Ricky Hiraoka

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Opinião

Grandiosa e bem-feita, 'Guerreiros do Sol' enfrenta desafio de ser popular

Assistir aos cinco primeiros capítulos da novela "Guerreiros do Sol" é como entrar numa máquina do tempo e ser transportado para o início dos anos 2000, período que a Globo costumava estrear minisséries de época realizadas com grande esmero e cuidado. Fazem parte dessa leva as ótimas "A Muralha" e "A Casa das Sete Mulheres", e a incompreendida "Os Maias".

Grandiosa e bem executada, "Guerreiros do Sol" reúne as qualidades técnicas e artísticas que imperavam nos projetos de dramaturgia da Globo. A terceira novela original da Globoplay, disponível a partir de hoje, mostra que a emissora carioca é imbatível quando deseja desenvolver uma produção que encha os olhos do público.

A direção precisa e hipnotizante de Rogério Gomes arrasta o espectador para dentro da trama de "Guerreiros do Sol" que, diferente de outros folhetins feitos para o streaming, não entrega uma história fácil e não gera aquela necessidade de maratonar os capítulos de uma só vez. "Guerreiros do Sol" é uma obra para ser degustada aos poucos.

Partindo de uma premissa relativamente simples, o amor entre os sertanejos Rosa (Isadora Cruz) e Josué (Thomas Aquino) que tem como grande impedimento os desmandos do Coronel Eloi (José de Abreu), "Guerreiros do Sol" tem uma narrativa um pouco mais lenta em comparação às produções do streaming.

Esse ritmo se faz necessário para que as relações entre os personagens se estabeleçam de um modo mais natural e para que o espectador entenda as camadas e as motivações dos tipos quem compõem a história. A mocinha da trama, Rosa, por exemplo, não é tão inocente e romântica quanto às protagonistas que costumamos ver em folhetins de época, e Josué, o herói da vez, está longe de ser um poço de virtude.

Além disso, a narrativa menos apressada ajuda a contextualizar melhor o universo onde "Guerreiros do Sol" se desenrola: o sertão nordestino entre as décadas de 1920 e 1930, que é palco do Cangaço.

Jânia (Alinne Moraes) em 'Guerreiros do Sol'
Jânia (Alinne Moraes) em 'Guerreiros do Sol' Imagem: Estevam Avellar/Globo

A novela apresenta outra qualidade que tem se tornado cada vez mais rara na teledramaturgia: diálogos bem lapidados, que flertam com a poesia em diversos momentos e evitam a redundância. A produção da Globoplay não é o tipo de entretenimento que propicia o consumo de olho na segunda tela. Ela exige foco total não só para compreender os detalhes da trama, mas também para admirar a fotografia, o figurino e a direção de arte, que são extremamente caprichados.

Todos esses predicados de "Guerreiros do Sol", porém, podem gerar um efeito inesperado: afugentar o público, que se acostumou nos últimos anos a assistir produções mais simplórias e que demandam menos atenção.

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"Guerreiros do Sol" não é um produto erudito, mas também não pode ser classificado como popular. A novela é sofisticada na medida certa, entrega uma história interessante e boas interpretações, como as performances de Irandhir Santos, Nathalia Dill, Alinne Moraes e Daniel de Oliveira, Alice Carvalho e Vitor Sampaio. Se você não se apaixonar logo de cara por Guerreiros do Sol", dê uma chance à produção, que, certamente, vai lhe conquistar capítulo após capítulo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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