Diretora usa processo de transição de gênero para criar show de stand-up

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Talvez você não esteja ligando o nome a pessoa, mas a probabilidade de você ter consumido um filme dirigido pela cineasta e roteirista Ale McHaddo é enorme. Três de seus longas ("O Amor Dá Trabalho", "Amor Sem Medida" e "Meu Cunhado é um Vampiro") figuraram durante vários dias entre os mais vistos na Netflix Brasil.
Com uma sólida carreira no cinema, Ale também é uma das maiores referências em animação no Brasil, sendo responsável por produções infantis bem-sucedidas, como "Osmar, a Primeira Fatia do Pão de Forma" e "Nilba e Os Desastronautas". Logo após a pandemia, Ale passou por uma transição de gênero, o que a fez, involuntariamente, alçar novos voos profissionais: ela estreou como comediante de stand-up.
Para responder questões indiscretas e invasivas sobre como foi o processo de transição, Ale se valia de piadas para saciar a curiosidade alheia. Quando deu por si, percebeu que tinha um espetáculo de humor em mãos. Foi dessa forma que nasceu o "Transbordando", show que ela apresenta nesta sexta (20) em São Paulo. "Ouvi muita pergunta grosseira e sempre usei respostas ácidas e senso de humor para sair dessas situações", explica. "Se não fosse o humor, não teria conseguido enfrentar um monte de desafios após a transição e não teria chegado bem até aqui."

Ale explica que ao longo dos 60 minutos de "Transbordando", ela não faz humor autodepreciativo. "Meu espetáculo é mais na linha: vivemos numa sociedade muito esquisita, completamente ferrada da cabeça, então, vamos rir disso juntos", esclarece. "Não me coloco no lugar de riam de mim, porque sou uma mulher trans, mas, claro, que conto peculiaridades da minha história, já que fui casado com uma mulher até os 40 e poucos anos. Faço comparativos entre minha vida de antes e a de agora."
Ale conta que, na plateia de "Transbordando", há sempre pessoas de diferentes orientações sexuais. "Já fiz show para público totalmente heterossexual", lembra. "É importante dialogar com esse público mais tradicional, que não está acostumado a consumir comédia mais inclusiva. Para nossa comunidade ter visibilidade, temos que focar em que não é LGBTQIAPN+, porque não adianta catequisar quem já é catequisado."
Desde que transicionou, Ale começou a vivenciar desrespeitos típicos que mulheres sofrem em seu dia a dia. Ela relata que, logo que assumiu a identidade feminina, passou a ter a sua autoridade questionada em alguns ambientes de trabalho e se viu na necessidade de justificar suas escolhas criativas. "Quando eu tinha barba, falava uma coisa e aquilo que eu pedia era feito. Agora que sou mulher, comecei a ser interrompida e tenho que mostrar que sou duas, três vezes melhor do que eu era."
Serviço - Ale McHaddo em Transbordando
Quando: Sexta, 20 de Junho de 2025 às 23:30
Onde: My F Comedy Club (Alameda Santos, 1518 - Cerqueira César - São Paulo)
Classificação: 18 anos
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