netflix
Imagem: Netflix

O problema é o jogo do adivinha. Como nenhuma informação sobre Foxx, Molina, Dunst, Emma Stone, Charlie Cox (o Demolidor da série da Netflix), Maguire ou Garfield é oficial, cada fã tratou de construir uma trama na própria cabeça. O que é inofensivo, mesmo quando são blogueiros e youtubers sem noção que ganham uns trocados inventando informações. Mas potencialmente pode estragar a própria experiência de quem já imagina um começo, meio e fim para um filme que pode trazer algo totalmente diferente.

Oficialmente, o terceiro "Homem-Aranha" (que divulguem logo o título!) tem Tom Holland, Marisa Tomei, Zendaya, Jacob Batalon e a adição de Benedict Cumberbatch, reprisando o papel de Doutor Estranho. Todo o resto, se amarrados em um roteiro que faça sentido, pode resultar em uma aventura diferente e divertida. Eu confio na Marvel. O fã, essa entidade que fica estressada com uma foto vazada de um set de filmagem, definitivamente precisa relaxar. Ou acabar de vez.